Sons Frescos #51


A Primavera traz-nos uma dezena de canções em flor:

1) Foster the People- "Style"- Também a aderir ao movimento dos hiatos que não são bem hiatos porque metem música nova pelo meio, o quarteto revela o seu segundo inédito pós-Sacred Hearts Club, um que se aproxima um tanto da estética synth-rock dos Muse e que não encontra comparação no restante catálogo da banda. Percebe-se que estão a testar novos conceitos, mas é melhor afiná-los antes de se lançarem ao álbum.

2) Tame Impala- "Patience"- Kevin Parker e companhia devem ter matutado demasiadas vezes no caminho a seguir após Currents - voltar costas ao flirt com o mainstream e recuperar o nervo rock de outrora ou aceitar a mutação pop e embrenharem-se ainda mais a fundo nessa exploração? Para já a segunda opção parece ser a resposta, com este "Patience" a manter viva a lembrança dos Bee Gees e a ginga disco-psicadélica do último disco. Por agora serve, mas será preciso mais que isto. 

3) Zara Larsson- "Don't Worry Bout Me"- É aqui que as coisas começam a aquecer? Bet on that! Por mais que "Ruin My Life" fosse um tema decente, não concentrava força suficiente para liderar uma campanha promocional. Híbrido club-pop/dancehall, "Don't Worry Bout Me" tem créditos de Tove Lo na escrita, assinatura dos The Struts e uma apreciada política zero bullshit para com ex que ressoará entre o público à medida que trocamos o frio pelo calor. Se é o trono da pop internacional que Zara cobiça, serão singles como este que alimentarão as suas ambições. Nós agradecemos.

4) Lizzo feat. Missy Elliott- "Tempo"- Não se percebe muito bem como é que a América ainda não despertou para Lizzo, mas com temas deste calibre não deverá faltar muito. Terceira oferenda promocional de Cuz I Love You, "Tempo" reveste-se de influências bounce e pop-rap, reservando o derradeiro trunfo na participação de Missy Elliott naquilo que passava muito bem por um dos momentos mais inspirados do seu respeitável catálogo. 

5) Sky Ferreira- "Downhill Lullaby"- Seríamos tolos por pensar que seis anos de espera conduziriam a um tremendo single pop. No entanto, nada nos podia preparar para a espiral decadente de "Downhill Lullaby", que se arrasta de forma pesada e dolorosa durante cinco longos minutos e meio num misto de ambiência gótica e pop barroca, como se Lana Del Rey e os The Cure existissem na mesma galáxia sonora. Vai custar a digerir, mas deixará uma marca em 2019. 

6) Ruth B.- "Sycamore Tree"- Ruth B. não é nem por sombras a mais memorável das cantautoras pop surgidas nos últimos anos, mas há uma característica alada na sua voz e escrita que não devem ser ignoradas. Aconteceu com o inagural "Lost Boy" e repete-se neste magnífico "Sycamore Tree" retirado do recém-editado EP Maybe I'll Find You Again, a desenhar um universo particular sem tempo nem lugar em que queremos permanecer. Que bonito.  

7) Kelly Clarkson- "Broken & Beautiful"- A coisa mais excitante nos planos de Kelly Clarkson para 2019 deverá ser mesmo a estreia do seu talk-show em nome próprio, mas não coloquemos de parte a sua incursão pela animação digital em UglyDolls, em que emprestará a voz a uma das personagens principais. A experiência alastra-se, naturalmente, à banda-sonora, antecedida pelo radioso e optimista "Broken & Beautiful", alinhado por Marshmello e Steve Mac. 

8) Aly & AJ- "Church"- Para quem perdeu o fio à meada, Aly & AJ retornaram à vida depois de uma década de silêncio com um recomendável EP synthpop no final de 2017, e agora pretendem dar continuidade ao novo brio artístico com a edição de um segundo, Sanctuary, antecedido pelo confessional "Church", mais um notável exemplar de pop sintetizada que as devolve com primor à configuração musical dos nossos dias. 

9) Gabrielle Aplin- "Nothing Really Matters"- Gabrielle Aplin tornou-se numa presença discreta no panorama pop britânico, mas continua a fazer música digna de ser apreciada, agora no seu próprio selo, a Never Fade Records. "Nothing Really Matters" sucede à emotiva "My Mistake" na caminhada para o álbum nº3, desta vez entregue num luminoso jorro pop primaveril muito devedor de Sigrid, versando sobre colocar as coisas em perspectiva, dando importância ao que realmente apenas merece.

10) Pink- "Hustle"- Dois singles volvidos e o sucessor de Beautiful Trauma ainda está para provar a sua validade: "Hustle", enérgico pedaço de pop com gostinho vintage, avisa-nos pela enésima vez que Pink não é alguém com quem queiramos zombar: passa por uma recriação dos momentos menos ilustres de I'm Not Dead ou Funhouse - mas é o que se pode esperar quando a vemos colaborar com um produtor associado aos Imagine Dragons e com o próprio Dan Reynolds. Cruzes, canhoto. 

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