A revolução segundo as Blackpink


É preciso estarmos vendados ou vivermos em permanente negação para não querer aceitar o facto do k-pop se ter estabelecido como uma força mundial. "Gangnam Style" abriu a porta, a livre disseminação do streaming potenciou o fenómeno e grupos como BTS, Twice, EXO ou Blackpink convivem pacificamente nas tabelas de vendas com os nomes da indústria ocidental.

Por inclinação pessoal e porque a trajectória gloriosa assim o exige, iremos focar-nos no grupo formado por Lisa, Jisoo, Jennie e Rosé, que numa questão de dois anos se tornou na maior girlsband do planeta (lamento, Little Mix). Formadas em 2016 pela YG Entertainment, uma das três grandes agências do mercado sul-coreano, as Blackpink vieram ocupar o lugar deixado vago pelas 2NE1, até então a banda feminina de referência da editora e do público em geral. 

Enquanto o sucesso do grupo pode ter sido imediato, a dos seus membros não foi bem assim. Jennie assinou contrato com a editora em 2010. No ano seguinte chegaria a vez de Jisoo e Lisa. Rosé foi a última a chegar à YG, em 2012. O período de espera até ao estabelecimento do grupo foi passado em mentoria e formação, numa espécie de estágio duradouro que serviu para as jovens desenvolverem as suas aptidões, fosse em campanhas publicitárias, através de participações em séries, cameos ou colaborações em vídeos de outros artistas da editora. Um bootcamp impressionante para qualquer artista ocidental, mas que é prática recorrente na indústria do k-pop.

                                                              k-pop rose GIF

Assim, quando a estreia oficial chegou, em Agosto de 2016, o quarteto estava mais do que preparado. Square One, o primeiro lançamento do grupo, vinha artilhado com single duplo: de um lado o exotismo house de "Boombayah", do outro as sensibilidades hip hop diluídas em cama pop de "Whistle". Enquanto este último subia logo à liderança da tabela de singles sul-coreana, o par preenchia o primeiro e segundo lugares da tabela Digital World Songs da Billboard, um feito alcançado em tempo recorde para qualquer debutante k-pop.

Em Novembro desse mesmo ano chegava a investida número dois do quarteto, Square Two, também ele um díptico composto pelos singles "Playing with Fire", inescapável pedaço de house tropical, e "Stay", gentil balada pop de inclinação folk: novos êxitos de top 10 no top nacional e um novo nº1 na respectiva tabela da Billboard. O ano não fechava sem uma série de troféus importantes ganhos nas cerimónias da praxe. Projecto implementação mais do que bem-sucedido, portanto.

2017 foi o ano em que as Blackpink galgaram fronteiras, muito por culpa do charme de "As If It's Your Last", um híbrido house, reggae e moombahton que se tornaria o seu terceiro líder da tabela World Songs norte-americana e agraciaria o top 50 da tabela de singles tradicional do Canadá. O espectacular vídeo, desvendado em simultâneo com a canção, recolheu 13 milhões de visualizações no YouTube nas primeiras vinte e quatro horas, o segundo melhor registo à data para um nativo coreano. E hoje em dia tem qualquer coisa como mais de 500 milhões. Coisa pouca.

                                                              k-pop GIF

O furor não teve continuidade imediata, tendo sido preciso esperar um ano para assistir ao quarto comeback - utilizando a gíria própria do k-pop - das Blackpink. Torpedo trap sintetizado, "Ddu-Du Ddu-Du" chegava em Junho de 2018 para alargar o império e adensar o fenómeno em torno da banda, alcançando pela primeira vez a tabela de singles britânica (nº78) e a Hot 100 (nº55), garantindo a melhor posição de sempre para um grupo feminino na tabela norte-americana. O monumental vídeo angariava uns impressionantes 36 milhões de visualizações no YT nas primeiras vinte e quatro horas, estabelecendo um recorde absoluto para o filão k-pop que seria destronado dois meses depois por "Idol" dos BTS. Por arrasto vinha o EP de estreia do quarteto, Square Up, que alcançou posições em mercados como o da Suíça (nº24), Áustria (nº26), Hungria (nº28), EUA (nº40) ou Austrália (nº61).

O domínio mundial ficou comprovado quando em Outubro último o nome da girlsband surgia ao lado do de Dua Lipa no estrondoso "Kiss and Make Up", dueto bilingue dance pop de tempero dancehall que marcou a reedição do álbum de estreia do astro britânico e que, mesmo sem vídeo a acompanhar, deixou a sua marca em mais de trinta países, entrando para o top 40 em países como a Grécia, Estónia, Finlândia, Irlanda, Rússia, Portugal, Nova Zelândia, Suécia ou Reino Unido. No mesmo mês os planos de internacionalização do grupo avançavam com o anúncio da sua representação além-fronteiras pela Interscope Records. O ano não terminava sem a estreia a solo de Jennie com o catita "Solo" - coisa normal no k-pop, isto das incursões em nome próprio - e a edição de Blackpink in Your Area, o primeiro álbum em japonês da banda.

                                                              blink ddu du ddu du GIF

Em 2019, a internacionalização das Blackpink cumpre-se com o alargamento da primeira digressão mundial à América do Norte, Europa e Austrália, a estreia no circuito televisivo norte-americano em programas como o The Late Show de Stephen Colbert ou o Good Morning America, e sobretudo com o anúncio da sua inclusão no cartaz deste ano do Coachella, um feito inédito para um grupo feminino k-pop. Isto numa altura em que o vídeo de "Ddu-Du Ddu-Du" se torna no mais visto de sempre por um grupo sul-coreano e em que anunciam a edição de um segundo EP, Kill This Love, para esta sexta-feira, dia 5.

Onde irá este fenómeno parar? Ninguém sabe ao certo, apenas que estas meninas estão a escrever, juntamente com os BTS, um entusiasmante capítulo na história da música moderna. Blackpink cada vez mais na nossa área - e coração.

Comentários

Mensagens populares