Sons Frescos #62


É a rentrée em movimento, senhoras e senhores:

1) Tove Lo feat. Kylie Minogue- "Really Don't Like U"- Holy. Mother. Of. God. Ninguém estava preparado para um dueto entre as rainhas da pop sueca e australiana, e muito menos que soasse tão estupendo. Sobre teclados trémulos e uma batida electropop intoxicante, Lo e Minogue canalizam para a nova conquista de um ex o rancor que sentem deste - não é de todo um motivo bonito para se construir um bop, mas não há como não aclamar. É a melhor produção que o esteta Ian Kirkpatrick assina desde "New Rules" de Dua Lipa, e é claramente candidata a canção do ano. 

2) Camila Cabello- "Liar"- Porque é que Camila insiste em lançar singles duplos sabendo que o sucesso de um irá canibalizar as hipóteses de sucesso do outro, ninguém sabe. E porque razão o decide fazer enquanto "Señorita" ainda se senta confortavelmente nos lugares cimeiros das tabelas, muito menos. "Liar" é um híbrido latino/ska-pop que sampla "All That She Wants" dos Ace of Base e "All Night Long" de Lionel Richie, enquanto versa sobre cair de amores por outro alguém, apesar de se esforçar por o negar. É bom, mas não é forte o suficiente. E "Shameless" vai pelo mesmo caminho.

3) Foster the People- "Pick U Up"- Há um ano que o quarteto californiano vai lançando singles soltos sem compromisso de um álbum, e a jornada tem sido frutuosa q.b. "Pick U Up", o avanço nº4, leva desde já o título do mais gingão e inescapável, uma oferenda disco-funk acerca do jogo do amor e o propósito das fichas que nele se investem. O líder Foster trabalhou na canção juntamente com Joel Little, decididamente aqui mais inspirado do que qualquer coisa que tenha feito para Lover de Taylor Swift.

4) Editors- "Black Gold"- São aproximadamente 15 anos de Editors espalhados em seis longa-duração que agora convergem num só best of. Black Gold, a retrospectiva de carreira dos britânicos, é lançada a 25 de Outubro, e para além do demente "Frankenstein" tem no tema-título mais uma esquizóide mas sólida proposta synth-rock que ergue todo um altar à discografia dos Depeche Mode - longe do revivalismo pós-punk que lhes deu culto, mas ainda assim um exercício tenaz de recriação.

5) Foals- "The Runner"- Em 2019 os Foals assumiram o compromisso de nos entregar um projecto díptico: Everything Not Saved Will Be Lost saiu em Março e a parte II segue agora em Outubro próximo. A era teve um arranque fortíssimo com "Black Bull", possivelmente o single mais pesado do percurso dos britânicos, e continua nos píncaros graças à determinação de ferro de "The Runner", sobre perseverar perante a adversidade, com mais riffs musculados e a interpretação inflamada de Philippakis do costume. 

6) Metronomy- "Wedding Bells"- Até ver Metronomy Forever não parece ser a era mais inspirada do quinteto inglês, mas só nos poderemos pronunciar daqui a uns dias, quando o disco efectivamente chegar. "Wedding Bells", o quarto avanço conhecido, parece seguir nos passos de "Common People" dos Pulp, até que alcança terreno mais familiar, a um post-disco que se lamuria pelo facto de todos (menos o vocalista) terem em breve encontro marcado com o altar. 

7) Charli XCX feat. Clairo & Yaeji- "February 2017"- O ansiado terceiro longa-duração de Charli sai esta sexta, mas entretanto já o disco nos foi revelado na sua maioria. "February 2017" clama por perdão de actos mais reprováveis cometidos para com outro alguém na altura a que faz alusão, e pende para o lado futurista da balança que XCX equilibra como poucos. Clairo e Yaeji emprestam alguma da sua magia. 

8) King Princess- "Ain't Together"- Foi há pouco mais de um ano que nos maravilhámos com o surgimento de Mikaela Straus, e no final de Outubro vamos poder aclamá-la em pleno quando Cheap Queen vir a luz do dia. Até ao momento as canções do EP de estreia tinham mais charme, mas existe uma linha de excelência e maturidade que não se perde em "Ain't Together" - com o seu quê de Father John Misty e até Alex Turner - sobre como é complicado amar sem rótulos e compromissos.

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