Rihanna- Unapologetic
Esta semana analiso Unapologetic, o novo álbum de Rihanna, o 7º em 7 anos de carreira. Não posso dizer que esteja ansioso por ouvir novos temas seus, mas estou curioso por descobrir o que esta era significará para ela. Para mim, neste momento, Rihanna é sinónimo de confusão. Não o devia ser, mas apenas tenho dúvidas e inquietações que a sua omnipresença me coloca. Será que Unapologetic fará com que eu a compreenda? Vejamos:
1) Phresh Out the Runway- É de forma pouco animadora que entro no universo do álbum. O primeiro prato serve um preparado à base de batidas urbanas, atitude a rodos e muitos palavrões à mistura, confeccionado por The-Dream e David Guetta (não percebo bem onde é que este último entra, mas não aplica aqui o seu toque de Midas). Talvez vá lá com o tempo, mas por enquanto esta fusão de hip hop e electrónica custa-me a digerir. (6,5/10)
2) Diamonds- O 1º single extraído do álbum é o melhor que lhe podia ter acontecido nesta fase da sua carreira. O mundo não aguentava um novo hit dance pop desprovido de sentimento: eis então que Rihanna volta a mudar as regras do jogo e lança algo que ninguém achava ser possível em tão pouco tempo. Sia não só escreveu a letra como parece que lhe ensinou uns truques vocais. Foi este o tema que me levou de novo a ter esperança numa artista que me vinha a desiludir. (8,5/10)
3) Numb- Naquela que é a primeira colaboração de Rihanna e Eminem desde o enorme êxito de "Love the Way You Lie", a fasquia está bastante elevada. Seria de pensar que a receita se repetisse, mas aquilo que encontro é completamente o oposto. Há hip hop puro e duro, repetições prolongadas à exaustão e a participação de Eminem passa despercebida. Rihanna mostra de que calibre é feita e até me deixa a modos que impressionado. (7,5/10)
4) Pour It Up- Chegado ao 4º tema começo a pensar que ela ensandeceu de vez. Deparo-me novamente com um tema hip hop algo gangsta e muito pouco feminino. É o pior tema do álbum e completamente indispensável, mas, ao contrário do que seria de esperar, não me sinto desiludido: Rihanna está-se a marimbar para o que é comercial e sai-se com temas inesperados, em territórios pouco explorados. Era exactamente isso que eu queria ouvir. (5/10)
5) Loveeeeeee Song- Confesso que o título me induziu em erro e pensei estar perante uma daquelas canções tontinhas de amor. Não podia estar mais enganado. Aquilo que encontro é um tema hip hop repleto de substância, com letra confessional e uma participação muito interessante do rapper Future, desconhecido até ao momento. É intenso, inesperadamente revelador e uma das surpresas do álbum. (8/10)
6) Jump- Logo agora que estava gostar do rumo interessantíssimo que o álbum estava a tomar, Unapologetic entra por caminhos seguros que desembocam numa pirotecnia de dubstep, cortesia da dupla perita no assunto, Chase & Status. Seria de esperar que estes dois viessem dar um valioso contributo, mas, em vez disso, apresentam-se ao serviço com um tema que fica muito aquém do que são capazes. É uma pena. (6,5/10)
7) Right Now- A redenção (?) de David Guetta dá-se ao 7º tema conforme as escrituras naquele que apelido como o momento "Where Have You Been" do novo álbum. É previsível e banal, mas não deixa de ser eficaz, o que o torna uma óbvia escolha de single. Espero que tal não aconteça, pois Unapologetic já provou que tem muito mais para dar. Já agora, foi uma pena Calvin Harris não estar disponível, pois certamente teria feito um trabalho melhor do que Guetta. (7,5/10)
8) What Now- Não é lá muito prodigioso avançar para um tema com um nome muito semelhante ao anterior, daí que o seu título encaixe na perfeição naquilo que estou a sentir. Tal pensamento se desvanece quando esbarro com a força que ele emana. Fazendo-me recuar à era de Loud, "What Now" é um estupendo tema que põe à prova as cordas vocais de Rihanna e que mostra uma vulnerabilidade que há muito tempo já não se lhe ouvia. Grande grande momento. (8,5/10)
9) Stay- Nem nos meus melhores sonhos imaginei que um dia Rihanna iria lançar um tema assim. Já lhe ouvimos muitas baladas, mas não nenhuma como esta: construída à base de voz e piano e emocionalmente devastadora. Como se não bastasse, tem a participação do ilustre desconhecido Mikky Ekko que eleva o tema a outra dimensão. É o seu momento Adele e, no meu entender, leva o título de melhor tema do álbum. (9/10)
10) Nobody's Business- Se as letras de Unapologetic dão a entender ser inspiradas em Chris Brown, nada melhor do que o próprio aparecer na obra que "ajudou a criar". Apesar de ser um claro aviso às críticas da reaproximação de Rihanna ao cantor, não serve apenas para criar escândalo: é um dos momentos mais notáveis e contagiantes do álbum e evoca influências de Michael Jackson. É ouro sobre azul, brilhante em todos os aspectos. (8,5/10)
11) Love Without Tragedy / Mother Mary- No tema duplo dividido em 2 partes de 7 minutos, é capaz de ser atingido o pico da instrospecção sentida em momentos anteriores. "Love Without Tragedy" é uma pequena pérola que se extingue cedo de mais, dando lugar a um "Mother Mary" muito pessoal, mas que quase arruína um tema com uma primeira parte tão boa. Gostava de ver e ouvir até onde "Love Without Tragedy" poderia ter ido. (8/10)
12) Get It Over With- Destaca-se pela sua originalidade e pela onda relaxante, mas cedo se torna algo aborrecida. Dá-me a sensação que esta, ao contrário de "Love Without Tragedy", deveria sim ter servido como uma espécie de introdução e ter uma duração de apenas 2 minutos. De qualquer maneira, é um contraste agradável à já distante primeira parte do álbum. (7,5/10)
13) No Love Allowed- Já ouvi praticamente todos os estilos que habitualmente fazem parte do seu ADN, mas estava ainda em falta aquele que presta homenagem às suas raízes caribenhas: o reggae. É uma espécie de "Man Down" mas em ponto pequeno e é engraçada de se ouvir, nem que seja pela entoação que a cantora lhe dá. (7,5/10)
14) Lost in Paradise- Para o final está guardado um dos momentos mais instantâneos e bem conseguidos. Produzido por StarGate e Labrinth, "Lost in Paradise" é o único tema do álbum na onda da electrónica que consegue ser ousado e contagiante sem cair na banalidade. Desde os estupendos breakbeats ao delicioso "bass slap", tudo nele me cativa, colocando um ponto final num álbum que tem muito que se lhe diga. (8,5/10)
Unapologetic não é um dos melhores álbuns do ano, mas é sem dúvida alguma um disco inesperado de uma artista que ameaça constantemente ultrapassar os limites do aceitável. Digam o que disserem, Rihanna é a maior estrela pop dos últimos anos e este álbum vem provar o porquê: vejam como ela estica a corda, atacando vários estilos musicais com a perícia de um bulldozer e, mesmo assim, consegue obter resultados incríveis. Muito mais apelativo que o último Talk That Talk, este é o seu melhor trabalho desde a obra-prima alcançada com Rated R, demonstrando profundidade e maturidade a nível lírico e sonoro. Repleto de experiências, umas mais bem conseguidas que outras, é um salto evolutivo que me leva a crer que ela está a entrar num patamar superior a muitas das suas adversárias no campeonato pop: quantas delas seriam capazes de fazer um disco assim? O melhor de tudo é que recuperei a minha confiança nela, abalada desde o início do ano: vivia um conflito interior que me impedia de continuar a gostar dela, devido à banalidade em que a sua carreira havia mergulhado. A Rihanna de Unapologetic voltou a ser a Rihanna por quem me apaixonei e, mesmo não voltando a ser fã como antigamente (a idade dos fanatismos já lá vai), ganhei de novo admiração e respeito por ela. Assim, vale a pena.
Classificação: 7,6/10
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