Odisseia Musical: 2011, A Voz Redentora- Parte I
Quando penso em 2011 vem-me de imediato um único nome à memória: Adele. Razão pela qual dou início a este novo capítulo da Odisseia contrariando a norma e dedicando grande parte dele à santa padroeira dos milhões que em boa hora se tornou numa das maiores heroínas musicais dos últimos 10 anos.
Uma vez que já dissertei aqui no blog (e muito bem, julgo eu) acerca do que se passou com ela nesse ano, recorro a um antigo post originalmente publicado a 4 de Janeiro de 2012, intitulado The Wonder of this World, do qual passo a resgatar os seguintes excertos:
No final de 2010 ecoaram os primeiros acordes do seu regresso com o lançamento de "Rolling in the Deep", mas nada faria prever o que 2011 teria reservado para Adele. A 19 de Janeiro é editado 21, o seu 2º álbum, cujas vendas iniciais foram bastante satisfatórias. Pode-se dizer, porém, que o verdadeiro fenómeno despoletou com a majestosa actuação nos BRIT Awards, em Fevereiro, na qual fez uma brilhante interpetação de "Someone Like You", a grande balada dos últimos anos. Naquela noite, Adele cantou do fundo da alma e deixou o seu coração no palco. O Mundo emocionou-se e o fenómeno nasceu.
Nos meses que se seguiram, observou-se o fanatismo total em torno do seu 21, que alcançava o nº1 das tabelas de quase todo o mundo (não posso deixar de escapar o facto de Portugal ter sido a excepção à regra) e acumulava, semana a semana, vendas impressionantes para um panorama musical à beira do colapso. Para além dos 2 singles já referidos, temas como "Set Fire to the Rain", "Turning Tables" ou "Rumour Has It" contribuíram para que nas contas finais do ano o álbum rondasse os 13 milhões de cópias vendidas, número impensável nos dias que correm, e que o tornaram num dos álbuns mais vendidos dos últimos anos.
Nos meses que se seguiram, observou-se o fanatismo total em torno do seu 21, que alcançava o nº1 das tabelas de quase todo o mundo (não posso deixar de escapar o facto de Portugal ter sido a excepção à regra) e acumulava, semana a semana, vendas impressionantes para um panorama musical à beira do colapso. Para além dos 2 singles já referidos, temas como "Set Fire to the Rain", "Turning Tables" ou "Rumour Has It" contribuíram para que nas contas finais do ano o álbum rondasse os 13 milhões de cópias vendidas, número impensável nos dias que correm, e que o tornaram num dos álbuns mais vendidos dos últimos anos.
Desde então que as vendas do disco duplicaram, atingindo a impensável quantia de 28 milhões de cópias legalmente compradas, o bastante para ser considerado o álbum mais vendido do séc. XXI e o 4º mais vendido de sempre no Reino Unido, apenas atrás dos lendários Beatles, ABBA e Queen.
E porquê? Porque as pessoas se começaram finalmente a fartar da onda electropop que atingiu em força o panorama musical em meados de 2008 e que hoje em dia contagia esmagadoramente as tabelas mundiais e sentiram falta da música que trasmite emoções, sentimentos, que se concentra na força das palavras e no poder de uma voz e que não recorre a fórmulas gastas e truques de estúdio manhosos. Adele relembrou-nos, em 2011, essa tal capacidade que a música tem de inebriar os sentidos e fê-lo ao abrir o seu coração e, sem filtros, despejar o conteúdo da sua alma.
Não foi só a vitória da genuinidade sobre a artificialidade, não foi só o acentuar da dominação feminina de um panorama musical cada vez mais comandado pelas mulheres, não foi apenas a luz ao fundo do túnel para uma indústria musical à beira do desespero. A conquista de Adele assinalou o regresso ao estado natural da música, ao que é verdadeiramente essencial, e acalentou a esperança de um mundo melhor.
Tudo isto ganha outra dimensão se tivermos em conta que eu vi tudo acontecer do primeiro instante até ao último segundo, o que me dá total legitimidade para contar aos meus futuros filhos e netos, um dia mais tarde, este que foi o primeiro grande acontecimento lendário da minha existência enquanto melómano.
Os temas que mais me marcaram
12º Ed Sheeran- "The A Team", +
É-me impossível apagar da memória o single de estreia de Ed Sheeran, aqueles 4 minutos e 18 segundos de instrumentalização folk e voz-que-arde-em-lume-brando que narram a história de uma jovem sem-abrigo viciada em droga que se prostitui para sustentar o vício e acaba morta, sozinha e desamparada. Inspirada em factos reais, dá que pensar e comove-me sempre que a oiço. Descobri-a numa altura em que o ginger ninja ainda era um completo desconhecido e lembro-me de ter desejado ardentemente que as coisas corressem bem para o rapaz. Ver onde chegou 3 anos depois, deixa-me muito mas muito feliz.
11º Britney Spears- "Till the World Ends", Femme Fatale
Para o 2º single do seu 7º álbum, Miss Spears brindou-nos com uma ode dance/electro pop para o pseudo-apocalipse que atingiria o Mundo a 21 de Dezembro de 2012. Com os hitmakers da praxe - Dr. Luke e Max Martin - ao comando, Britney teve aqui mais um valente hit nas mãos, talvez o seu mais imediato desde "Circus". Para dançar como se não houvesse amanhã - woah oh oh oh oh oh ohhh!
10º Foster the People- "Pumped Up Kicks", Torches
Entre a voz distorcida, baixo pulsante, o refrão irresistível e a melodia contagiante pautada por assobios, é muito fácil esquecermo-nos de que isto é alusivo a uma criança problemática com tendências homicidas, o que faz desta canção um dos hits mais improváveis dos anos 10. É também considerado o ponto de viragem na dita pop alternativa do séc. XXI, tendo alcançado um sucesso sem precedentes e aberto a porta para temas da mesma linhagem - "We Are Young" ou "Somebody That I Used To Know" - chegarem ao lugar cimeiro dos topes. Now run Foster, run, faster than my bullet!
Os álbuns que mais me marcaram
7º Coldplay- Mylo Xyloto
O 5º álbum dos Coldplay é uma obra conceptual que conta a história de duas personagens: Mylo, o rapaz, e Xyloto, a rapariga, que vivem num ambiente opressivo e distópico governado por um vilão da pior espécie que pretende tirar o som e a cor do universo. Eis que os dois se conhecem através de um gang destinado a derrubar o vil opressor, apaixonam-se e tentam escapar juntos. Ficção à parte, pode ser considerada uma alegoria à actual sociedade em que vivemos, uma espécie de disco anti-crise no qual os Coldplay tentam reestabelecer a cor, esperança e alegria graças a um conjunto sólido de canções pop de estádio pintassalgadas de rock electrónico. Não está entre os seus trabalhos mais memoráveis, mas mesmo assim é um óptimo disco.
Este é o álbum de: "Every Teardrop Is a Waterfall", "Paradise", "Charlie Brown", "Princess of China" e "Hurts Like Heaven"
Este é o álbum de: "Every Teardrop Is a Waterfall", "Paradise", "Charlie Brown", "Princess of China" e "Hurts Like Heaven"
6º Adele- 21
Rapariga conhece rapaz. O rapaz destroça o coração à rapariga. A rapariga canaliza todas as emoções conturbadas que lhe vão na alma num fiel processo de composição que compreende etapas de fúria, sede de vingança, mágoa, auto-consciência, culminando no concedimento do perdão. Na hora de os transpôr para o estúdio de gravação, conta com o auxílio de nomes como Rick Rubin, Paul Epworth ou Ryan Tedder que conferem às canções com raízes na soul, pop, country e blues um tratamento de excelência, fidedigno e intemporal. Eis que os 21 anos de Adele ficam registados numa obra sólida, genuína e de apelo universal que operou o mais grandioso milagre jamais visto nos últimos anos 10 anos. E assim, a música volta a respirar de novo.
Este é o álbum de: "Rolling in the Deep", "Someone Like You", "Set Fire to the Rain", "Rumour Has It" e "Turning Tables"
Fim da parte I. Pela frente ainda temos mais 3 capítulos referentes a 2011. Não percam o próximo, na semana que vem.
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