Passagens

Por um ano que seja, gostava de arrumar as ideias e fechar o calendário com uma retrospectiva pessoal. "New Year's Day" de Taylor Swift dá o mote:



Somos tanto mais do que aquilo que aparentamos ser. Somos feitos pelos livros que lemos, pelos filmes a que assistimos, pela música que escutamos e pelas pessoas com quem nos cruzamos. A cultura entra e não sai mais da nossa vida, a não ser que queiramos (quer a memória a apague ou a falta de lotação da prateleira o dite) mas com as pessoas tende a ser mais complicado.

Não sei se é algo inerente a quem atravessa um quarto de século de existência, ou se tende a ser mesmo assim pela vida fora, mas a constatação de que as pessoas vão e vêem é um tanto dolorosa. Somos instruídos a pensar que, tal como no amor, a amizade é para sempre, mas a verdade é que nascemos sós e morremos sós - o que acontece pelo meio é que distingue a viagem terrena de cada um.

Culpa-se quase sempre a vida. Porque nos levou por caminhos diferentes. Porque não permitiu estreitar os laços de forma a que estes fossem inquebráveis. Mas a culpa é exclusivamente nossa. Porque não dissemos o que devíamos ter dito na hora certa. Ou tão simplesmente porque o dissemos na hora errada. O medo, o rancor e a teimosia tendem a meter-se no caminho e a toldar certezas que antes pareciam inabaláveis.

Devemos lutar pelas amizades. E, vamos encará-lo, nem sempre vai ser fácil porque implica uma certa parte de esforço, generosidade, afecto e paciência que poderemos não ter sempre na dose exigida para a ocasião. Mas o que recebemos em troca faz com que valha a pena. Pelo menos até fazer sentido. Outras alturas há em que o afastamento é inevitável e talvez não o venhamos a perceber logo, mas será o desfecho mais digno. 

As pessoas fascinam-me. Por vezes mais do que a própria música. A construção de uma relação humana, a partilha de interesses, a percepção da química e toda a satisfação que advém de perseverar e continuar a encontrar razões para permanecer ao lado de alguém. Mas desiludem-me também de uma forma que a música não é capaz. Continuo a não saber muito bem como lidar com isso: mesmo sendo um processo cíclico, nunca acontece do mesmo modo e conta com diferentes variantes.

Talvez o segredo esteja em aceitar o que de bom e mau as amizades acarretam. Saber aceitar a felicidade e a dor. Saber estar perante a presença e a ausência. Saber compreender tanto o silêncio como uma manifestação de amor. É uma aprendizagem contínua e, assim que a dominarmos, estaremos bem connosco e com tudo o que nos rodeia.

Para 2018 quero progredir nesse ensinamento, sentindo-me grato pelas pessoas que tenho ao meu lado, pelas que ainda luto por conservar e pelas que perdi. Porque todas elas foram importantes em algum momento do meu percurso e moldaram a forma como vejo e estou no mundo. Quero permitir-me sentir, sabendo que no final vou estar grato por não me ter fechado em mim mesmo. Quero celebrar de forma digna os dez anos do Into the Music. E quero acalentar a esperança de que o próximo ano vai ser "o tal". Que essa esperança nunca me abandone. Aliás, que nunca abandone nenhum de nós.

Bom ano, pessoal.

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