Revisitando o debute de Christina Aguilera no 20º aniversário
Estávamos no Verão de 99, o filão da teen pop não parava de crescer e preparava-se para conhecer um novo fenómeno com a chegada de Christina Aguilera, que durante anos discutiria o trono de Princesa da Pop com Britney Spears.
Na celebração das duas décadas do disco de estreia homónimo, revisitamos as canções que ajudaram a definir um tempo e uma geração. Acompanhem-me neste delicioso throwback:
1) "Genie in a Bottle"- Quando o mundo estava finalmente pronto para seguir em frente depois do sucesso de "...Baby One More Time", todas as cabeças se viraram para uma outra adolescente capaz de sustentar o boom da teen pop, redefinindo assim o mainstream do final da década. Nada menos que um extraordinário single de estreia preenchido por uma intérprete de vastos recursos, "Genie in a Bottle" assenta fundações na ideia de castidade - o corpo não se entrega até o coração estar preparado - detalhando a sua luta contra a tentação. Atirem-lhe água benta.
2) "What a Girl Wants"- Facto: qualquer álbum de estreia robusto de uma futura estrela pop icónica contém sempre um 2º single igualmente memorável. Muito em linha com aquilo que "Genie in a Bottle" havia estabelecido, "What a Girl Wants" reafirma a independência de Aguilera enquanto jovem mulher que sabe exactamente aquilo que procura num relacionamento. Os tons são ainda teen pop mas com mais nuances R&B, e é a interpretação apaixonante que a eleva a outro patamar.
3) "I Turn to You"- Curioso como o alinhamento conserva ainda a ordem natural dos singles. Lançado como terceiro avanço do registo em Março de 2000, "I Turn to You" é uma baladona dos sete costados sobre amor incondicional escrita por Diana Warren e lançada originalmente três anos antes pelos All-4-One, que se torna no equivalente de Christina ao "Because You Loved Me" de Celine. Poucas vocalistas de 18 anos se prestariam para tamanha tour-de-force vocal.
4) "So Emotional"- Vários são os momentos neste debute que são comparados à discografia de Mariah Carey, e "So Emotional" é um deles: um tema com afiliações R&B, soul e até gospel com suculentos ad-libs que versa sobre aquela altura do mês na vida de uma mulher, ou como o parceiro a leva a experienciar um sortido de sentimentos. A aura 90's está fortíssima, aqui.
5) "Come on Over (All I Want Is You)"- Ainda nem a meio do disco chegámos e já o debute de Aguilera revelou todos os seus trunfos. Lançado como quarto e último single do disco, "Come on Over" já era um bestial single pop de sensibilidades disco-funky na linha de uma Whitney mais expansiva, e para a edição comercial foi alvo de um revamp sonoro que lhe conferiu traços R&B, um rap marotão e um vídeo sensacional que deu largas à versão mais assanhada de Aguilera.
6) "Reflection"- A Disney sempre como força motriz do seu percurso. Primeiro no The Mickey Mouse Club e anos mais tarde seria também sob o seu aval que gravaria a sua primeira canção de estúdio, integrada na banda-sonora do filme de animação Mulan (1998). O sucesso do tema acabaria por financiar este seu debute, editado um ano depois. Uma balada clássica e bonita sobre sermos capazes de mostrar as nossas verdadeiras cores ao mundo.
7) "Love for All Seasons"- Composição R&B midtempo sobre como o amor de Christina é como uma tocha que arde o ano inteiro, parece ser mais uma canção a que uma boysband como os Boyz II Men faria melhor justiça, do que uma adolescente a querer ser a próxima sensação da teen pop. Mas, lá está, aquela voz imensa tudo salva.
8) "Somebody's Somebody"- Esta é capaz de ser a canção que mais se aproxima da estética do primeiro álbum de Britney Spears - fechem os olhos e imaginem-na a cantar isto - e que recaptura igualmente alguma da essência da Mariah Carey dos primórdios. Bop low-key sobre desejar ser a mais-que-tudo de alguém, contém a quase mandatória mudança de escala e um falso desfecho aos 4:15 que se prolonga por mais uns quantos segundos - exacto, é tão bom que custa chegar ao fim.
9) "When You Put Your Hands on Me"- Vêem, é aqui que se acentua a linha que separa Christina de Britney: esta jamais colocaria um tema tão atrevido no seu disco de estreia, enquanto Aguilera nunca teve medo de correr esse risco. "When You Put Your Hands on Me" é puramente sobre química sexual, entregue num embrulho pop/R&B compelativo ao qual nem falta o recurso ao então inovador auto-tune. O melhor será mesmo descobrir que Robin Thicke tem aqui créditos na escrita.
10) "Blessed"- Quão irónico é suceder o tema mais depravado do registo com um dos mais beatos? De novo a retomar as inspirações soul/gospel, "Blessed" consiste na acção de graças do debute, por algo ou alguém na sua vida. Não era dos memoráveis já na altura, e assim continua - grato, mas inofensivo.
11) "Love Will Find a Way"- Os singles dão uma imagem errada daquilo em que o debute de Christina Aguilera consistia: mais do que torná-la à imagem de Britney, o projecto parecia apontar sobretudo para as sensibilidades pop/R&B dos primeiros discos de Mariah (escutam-se ecos de "Fantasy" ou "Dreamlover"). O positivismo pop upbeat quase disco de "Love Will Find a Way" é mais um dos agradáveis momentos que o tempo ainda não enferrujou.
12) "Obvious"- Expectavelmente, não há uma única faixa do registo em que Aguilera tenha créditos autorais, mas nenhuma delas revelará tão bem o seu estado de espírito quanto a balada monumental que encerra o disco ("I don't know what I'm doing anymore, I'm feeling like a little girl, caught up in emotions, I'm out of control, isn't it obvious?). Sente-se na voz a autenticidade do que canta - mas tudo acabaria bem.
Ahhh, as memórias. Este disco acompanhou-me imensas vezes na adolescência (anos depois de ter sido editado), mais do que o próprio debute de Britney, que só vim a descobrir na idade adulta. Estavam lançadas as fundações para uma carreira sólida e duradoura, que logo na viragem do milénio conheceria o seu pináculo. Tudo ficou tão mais interessante quando deixaram Xtina sair da garrafa...
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