Sobrevivendo ao Halloween 2019 com Kim Petras
É sabido que quem tem uma Kim Petras na vida, tem resmas de bops para degustar o ano inteiro e direito a uma Princesa do Halloween sempre que o calendário atinge a época das caveiras e demónios mil: adoramo-la por isso e por ser praticamente a única das artistas do mainstream a celebrar a quadra com brio.
A tradição teve início no ano passado com o primeiro tomo de Turn Off the Light, Vol. 1 - bestial EP de oito temas dentro do espírito medonho da época - e já havia sido feita a promessa de que 2019 conheceria a parte II do projecto. Quis o destino que a colecção se expandisse num longa-duração que vê serem acrescentados nove inéditos aos oito já conhecidos.
O instrumental "Purgatory" abre o disco tal como o sinistro "Omen" dava o mote ao Vol. 1 em 2018, preparando terreno para a chegada de "There Will Be Blood", dantesco bop dance/europop reminiscente de "Monster" de Lady Gaga, com Kim a cercar-nos com o agoiro de que não "conseguiremos passar desta noite". A sessão de romance de "Bloody Valentine" pinta sangue nas paredes com uma intoxicante construção electro-gótica que avisa a presa de que o seu tempo chegou ao fim.
O pináculo da nova leva de canções está contudo em "Wrong Turn", numa acelerada pulsação electropop só por si capaz de ceifar vidas e numa impiedosa vocalização que condena a vítima ao seu "destino final" - é a melhor slasher song alguma vez feita nos domínios da pop. "Demons", por seu lado, lança o caos na pista de dança, invocando espíritos malignos quiçá para um bacanal de almas humanas. Muitos crucifixos e água benta para aquela introdução digna de O Exorcista.
Se é que ainda não perceberam, ninguém sairá com vida deste pesadelo - "it's gonna be a maa-ssi-caar" - como bem nos diz o sexto tema, "Massacre" de seu nome. Petras tem a audácia de subverter a melodia do clássico natalício "Carol of the Bells" para algo assombrado e fantasmagórico, assegurando-nos que "há que morrer para nos sentirmos vivos". As facas são literalmente afiadas no instrumental de "Knives", ginasticada parafernália de sintetizadores maléficos, anunciando a chegada da punição final em, hum, "Death by Sex". Sim, leram bem, percorremos este antro dos horrores para perdermos a vida no acto da cópula. Tss tss. Esfuma-se um pouco a narrativa e a concisão sónica do projecto, sendo este o equivalente halloweenesco a "Do Me" de Clarity, com tempero trap-pop.
A ponte para o Vol.1 é feita com a declaração de que "in the end the devil always wins" - e somos carcaças felizes a rebolar no nosso próprio caixão durante mais uns vinte e poucos minutos. A conclusão ao som de "Everybody Dies" é a lição carpe diem do disco com pontada triunfal e ligeiramente optimista - permissão para sair da tumba e sentir na cara o resplandecente sol de Outono.
Talvez por agora Kim Petras deva dar a sua missão Halloween por terminada - não lhe resta muita margem de inovação e melhoria dentro daquilo que já nos apresentou. Ficará para sempre o clássico, a ousadia e o tributo à época, para ser revisitado ano após ano. Boooo-aaaaahhh!
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