REVIEW: Bombay Bicycle Club- So Long, See You Tomorrow


Preparo-me para ouvir o 4º longa-duração dos britânicos Bombay Bicycle Club que, na verdade, é também a 4ª vida de um grupo em constante mutação sonora. So Long, See You Tomorrow chega 2 anos e meio após o último A Different Kind of Fix (2011) - a pausa mais longa que já fizeram entre discos - é o primeiro com produção a cargo de um membro da banda e foi inspirado pelas viagens que o vocalista fez a destinos como Índia, Japão ou Turquia. Vejamos o que me reserva:

1) Overdone- Logo a abrir sentem-se as influências orientais polvilhadas com bastante percussão e guitarras à mistura, que até acabam por não ter lugar de destaque no disco. Jack Steadman partilha o microfone com a mui talentosa Rae Morris, que amplifica e embeleza um tema tão gracioso e ao mesmo tempo com uma aguçada costela urbana. (8/10)

2) I'ts Alright Now- Não sei ao certo por qual cultura foi influenciado, sei apenas que é um belíssimo tema construído à base de vocal samples e percussão ligeirinha. O segredo deve estar na forma como a voz do vocalista se funde com a de Lucy Rose (a minha adorável Lúcia Rosa) principalmente no refrão, em que é praticamente impossível distinguir quem canta o quê. Muito muito bonito. (9/10)

3) Carry Me- Foi a canção que anunciou a regeneração sonora dos BBC. Há por aqui tanta mas tanta coisa a acontecer que será preciso uma vida inteira para compreender todas as suas camadas sonoras. Gosto dos sintetizadores mansinhos, aqui utilizados como se de uma cama tratasse, de modo a receber uma miríade de instrumentos de percussão e talvez um qualquer de sopro achado numa das muitas viagens de Jack. Guitarras não entram. É ambicioso e imponente. (9/10)

4) Home By Now- Algo me diz que a banda andou a escutar alguns discos de hip hop, pois ao longo do álbum encontro alguns elementos dessa estética. Neste tema, em específico, os plim-plim-plim-plins provenientes de uma caixa de ritmos, muito possivelmente, fazem-me lembrar "Homecoming" de Kanye West. Lucy Rose é de novo a parceira mais-que-perfeita para se enredar nos braços de Jack. (9/10)

5) Whenever, Wherever- ... where meant to be together, I'll be there and you'll be near and... Ops, canção errada! Bem, mas a premissa é a mesma. Começa de forma arrebatadora, com Jack a puxar pela textura delicada que há na sua voz, acompanhado apenas por um piano, mas logo de seguida acrescem sintetizadores, bateria e até algumas guitarras. A determinada altura aquilo corre o risco de se tornar num hino de estádio, mas de imediato cessa a cacofonia e o tema termina exactamente como começou. Óptimo trabalho de progressão e regressão. (8/10)

6) Luna- É completamente radioso e solarengo, o perfeito oposto do satélite terrestre a que faz alusão o título e que sugere uma sonoridade mais soturna/pacífica. Pois bem, "Luna" é indie pop soalheira perfumada com fragrâncias orientais e banha-nos a alma em todo o seu esplendor. E vejam como Rae Morris brilha, de forma tão intensa que eclipsa o próprio vocalista lá para o refrão. É a minha favorita do disco. (9/10)

7) Eyes Off You- É o tema que mais facilmente encaixo no antigo repertório da banda. E é também o mais melífluo do alinhamento, com Jack e Lucy a trocar juras de amor rodeados de um piano e pouco mais. A atmosfera celestial é apenas quebrada por uma pequena intromissão de guitarras, que pessoalmente acho demasiado agressivas para o espírito da canção. Ainda assim é uma bela faixa, que recebe um dos momentos vocais mais inspirados do disco. (8/10)

8) Feel- Próxima paragem: Índia. Há por aqui um encantador de serpentes à solta, muita percussão e sintetizadores nebulosos. É ritmicamente complexa e muito aventureira, mas extremamente apelativa e universal, assente no mantra "just one feeling". Viajei por destinos exóticos sem sair do mesmo lugar - quantas canções nos fazem sentir isso? (9/10)

9) Come To- Não sei se será apenas de mim, mas sinto aqui umas quantas vibrações de Radiohead. E no refrão parece-me que apontam para o campeonato dos Coldplay. É bonita, mas de certa forma não me soa a Bombay Bicycle Club. Talvez esteja desfazada do alinhamento. (8/10)

10) So Long, See You Tomorrow- Parece ser o tema perfeito para musicar o final desta viagem que bebeu de uma imensidão das culturas por onde passou. É uma espécie de odisseia sonora em que nos primeiros 4 minutos sinto uns vapores psicadélicos e nos últimos dois a coisa adquire contornos de rave indietronica. É um óptimo ponto final. (8/10)

5 anos e 4 álbuns depois, os BBC ganham uma renovada aura de interesse e assinam aqui o melhor disco do seu percurso. Tinha grandes expectativas para este So Long, See You Tomorrow e acabo a sua audição com a certeza de que estes rapazes estão no bom caminho para se tornarem numa das melhores bandas britânicas da actualidade. É um excelente disco para ouvir em viagem (ou não tivesse ele sido inspirado no decurso de uma longa jornada turística) repleto de texturas e detalhes instrumentais que fazem com que cada nova audição seja uma descoberta. É também muito inteligente da sua parte procurarem vozes femininas para enriquecer as canções, tarefa que Lucy Rose - inequivocamente a alma gémea vocal de Jack Steadman - já desempenhava e bem, mas que a novata Rae Morris complementa de forma tão expansiva e luminosa. Ainda é cedo para dizer se figurará na lista de melhores discos do ano, mas certamente que me acompanhará por muitos e bons meses. So Long, See You Tomorrow and... too many times after that.

Classificação: 8,5/10

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