2017, Um Balanço Sónico- As Canções Nacionais

Creio que depois do boom criativo e produtivo sentido no panorama nacional durante a primeira metade da década, estaremos talvez a ressacar desse sentimento esfuziante que se traduziu em tanta e boa música. O que não significa que estejamos piores, apenas diferentes.

Todos os caminhos vão dar a "Amar pelos Dois", indubitável canção do ano, que nos proporcionou a gloriosa (e inédita) vitória no Festival da Eurovisão. É um momento que nos liga a todos enquanto povo e que para sempre guardaremos no coração. Uma canção que nasce da cumplicidade entre dois irmãos, despida de artifícios, e que arrebata a Europa inteira no palco de todos os artifícios. Salvador Sobral ensinou-nos tanto pelo caminho - e nunca lhe poderemos agradecer o suficiente. 

Richie Campbell continua a sua bem-sucedida mutação pelos caminhos do R&B e dancehall com um "Midnight In Lisbon" que traduz com precisão o que se passa lá fora com os gigantes da dita música urbana, enquanto que os Best Youth apuram a sua electropop dreamy com um "Renaissance" de encantos mil.

Os Vaarwell conquistam o seu espaço no panorama indie pop com a exploração celestial de "Homebound 456"; caímos todos na "Teia" de Bell sem saber muito bem como nem porquê, apenas que não conseguimos permanecer indiferentes à dengosa cama de batidas pop/trap, e abrimos uma qualquer porta para um universo desconhecido repleto de novos tons, sons e texturas ao som de "Hemma" de uma intrigante Surma. 

O virtuoso Mishlawi cortou a meta na recta final do ano com um espacial "Afterthought" que muito deve a Trace Nova, a reflectir o que de melhor se faz no circuito underground londrino; demos as boas vindas a Beatriz Pessoa a florescer nos terrenos do jazz com um etéreo "Disguise"; aplaudimos a segunda vida de Catarina Falcão com os Monday num garboso "Yo-yo" que soa à extensão eléctrica das Golden Slumbers, e percorremos estradas ao pôr-do-sol com um "Zowee" dos Ditch Days arrancado ao manancial indie rock dos The Smiths.

Bela colheita, esta: