Encruzilhada

Editors- "Papillon"
In This Light and on This Evening (2009)
 


Ultimamente vejo-me rodeado por dúvidas existenciais. Cercam-me, consomem-me e aterrorizam-me a cada dia que passa, ao ponto de apenas conseguir dissipá-las quando estou em contacto com música, nomeadamente, neste blog. Daí que tenha sentido uma necessidade urgente de fazer este post.
 
Já aqui tinha dito há uns tempos atrás: estou a terminar um ciclo da minha vida, o único que vivi até aos dias de hoje, e prestes a iniciar um outro, que desconheço inteiramente e que corresponde à minha passagem à vida adulta. Simplificando: o ciclo terminal conclui-se com a saída da faculdade e o que está para vir diz respeito a tudo o que aconteça daí em diante.
 
E dou por mim a pensar que os 21 são uns segundos 18, essa simbólica idade que tantos temem. Não sei se serei o único a pensar assim, mas senti-me terrivelmente frustrado com os meus 18: não foram nada daquilo que prometeram que ia ser, bem pelo contrário, foram uma época que detestei. Mas os 21, esses, têm sido uma montanha russa de emoções.
 
É então aí que faço um pequeno exercício mental: recuo aos meus 18 e recordo onde imaginava estar aos 21. A concluir o meu curso. Estando mais feliz do que era na altura. Rodeado de um fiel grupo de amigos melómanos. Num sítio onde me inserisse na perfeição. Que este blog se tivesse tornado bastante popular. Que tivesse encontrado o meu caminho. Pois bem: quase nada disto se realizou.

Vejamos: estou no bom caminho para terminar o curso. A felicidade é subjectiva, mas na maioria das vezes, sinto-me incompleto. Amigos melómanos nem vê-los. Integrado na sociedade? Tem dias. O blog evoluiu em qualidade mas continua tão desconhecido quanto antes. E encontro-me às voltas num labirinto sem fim, em busca de um caminho. Do meu futuro.

De facto pouco mudou desde os meus 18, desde que entrei para a faculdade. Na altura enfrentei um dos períodos mais tenebrosos da minha existência e foi nessa fase que encontrei os Editors. Os seus temas densos, encorpados e um tanto ou quanto obscuros ajudaram-me a enfrentar o novo rumo que a minha vida tomava. De "Bullets" a "You Don't Know Love", fiz da sua inteira discografia a minha banda-sonora para aquele período da minha vida.

Com o fim iminente deste ciclo, vejo-me novamente rodeado pelas mesmas incertezas, mas agora de forma muito mais assustadora. Tal como no vídeo deste "Papillon", também eu sinto que corro interminavelmente numa maratona que cada vez me faz menos sentido. Porque cada passo que dou conduz-me a à encruzilhada do costume.

No entanto, o Gonçalo de 18 nem por sombras é o mesmo Gonçalo com 21. Conheço-me melhor do que antes, sei aquilo de que sou capaz e tenho orgulho da pessoa que me tornei. Independentemente do que aconteça, não voltarei a sentir-me tão miserável como naquela fase. Sim, sei quem sou. Apenas não sei para onde vou.

Aprendi a fazer do medo um aliado, mas tal não significa que saiba o que devo fazer. Assusta-me pensar que em breve terei que fazer escolhas que mudarão a minha vida para sempre. Não quero ir contra os meus princípios, nem abrir mão dos meus sonhos. Daqui a 20 anos quero olhar para trás e dizer: fiz a escolha certa. Fui, sou e serei feliz.

Bem sei que mais tarde ou mais cedo sairei desta encruzilhada. Até lá, continuarei a ter insónias de noite, questionando cada passo que dou, agarrado aos sonhos que guardo no peito. No final do dia, é este blog que me faz feliz: transcende-me enquanto pessoa, completa o vazio que sinto. Uma vez mais, graças a ele, acabo de exorcizar os meus tormentos. Venha de lá a saída desta encruzilhada.

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