Christina Aguilera- Lotus
Eis que chega o momento de analisar o novo álbum de Christina Aguilera, Lotus, um dos discos por que mais aguardei durante todo o ano. É do conhecimento de todos a situação incerta que Xtina atravessa, daí que Lotus seja extremamente decisivo para o rumo da sua carreira. Será este mais um tiro no escuro ou a tão desejada luz ao fundo do túnel? É o que estou prestes a descobrir:
1) Lotus Intro- O que à partida passaria por uma das habituais introduções com que a cantora nos costuma brindar, é, de facto, um tema completo. Sob uma ténue camada de electropop chill out, Xtina inicia o álbum de forma majestosa, num tema em que renascer é a palavra de ordem. Algo me diz que o que se segue vai ser digno de nota. (8/10)
2) Army of Me- Não demora muito para que Christina solte o vozeirão e a fera que há em si. Aquele que a própria descreve como um "Fighter 2.0" é isso mesmo: um hino de auto-estima e força interior, regado com uma interpretação inflamada. Não iguala a excelência do original de há 10 anos atrás mas é digna de aplausos. (8/10)
3) Red Hot Kinda Love- Depois de uma imponente introdução e de um poderoso hino, deparo-me com um fascinante colírio pop no qual a cantora parece recuar à era das paixonetas de adolescente. É leve, divertido, atrevido q.b e completamente irresistível. Há quanto tempo não a viamos assim tão solta? (8,5/10)
4) Make the World Move- À primeira audição pareceu-me ser o tema mais avassalador de todos, contudo, após mais algumas audições, perdeu algum do seu encanto. Melodicamente é arrasador, apenas torço o nariz à contribuição de Cee Lo, cuja voz é aqui desperdiçada. Por que não fazer uso das potencialidades vocais dos dois em vez de se esfumarem em auto-tune? Não obstante isso, é mais um óptimo tema. (8/10)
5) Your Body- Aquele que é o 1º single de Lotus é também o primeiro tema que se insere na categoria "sonicamente bombástico". Max Martin e Shellback fazem a cama onde Xtina, em modo sensualona e com as garras de fora , se deita e o resultado, apesar de extremamente satisfatório, não é tão impressionante quando comparado com os temas anteriores. O que o salva da banalidade é mesmo a sua interpretação aguerrida. Talvez se o 1º single tivesse sido outro, o cenário actual seria diferente. (7,5/10)
6) Let There Be Love- A mesma dupla de produtores que criou "Your Body", assina também este colosso dance pop, mas com resultados muito mais devastadores. "Let There Be Love" foi feito para agradar às massas, não sendo nada que não tenhamos ouvido antes. A diferença está no poder vocal da cantora, que dá 10 a 0 aos temas do género. Em caso de emergência (leia-se se tudo o resto falhar), isto deve ser transformado urgentemente em single. (8,5/10)
7) Sing for Me- Aqui está a grande balada que tardava em aparecer. Christina Aguilera dá outra dimensão à expressão "cantar com as entranhas" e atinge toda e qualquer nota musical destinada a causar arrepios na espinha. Pode ser entendido como um agradecimento aos fãs e como um desabafo relativamente às constantes críticas a que é sujeita. (8/10)
8) Blank Page- As baladas tardaram, mas parecem impôr-se de vez. "Blank Page" tem Sia ao comando da escrita e de novo uma Christina que canta de coração na boca, emanando notas capazes de fazer tremer a terra. Alusivo a erros do passado e ao desejo de começar de novo, Xtina encontra aqui a rendenção. E eu rendo-me totalmente àquele que é o momento mais belo de Lotus. (9/10)
9) Cease Fire- Ok, já vi a Aguilera atrevida, inflamada, baladeira e à procura do perdão. Faltava só o quê? Pois claro está, a Aguilera inovadora. "Cease Fire" pode muito bem ser a surpresa do álbum: sob a produção do talentoso Alex da Kid, e um pano de fundo hip hop e militar, a cantora mostra de que fibra é feita e apela à paz, não mundial mas da sua vida sentimental e artística. Não esperava por uma destas. (8,5/10)
10) Around the World- Não sei se é por querer ser uma espécie de Pitbull no feminino, mas este parecer ser o tema mais desinteressante de todo o álbum. Temos de novo uma Xtina depravada ao volante com desejo de carimbar o seu amor pelos quatro cantos do mundo. A única centelha de interesse é o verso que faz referência a "Lady Marmalade". (7/10)
11) Circles- Auuchh, que esta é forte. O tom pode ser leve e despreocupado, mas a letra está repleta de mensagens bastante explícitas. Alex da Kid assina e Christina subscreve sem qualquer pudor ou meias palavras. Se dúvidas houvesse, oiça-se o gigantesco "Mutherfucker" que remata um tema digamos que huumm... interessante. (8/10)
12) Best of Me- Se "Army of Me" é um "Fighter 2.0", então este "Best of Me" pode ser descrito como um "Beautiful 2.0". Óbvio que nem lhe chega aos calcanhares, mas a mensagem é a mesma. Adquirindo uma postura auto-defensiva e amargurada, Xtina torna-se à prova de bala e promete não voltar a vergar. É a terceira e última balada, talvez a menos inofensiva das três. (8/10)
13) Just a Fool- Uma vez que já tinha colaborado com Adam Levine e agora com Cee Lo Green, ficava só a faltar Blake Shelton, o único jurado do The Voice com quem ainda não tinha feito parelha. "Just a Fool" é o momento mais inesperado de Lotus, no qual a cantora se atira destemidamente ao território country. Noto semelhanças com o tema "What's Up" das 4 Non Blondes, da qual fez parte Linda Perry, sua habitual colaboradora. Este sim, é um dueto justificado e que fecha o álbum com chave de ouro. (8/10)
Aproveito ainda para ouvir os temas bónus - "Light Up the Sky", "Empty Words" e o delicioso "Shut Up" (que está para Lotus como "Bobblehead" esteve para Bionic) - e verifico que todos eles poderiam constar no alinhamento principal.
Chegado ao fim do álbum, posso afirmar plenamente que Christina Aguilera regressou em máxima força, à prova de bala e em modo indestrutível. Mas Lotus é muito mais do que um regresso, é um tremendo grito de afirmação contra todos aqueles que duvidaram das suas capacidades e que a colocaram num baú de recordações. É também um disco pensado ao pormenor para lhe proporcionar um estupendo regresso: não há sonoridade que fique por experimentar e nota musical que fique por cantar, daí que ficarei chocado se um álbum em que todos os temas são potenciais singles se revele um fracasso. "Red Hot Kinda Love", "Blank Page" e "Cease Fire" são aqueles que mais se evidenciam e creio que Xtina teria muito a ganhar se os lançasse como futuros singles. Nesta fase que é completamente crucial na sua carreira, pode-se dizer que Christina decidiu recomeçar do zero e apresentar-se novamente ao mundo, e em especial a uma nova geração de ouvintes que não a conhece, o que é o mais acertado que poderia ter feito. Resultado: Lotus não só é o seu álbum mais coeso e poderoso desde Stripped, como é um dos melhores álbuns pop do ano. Para quem tinha dúvidas, Christina Aguilera ainda é uma das artistas mais incríveis da actualidade. Aplaudo de pé aquela que continua a ser, sem sombra de dúvida, a grande voz da minha geração.
Classificação: 8,1/10
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