Os 50 Melhores Álbuns Internacionais da Década: 50º-41º


Começamos a conhecer a lista de álbuns que marcam os anos 10 na vida do escriba:


50º Sky Ferreira- Night Time, My Time (2013)


Antes de Night Time, My Time o ser, chegou a ser conhecido por Wild at Heart. Também por I'm Not Alright. E brevemente por I Will antes de assentar na designação final pela qual o mundo conhece o longa-duração de estreia de Sky Ferreira, ilustrado por um dos artworks mais censurados da década. A gestação turbulenta deu origem a um disco igualmente caótico e zangado - consequência dos sete anos que passou posta na prateleira pela editora - predominantemente indie rock com derivações grunge ("Boys"), noise pop ("Heavy Metal Heart"), new wave ("24 Hours", "Love in Stereo"), ska ("Kristine"), pós-punk ("Omanko") e enormíssimos momentos synthpop ("Everything Is Embarrassing", "I Blame Myself"), que espelhavam as inclinações do excelente EP Ghost (2012). Ninguém esperava um álbum tão desafiante e contestatário de Sky - e por essa razão continua a impor tanto respeito.


49º Tove Lo- Queen of the Clouds (2014)


São de Robyn os melhores álbuns pop suecos da década, mas Tove Lo tem os discos mais arrebatadores. Queen of the Clouds funciona como uma turbulenta jornada do coração, da acesa paixão ("My Gun", "Talking Body"), passando pelo amor que fere, rasga e queima ("Moments", "Got Love"), até à dolorosa (e inevitável) desvinculação ("Habits", "This Time Around"), etapas através das quais Tove circula sempre no fio da navalha, com desavergonhada honestidade. Não é alheio a uns quantos momentos que atenuam o entusiasmo, mas na sua globalidade é um magnífico álbum pop arquitectado na sua maioria por estetas suecos - militam os The Struts, Klas Åhlund, Mattman & Robin, Ali Payami ou Shellback - que tem o condão de soar como se o período entre 2004 e 2006 nunca tivesse passado de moda.


48º Kelly Clarkson- Meaning of Life (2017)


Meaning of Life é o som de uma mulher feliz, casada e mãe de dois filhos, livre do contrato limitador de vários anos da RCA Records, e realizada porque finalmente fez o álbum que sempre quis fazer, ancorado nas heranças soul e R&B com que cresceu, possibilitado por um novo vínculo contratual à Atlantic Records. Se essas não são razões suficientes para originar o seu melhor álbum lançado nos anos 10, escutem-se canções como "Heat" e "Love So Soft", singles fenomenais de pleno direito; hinos de auto-afirmação de dedo desafiador no ar e mão na anca como "Whole Lotta Woman" ou "Didn't I"; a sensualidade country de "Slow Dance", ou o novo standard baladeiro que é "I Don't Think About You", a merecer um lugar entre os clássicos do género de Whitney Houston ou Celine Dion. Caminhámos muito para chegar até aqui, não foi, querida Kelly? O momento (ainda) é de glória.


47º Banks- Goddess (2014)


Poucos álbuns de estreia nesta década souberam jogar tão bem com a antecipação como o de Jillian Banks, alvo de uma longa gestação de quase ano e meio que compreendeu sete (!) temas promocionais até à sua edição. Nem por isso o encanto se desvaneceu quando Goddess chegou por fim, munido de canções de electrónica abrasiva ("Waiting Game", "Brain"), de volúpia R&B ("This Is What It Feels Like", "Drowning") ou de tremenda vulnerabilidade em belíssimas baladas pop ("Someone New", "You Should Know Where I'm Coming From", "Under the Table"), fruto de um elenco de produtores de luxo que incluia Sohn, Lil Silva, Shlohmo, Al Shux ou Tottaly Enormous Extinct Dinosaurs. Em suma, um álbum distintivo num ano de boa colheita, que seria perfeito com uns dois ou três temas a menos. Vieste tu, feiticeira, inundar-nos de vida.


46º Ariana Grande- Thank U, Next (2019)


Em Agosto de 2018, Ariana Grande lançava um álbum pop arrojado em que tentava lidar com os efeitos do atentado de Manchester e que se tornava então no mais elogiado da sua carreira. Menos de seis meses depois chegava Thank U, Next para um nível de aclamação crítica e comercial ainda maior. Gravado num espaço de três semanas e escrito e produzido num restrito grupo de amigos produtores e compositores, o disco nasce como forma de bloquear a espiral negativa em que a sua vida se havia tornado, agravada pela morte de Mac Miller e pelo término do noivado com Pete Davidson.  O tema-título, "7 Rings" e "Break Up with Your Girlfriend, I'm Bored" nem sequer fazem jus à qualidade de um álbum onde militam "Imagine", "NASA", "Borderline" ou "Ghostin" - nunca a perdoaremos por não os ter sequer transformado em singles. 


45º Adele- 21 (2011)


O maior bestseller e álbum certificado da década. O disco que operou pequenos grandes milagres na indústria, atrasando o seu inevitável declínio. O trabalho que tornou Adele na maior estrela do firmamento pop, detentora de vários recordes e prémios por esse mundo fora. Vivemos e sofremos todos um bocadinho com esta separação, não foi? O sucesso de 21 explica-se não só pela qualidade inegável do material que lá mora - dos singles incríveis como "Rolling in the Deep", "Someone Like You" ou "Set Fire to the Rain", passando por temas como "Don't You Remember", "Take It All" ou "One and Only" - como pelo facto de ter conseguido quebrar a hegemonia da EDM, unindo de novo as massas em torno de uma grande voz soul, directa ao coração. Passaremos o resto da vida a agradecer-lhe - e a esperar por outro milagre assim.


44º Rae Morris- Someone Out There (2018)


"These are new beginnings. Won't let the past determine where I go from here. My ghosts have turned to nothing". Se há estrofe que melhor resume a experiência de Someone Out There, será este que se escuta a meio de "Reborn", o apropriado cartão-de-visita do disco. A maravilhosa estreia já revelava um certo arrojo para uma cantautora ao piano ("Skin", "Do You Even Know?" ou "Cold" são bons exemplos disso), mas há uma completa sensação de liberdade e exploração de texturas sónicas que só é inerente a este segundo disco. Temas como "Push Me to My Limit", "Atletico (The Only One)", "Rose Garden" ou "Do It" esforçam-se por esticar não só os limites da própria Rae como da pop contemporânea, enquanto faixas como "Physical Form", o tema-título ou "Dancing with Character" mantêm intacta a sua faceta de delicada e terna contadora de histórias. 


43º Lana Del Rey- Ultraviolence (2014)


Born to Die (2012) pode ter erguido a persona, mas acabaria por ser o seu sucessor a confirmar a densidade e os créditos autorais em Lana Del Rey. Afastando-se da opulenta atmosfera indie pop/trip hop da estreia que lhe fez valer o epíteto de Nancy Sinatra gangsta, Lana encontrou no homem forte dos Black Keys, Dan Auerbach, o produtor capaz de levar Ultraviolence a compelativas paisagens de rock psicadélico e dream pop com brisa bluesy e desert rock, a tempos, sempre tingidas pelas suas histórias de desamor e glamour decadente. Da combustão lenta de "Cruel World", passando por um "Shades of Cool" entoado qual Branca de Neve atormentada, por um "Brooklyn Baby" nos passos de Lou Reed, um sensualão "West Coast" de tempo ofegante, até à belíssima releitura de "The Other Woman" outrora entoada por Nina Simone - Ultraviolence é um sonho a preto e branco do qual jamais quereremos sair.  


42º Of Monsters and Men- My Head Is an Animal (2012)


Contam-se pelos dedos das mãos os artistas islandeses por quem nos apaixonámos na última década: não fosse pelo sucesso global de "Little Talks", talvez nem nunca nos tivéssemos cruzado com os Of Monsters and Men que tecem em My Head Is an Animal uma enternecedora fábula pautada por seres míticos, lugares fantásticos, animais selvagens e toda uma panóplia de sentimentos universais que pintam algumas das melhores canções indie pop/folk dos anos 10 ("Little Talks", "Dirty Paws", "King and Lionheart", "Mountain Sound", "Six Weeks" ou "From Finner"). Infelizmente não conseguiram igualar o mesmo nível de qualidade e consenso com os dois discos seguintes, mas a estreia permanece um compelativo exercício de escrita no espectro fantástico e de melodias orelhudas assentes numa infalível dinâmica rapaz/rapariga. 


41º Beyoncé- 4 (2011)


A década que agora termina fica essencialmente marcada por Beyoncé (2013) e Lemonade (2016), mas a memória colectiva tem tendência a esquecer-se do álbum bestial que os precedeu - e sem o qual estes não seriam possíveis. Depois de se ter tornado numa das maiores forças comerciais dos anos 00, Beyoncé entrava na nova década com um álbum R&B clássico dos sete costados, numa altura em que as ondas hertzianas eram dominadas por bangers EDM a rodos, e a cortar os laços com o seu manager de sempre, o pai Mathew Knowles. O resultado foi o seu disco mais honesto, liberto e auto-reflexivo à data, que lhe concedeu alguns dos melhores singles do seu percurso (uma vela acesa por "Love on Top", "Countdown", "End of Time") e slow jams excepcionais como "1+1", "I Care", "I Miss You" ou "Start Over". Dali, a lenda só se agigantaria.

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