REVIEW: Shakira- Shakira
Após um hiato discográfico de 4 anos, Shakira está de regresso com o seu 10º álbum de estúdio, o primeiro que edita em inglês desde She Wolf (2009) e desde que foi mãe. Este disco homónimo marca também o seu primeiro lançamento sob a alçada de uma nova editora e com a mentoria da Roc Nation, de Jay-Z. Vejamos então que impacto causam estas mudanças na música da colombiana mais adorada do mundo:
1) Can't Remember to Forget You- Nas primeiras audições não me rendi totalmente a esta parceria tão inusitada, mas com o passar do tempo e agora que ouvi o resto do disco, cheguei à conclusão que acaba mesmo por ser dos melhores momentos do álbum. As suas influências new wave com reggae e rock à mistura são uma combinação agradável e pouco vista nos dias que correm, ainda que soe demasiado a "Locked Out of Heaven" e "Message in Bottle" no feminino. Além disso, sinto que isto é mais um teste de forças do que uma parelha natural. E nesse aspecto, Rihanna dá 10-5 a Shakira. (8/10)
2) Empire- É um dos seus melhores singles em muito tempo: uma encantadora balada acerca de encontrar um amor tão forte que "faça unir os impérios do mundo inteiro". Marca também o seu regresso às origens, com raízes no rock, sendo que há momentos em que soa tal e qual a Alanis Morissette. Destaco ainda a fortíssima prestação vocal da cantora e a produção certeira, especialmente aguçada na parte do uivo lunar. (9/10)
3) You Don't Care About Me- É dos temas menos autobiográficos que por aqui se ouvem, mas um dos mais inequivocamente Shakir-escos. Pop latina titubeante com apontamentos retro e versos que não disfarçam uma mágoa latente, apesar do tom alegre da canção. (7/10)
4) Dare (La La La)- Consta que esta foi uma das primeiras canções a ser gravadas para o disco (e cuja primeira versão em 2012 chegou a ter um vídeo filmado em Lisboa) mas de lá para cá deve ter sofrido alguns retoques, entre eles uma versão em castelhano a propósito do Mundial 2014, no Brasil. Tem um refrão fulminante - o tal la la la - mas uns versos adjacentes em jeito de freestyle manhoso que custam a engolir logo à primeira. Não será isso, porém, que impedirá a canção de se tornar gigante - nem que seja porque Dr. Luke raramente falha uma. (8/10)
5) Cut Me Deep- Outro dos pontos altos do disco, que vê a colombiana reúnir-se com os recém-formados MAGIC! (muita atenção a eles) para uma deliciosa malha reggae pop que funcionaria muito bem como single para a estação mais quente do ano. Recaptura a aura sensual e perigosa de "Objection (Tango)", sendo que nos segundos finais adquire uma toada ska punk muito semelhante a "Spiderwebs" dos No Doubt. (8/10)
6) 23- À primeira vista pode parecer uma sequela de "22" de Taylor Swift (o que me deixa logo de pé atrás) e uma celebração a uma idade que há muito já lá vai (se tivermos em conta que Shakira já conta com 37) mas um olhar mais atento aos seus versos faz-me compreender que é uma alusão à idade que o seu Piqué tinha quando se apaixonaram ("do you believe in destiny?/ 'cause I do as I did then / when you were only 23"). É uma bonita celebração de uma relação que, aparentemente, muitos julgavam impossível. (7/10)
7) The One Thing- Desse amor resultou uma criança e é para ela que Shakira canta neste 7º tema, uma ode aos prazeres da maternidade. Apesar de apelativo q.b, não encontro ligação alguma aos seus trabalhos passados - é pois então aqui que começam as incoerências do disco. Aliás, isto soa-me a "Here's to Never Growing Up" de Avril Lavigne, misturado com - agora sim - um qualquer tema de Taylor Swift. É estranho vindo de quem vem. (6/10)
8) Medicine- Acontece que há algo ainda mais estranho à minha espera: um dueto country pop com Blake Shelton, seu colega no The Voice. Jamais imaginei ver Shakira por estas paragens... O resultado não é tão mau quanto seria de esperar (a perspectiva de ver uma latina a fazer de country girl mete medo ao susto), mas acontece que eu acho esta parceria demasiado forçada e pouco natural. É como juntar vinagre e azeite, não dá. Tivesse ela escolhido Adam Levine para um "Moves Like Jagger 2014" e teria sido muito mais interessante. (6/10)
9) Spotlight- É um autêntico peso-morto que para aqui vai no alinhamento: um pastiche lírico do 6º e 7º tema que me soa novamente a um tema antigo de Avril Lavigne, nomeadamente a "I'm With You" nos versos que antecedem o refrão. Que desperdício de espaço. (5/10)
10) Broken Record- De facto, Shakira começa a parecer um disco riscado, tantas são as vezes em que cria versos para dizer basicamente o mesmo: que ama perdidamente o seu Piqué. Já se percebeu, ok? Não vem, por isso, acrescentar nada ao que cantou. A nível melódico também é francamente pouco interessante, com tiradas acústicas a fazer lembrar "Hey There Delilah". Apenas se salva o refrão. (6/10)
11) Nunca Me Acuerdo de Olvidarte- Regra geral, sou da opinião que incluir nos discos uma versão alternativa de uma canção existente no alinhamento, raramente dá bom resultado. Pois esta é a excepção à regra. A versão em castelhano de "Can't Remember to Forget You" não perde nem pela ausência de Rihanna nem pela reconversão do dialecto, pelo contrário, parece traduzir melhor o espírito da canção. Qual country, qual carapuça, isto sim, é a Shakira genuína. (8/10)
12) Loca por Ti- Sim, é outra ode apaixonada a Piqué. Mas é cantada em castelhano, o que faz toda a diferença. Aliás, depois de "Empire" é mesmo a melhor balada do álbum, talvez porque o facto de ser interpretada na sua língua nativa lhe confere toda uma outra magia, sentimento e até mesmo um carácter melífluo não possível de reproduzir nos seus temas cantados em inglês. (8/10)
Como registo autobiográfico, este disco é capaz de ser o mais revelador e confessional de Shakira, em que são abordados tópicos como as complicações do fim do seu anterior relacionamento, a redescoberta do amor ao lado de Piqué ou os prazeres da maternidade. É o reflexo de alguém que ganhou um novo alento, uma nova luz e que atravessa uma fase muito feliz a nível pessoal. Até aí tudo bem. O problema prende-se com a incoerência do álbum enquanto conjunto coeso de canções. Há por aqui pop/rock, reggae, dance pop e pop latina, tudo géneros musicais que têm feito parte da ementa sonora de Shakira ao longo dos anos e que ela continua a produzir com relativa eficácia ("Cut Me Deep", "Dare (La La La)", "Loca por Ti" e "Empire" são bons exemplos disso).
Mas depois vem também ao de cima uma nova faceta que lhe era completamente desconhecida - a country pop, nada natural e em tudo forçada - que parece ser resultado da sua entrada na Roc Nation e que não poderia ser mais inconveniente num álbum homónimo como este que supostamente deveria ser o seu fiel retrato artístico. Assim sendo, resulta num esforço mais pálido comparativamente a Laundry Service (2001), Oral Fixation Vol.2 (2005) e She Wolf (2009), as suas outras incursões em inglês. Chamemos-lhe uma Shakira em versão way too american. Eu cá preferia aquela que abanava as ancas como ninguém. Vai uma aposta em como da próxima ela não cai no mesmo erro?
Classificação: 7,2/10
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