REVIEW: Frightened Rabbit- Pedestrian Verse

 
A respeito de um post recente no qual relatei as minhas últimas descobertas musicais, dei de caras com os Frightened Rabbit. Nunca antes tinha ouvido falar deles mas bastou-me ouvir dois temas seus para perceber que têm algo de especial a correr-lhes nas veias. Disse também que era capaz de ouvir Pedestrian Verse, o seu novo álbum. E aqui estou eu, na minha análise mais aventureira à data, rumo ao desconhecido. Vamos a isto:
 
1) Acts of Man- O primeiro tema do álbum é um testemunho de um homem arrependido que chora os seus erros e promete tornar-se melhor perante a pessoa que ama. É um bom arranque que em certos momentos me faz lembrar uns Mumford & Sons mais contidos. Mas virei a descobrir que eles são bem distintos. (8/10)
 
2) Backyard Skulls- Não é preciso muito para chegar à conclusão de que Pedestrian Verse lida, na sua maioria, com fantasmas do passado. Estas "ossadas enterradas nas traseiras" são embrulhadas de forma apetecível, com guitarras certeiras e polvilhadas pelo discreto sotaque escocês do vocalista. Dou por mim a pensar que isto cantado ao vivo seria ouro sobre azul. (9/10)
 
3) Holy- Aqui o vocalista confessa não temer a solidão, dispensar almas santas e estar grato pelas peças incompletas que o compõem. É mais um óptimo tema em que as guitarras ocupam papel de destaque. E à 3ª canção tenho a certeza que não me vou arrepender de ouvir o álbum. (8/10)
 
4) The Woodpile- Foi talvez o tema mais memorável em cada audição que fiz de Pedestrian Verse. É absolutamente impecável, com um refrão brilhante e guitarras estridentes mas sem roçar o exagero. Fala de solidão mas alimenta a esperança, tendo sido traçado na medida perfeita. (9/10)
 
5) Late March, Death March- É mais um grande tema cuja força reside nos seus versos: estou perante um discurso inflamado de um homem que, ciente dos seus erros, caminha sem medos e sem a mão de Deus rumo a um destino que terá de enfrentar. Entendo-o como uma extensão de "Acts of Man", mas mais ampla, sincera e sem ponto de retorno. (9/10)
 
6) December's Traditions- Sendo escoceses, poderia ser relativa às tradições próprias da época natalícia, mas nem por sombras é o que parece. Interpreto-o como sendo dos temas mais irados, no qual o vocalista se questiona o que espera dele a sua cara metade. Está visto, este senhor sofre de um grande mal de amor. E de compreensão. (8/10)
 
7) Housing (In)- Estávamos a caminhar em direcção a um álbum quase perfeito e agora este semi-tema é um pequeno acidente de percurso. Apesar da curta duração e da lengalenga contagiante, não percebo o porquê da sua inclusão. (8/10)
 
8) Dead Now- O título mortiço não condiz em nada com o espírito do tema. Sim, o vocalista afirma estar morto para vida e consciente de que existe algo de errado em si, mas tudo isto é embrulhado de forma bastante risonha, o que me leva a crer que será apenas um estado momentâneo e não algo mais profundo. Gosto particularmente do solo de guitarra final. (8/10)
 
9) State Hospital- Foi com este tema que os descobri e conquistaram-me desde então. Aqui o vocalista deixa de ser o foco das atenções e narra uma história no feminino, repleta de desgraça e adversidades várias. Podia ser depressiva, não fosse o tom luminoso com que é contada e o vislumbre de luz ao fundo do túnel. Caramba, é bonita. (10/10)
 
10) Nitrous Gas- Acho que isto é aquilo que se pode chamar uma balada no universo dos Frightened Rabbit. Desesperado e resignado, o vocalista dá a entender à sua cara metade para encontrar a felicidade noutro lado, já que ele é um poço de tristeza e só com os efeitos do gás nitroso é que poderá sorrir. Tem o seu quê de patético, mas desperta compaixão. E é uma bela balada. (9/10)
 
11) Housing (Out)- O que pode ser pior que cometer um erro? Cometê-lo duas vezes. Desta vez a duração é ainda mais breve, mas estas lamúrias do "não me tirem a casa" são completamente despropositadas. Terá sido para falta de ideias? Só não lhe dou a nota que merece porque o que mostraram até aqui foi muito bom. (7/10)
 
12) The Oil Slick- É sem mácula alguma que se desenha o derradeiro tema de Pedestrian Verse. Estão aqui reúnidos todos os fantasmas que povoaram os temas do álbum, simbolizados na tal mancha de óleo que tolda a visão do vocalista. Mas, no final, há esperança: "There is light but there's a tunnel to crawl through, there is love but its misery loves you. We've still got hope so I think we'll be fine, in this disastrous times, disastrous times". Temos herói. (9/10)
 
É incrível como um simples clique pode significar tanto. Um clique e mera esperança. O clique que me levou a ouvir "State Hospital" e a conhecer mais uma banda. A esperança que guardo na mão e que me dá alento para descobrir novos sons, novos artistas, na esperança de que me proporcionem algo único. É precisamente isto que Pedestrian Verse representa para mim. Os Frightened Rabbit vivem sob o rótulo de indie rockers como tantos que andam por aí, mas nem por sombras significam o mesmo que todos eles. Ao ouvi-los senti que não estavam confinados a um género, apesar de todo o álbum ser coeso e talhado da mesma madeira. Porque a boa música, a genuína, não vive de rótulos nem de falsas pretensões - sente-se cá dentro. E eu senti os Frightened Rabbit, compreendi a sua essência. Não interessa se apenas os descobri agora, o importante é que fazem sentido na minha vida. Agora. Neste preciso momento.
 
Pedestrian Verse simboliza a caminhada de um homem infeliz e desperado, que perdeu o rumo mas que reúne forças para se erguer. E que luta para se tornar um homem melhor. É obscuro e deprimente por vezes, mas nunca fecha totalmente a porta.  Deixa escapar sempre um fino raio de luz e a promessa de que vale a pena agarrarmo-nos a ele, por mais ténue que seja. Haverá lá melhor disco para os tempos que correm? Encontrei uma grande banda e um grande grande álbum.
 
Classificação: 8,5/10

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