Roar e Applause vistos à lupa
Segunda-feira passada o panorama musical tremeu com o lançamento dos novos singles que assinalam o regresso de Katy Perry e Lady Gaga. A façanha é rara nos dias que correm - não é todos os dias que vemos 2 grandes estrelas pop a desvendarem novos temas em simultâneo - e justificou-se não por uma questão de rivalidade, mas sim pela crescente pirataria online.
Portanto, Miss Perry tinha agendado o dia 12 de Agosto para desvendar o seu "Roar", enquanto Gaga havia anunciado com toda a pompa e circunstância o lançamento de "Applause" imediatamente na semana seguinte. Acontece que hackers (ou fãs acérrimos) desta última decidiram colocar online excertos da canção e logo Lady Gaga declarou um "estado de emergência pop", levando ao lançamento relâmpago de "Applause". Instalou-se o histerimo colectivo.
Comprometido com a minha iniciativa do "Portugal a Ferver", abstive-me de qualquer comentário ou referência à situação, mas não deixei de acompanhar o caso e ouvir os novos temas das duas senhoras, de forma a que pudesse retirar as seguintes ilações:
Começemos por "Roar":
1- Foi prometido como sendo drasticamente diferente face ao que se ouviu na era docinha de Teenage Dream, o álbum de há 3 anos atrás. Obscuro, maduro e inesperado foram adjectivos que se ouviram para a campanha promocional desta nova era. Pois bem, "Roar" está longe de ser a quebra radical com o passado, mas também não é exactamente mais do mesmo.
2- É aquilo que se espera de alguém do calibre de Katy Perry: um bom tema pop feito para agradar às massas, com versos sonantes que puxam qualquer moral bem lá para cima e com capacidade para se tornar no hino maior de 2013 à auto-estima. A diferença é que onde antes existia uma Katy sonhadora e apaixonada, agora reside uma mais assanhada e de orgulho ferido.
3- Produzida pelos seus habituais colaboradores - Dr. Luke, Max Martin e Cirkut - tem sido fortemente criticada pelas suas semelhanças com "Brave" de Sara Bareilles. De facto, elas existem, mas no mundo da pop a reciclagem de ideias é uma técnica há muito utilizada, daí não perceber a inquietação. E não será esse o obstáculo maior ao sucesso da canção.
4- Os números não enganam e mostram que "Roar" é já um hit prestes a explodir. Escalou logo no primeiro dia ao topo das tabelas do iTunes de alguns países, nomeadamente dos EUA, em que a taxa de sucesso de Katy Perry é relativamente elevada. Acertou na mouche, uma vez mais, está visto.
5- Se tivesse de avaliar o single, dava-lhe um 7/10. É um bom arranque para esta nova era, mas não está muito distante do que fez no passado. Ou seja, foi de encontro ao que se pedia, mas também não se esforçou por fazer mais e melhor.
E agora vejamos "Applause":
1- A expectativa aqui era maior. A dimensão do fenómeno Lady Gaga ultrapassa em larga escala o de Katy Perry e por isso o mundo estava de olhos postos no próximo passo daquela que mais tem revolucionado a pop nos últimos anos. Ao contrário do que sucedeu na promoção a Born This Way, "Applause" não foi anunciado como o messias salvador e por isso foi recebido de forma menos polémica, com a maioria das críticas a serem positivas.
2- É um regresso à dance pop cintilante e focada nos holofotes que se ouvia em The Fame e é bastante mais simples e menos ambicioso do que qualquer tema saído do seu último disco, algo que vejo com bons olhos. Dramático, egocêntrico e contagiante q.b, torna-se melhor a cada nova audição.
3- A cantora partilha créditos na produção com DJ White Shadow, o mesmo que assinou "Born This Way". O resultado não poderia ser mais diferente e, não estando à frente do seu tempo (pelo contrário, it's so 2009), não apresenta semelhanças com nenhum hit do momento. E, do mal ao menos, não tem o cunho de RedOne.
4- Bem posicionado nas tabelas digitais, prepara-se para se estrear em grande nas tabelas. Começou por morder os calcanhares a "Roar", mas entretanto já perdeu algum fulgor e encontra-se umas posições mais abaixo. De qualquer forma está bem encaminhado para se tornar num hit.
5- Pelas mesmas razões de "Roar", atribuo um 7/10 a "Applause", o que indica aplausos moderados, não demasiado efusivos. Com Lady Gaga a bitola está sempre mais acima e isto não é nenhum "Poker Face" ou "Bad Romance". É capaz de fazer melhor.
Tanta uma como outra têm estéticas diferentes, apesar de serem dirigidas a um mesmo público, e não conseguiram estar à altura do hype que lhes havia sido conferido. São bons temas pop? Digamos que sim. Revolucionários? Nem por sombras. Deverão entusiasmar por uns tempos, mas acredito que daqui a uns meses poucos serão os que ainda falarão deles. O melhor tema pop do ano continua a ser "Mirrors" e acredito que ainda aparecerá mais algum ou outro superior a estes dois. Muito mau seria se assim não fosse.
Cada vez me sinto menos compelido a entrar neste circo pop (fanatismos, guerras e afins), mas acima de tudo gosto de comentar a situação em que o panorama musical se encontra, para além de que seria muito snob da minha parte fazer de conta que estas duas não existem. Por muito eclético que seja, não esqueço que a pop é e sempre será a minha grande paixão. E é graças ao meu amor e respeito por música que, na mesma semana, tanto falo dos Capitão Fausto, Gisela João ou Katy Perry e Lady Gaga. Não é defeito, é feitio. E de outra forma não seria um melómano feliz.
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