As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 200º-176º


Começamos a espreitar para lá do top 200:

200º Beach House- "Myth" (2012)- É impossível permanecer dentro do universo dream pop bolha de sabão que os Beach House tão bem evocam e não produzir uma forte reacção de nostalgia, tristeza, alegria ou serenidade - talvez tudo em simultâneo, numa colisão por vezes pacífica, por vezes devastadora, de origem indeterminada. "Myth" é o pináculo de Victoria Legrand e Alex Scally nesta década, a tentar dar sentido a uma jornada emocional de cessação de laços afectivos. 

199º Sigrid- "Strangers" (2017)- Se "Don't Kill My Vibe" e "Plot Twist" eram já bons indicadores daquilo em que Sigrid se poderia vir a tornar, "Strangers" corresponde ao momento em que esta se apercebe efectivamente do seu poder: pura dinamite synthpop com o condão norueguês de Martin Sjølie, sobre fantasiar com algo idílico que não é real, apenas impossível de alcançar. O carisma e a performance voltaica de Sigrid fazem o resto.

198º Sia- "Elastic Heart" (2015)- Por norma as canções ganham remisturas/novas versões para aumentar as suas chances de sucesso, mas "Elastic Heart" fez o trajecto contrário: nasceu enquanto adição à banda-sonora do segundo filme da saga The Hunger Games com Diplo e The Weeknd envolvidos, e renasceu um ano e tal depois sem convidados à mistura por ocasião do disco que catapultou Sia definitivamente para a esfera pop. Uma magnífica balada combativa de fundações electropop sobre um coração que é posto à prova, mas que jamais se deixa vergar.

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197º Foals- "My Number" (2013)- Foi por altura da edição de Holy Fire (2013) que os Foals se tornaram numa das maiores bandas que o Reino Unido deu ao mundo no decorrer dos anos 10. A ajudar a compreender a sua relevância, tínhamos "My Number", uma pegadiça e dançável construção funk-rock musculada com uma secção rítmica de bradar aos céus. Permanece como o seu tema mais acessível e imediato à data.

196º St. Vincent- "New York" (2017)- Annie Clark vinha expedita e triunfal do álbum homónimo de 2014, por isso ninguém estava à espera que o cartão-de-visita do disco seguinte fosse uma balada pop tão directa e vulnerável quanto "New York", resultado da parelha com Jack Antonoff e da mudança de ares da cantautora da Big Apple para Los Angeles, que acarretou também a despedida de alguém importante na sua vida. 

195º Major Lazer feat. Busy Signal, The Flexican & FS Green- "Watch Out for This (Bumaye)" (2013)- Pull up, pull up! Ficamos debaixo de um sol abrasador com o festim moombahton/dancehall de "Watch Out for This", uma colaboração tropicaliente entre os Major Lazer, o jamaicano Busy Signal e o DJ holandês The Flexican, que sampla "María Lionza", uma canção de salsa com mais de quarenta anos, revestida aqui de novas linguagens. Anteciparia a febre tropical que a meio da década atingiria em cheio o mainstream.

194º Blackpink- "Ddu-Du Ddu-Du" (2018)- Juntamente com os BTS, as Blackpink são a face mais visível da revolução k-pop em marcha pelo mundo inteiro. Se deixarmos de lado a anomalia que "Gangnam Style" foi, "Ddu-Du Ddu-Du" figura como o single mais extraordinário que o k-pop originou nos anos 10: nada menos do que um poderosíssimo míssil trap/electropop propagado pelo intenso carisma do quarteto, que desemboca numa sequência oriental deliciosamente caótica. K.O. absoluto.

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193º Kendrick Lamar- "Bitch, Don't Kill My Vibe" (2013)- Quando "Bitch, Don't Kill My Vibe" chegou a quinto (e último) single de Good Kid, M.A.A.D City, já Kendrick Lamar estava num altar de aclamação pública e crítica que só haveria de aumentar nos anos seguintes. Reza a lenda de que Lady Gaga faria originalmente parte da canção, mas a sua não inclusão acabou por ser uma benção, permitindo a K-Dot expressar sem distracções a sua narrativa de descontentamento perante o estado do rap contemporâneo e de resiliência numa indústria castradora, sedenta de controlo criativo.

192º Jack Ü & Justin Bieber- "Where Are Ü Now" (2015)- O ano era 2015 e Bieber tinha um longo caminho de redenção pela sua frente, resultado de anos de más escolhas e de comportamento errático. Algo começou a mudar, porém, no momento em que "Where Are Ü Now" rompeu o éter: uma balada sobre perda e saudade transformada num objecto EDM esquizóide das mentes de Skrillex e Diplo, com corolário no "uivo do golfinho" que é na realidade a voz de Justin processada à exaustão. Mas a verdade é que Biebs nunca havia soado tão humano. Ou tão bem sequer.

191º Bastille- "Of the Night" (2013)- Não é comum ver uma banda tão no início da sua carreira a lançar um cover como single, muito menos um que resulta de um mash up entre dois clássicos maiores da eurodance dos 90s. Mas Dan Smith e companhia fizeram-no parecer extremamente fácil ao remover por completo a alegria e poder regenerador dos originais dos Corona e Snap!, deixando em vez disso entrar o negrume, solidão e vazio da noite. O que dali resulta é um mórbido pedaço de alt dance/new wave meticulosamente forjado, que só intensificou a onda de entusiasmo pelo grupo.

190º Usher feat. will.i.am- "OMG" (2010)- A terceira década de actividade de Usher não foi particularmente entusiasmante, mas teve um arranque fulgorante com um leque de singles recomendáveis. "OMG" foi a pérola de Raymond v. Raymond (2010), uma infecciosa oferenda electropop/R&B sobre aquela estonteante sensação de sermos arrebatados por uma presença feminina, assistida pelo mestre de cerimónias will.i.am, aqui num dos momentos mais válidos da sua nem sempre tolerável assinatura.

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189º The War on Drugs- "Red Eyes" (2013)- Na recta final de 2013 os War on Drugs começaram a entregar-nos aquele que seria o pináculo da sua discografia com "Red Eyes", toda uma epopeia galopante e combativa de cinco minutos que documenta a luta do vocalista em sair da espiral depressiva e solitária em que havia mergulhado, numa canção estupenda que recupera heranças de Springsteen, Tom Petty ou Dire Straits. Adeus, olhos vermelhos.

188º Mutya Keisha Siobhan- "Flatline" (2013)- O anúncio do regresso interrompido das Sugababes originais ficará para a história como um dos episódios mais frustrantes da década, mas haja um monumento em canção digno que atenue a dor. "Flatline" é um tema fenomenal, capaz de justificar doze anos de espera que o antecederam e outros seis que se seguiram: imaculadamente produzido por Dev Hynes, versa sobre a deterioração de um relacionamento em tom absolutamente glorioso. É como aquele cometa que passa pela Terra uma vez em cada milénio - malditas e abençoadas sejam.

187º Jessie Ware- "Wildest Moments" (2012)- Jessie Ware apresentava-se ao mundo em 2012 com canções tão sensuais e hipnotizantes quanto "Running", "If You're Never Gonna Move" ou "Night Light", mas foi "Wildest Moments" que acabou por ficar na memória colectiva: uma atmosférica composição indie pop de Kid Harpoon que contempla os altos e baixos de uma amizade intensa, ocasionalmente conturbada.

186º Daniel Caesar & H.E.R.- "Best Part" (2017)- Algures no início do milénio perdemos o R&B para os clubes e para a sexualização ostensiva, mas no final da década cessante recuperámos a tradição e a classe do género, muito por culpa de nomes como Daniel Caesar e H.E.R., aqui numa belíssima canção de amor dos sete costados sobre valorizar a existência da pessoa amada. Quantas primeiras danças de casamento ainda serão dançadas ao som disto nos anos que hão-de vir...

185º Chris Brown feat. Lil Wayne & Busta Rhymes- "Look at Me Now" (2011)- Leggo! "Look at Me Now" nunca seria a típica investida de rap, não quando se encontra o nome de Diplo e Afrojack na ficha técnica. Brown fez questão de tornar memorável a sua estreia na arte de debitar rimas, recrutando a lenda Busta Rhymes, ao serviço de um impressionante flow supersónico, e Lil Wayne, indiscutível autor da melhor estrofe. É contudo a produção espacial e alienígena da citada dupla que nos leva a revisitar o tema com o entusiasmo do primeiro dia.

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184º Kelela- "Rewind" (2015)- Entre Cut 4 Me (2013) e Take Me Apart (2017) existiu Hallucinogen (2015), um robusto EP de seis temas que conservou com particular brio a tónica de electrónica e R&B alternativo que puxaram Kelela para a linha vanguardista de artistas do seu tempo, evidenciada em "Rewind", portentoso e húmido exemplar de Miami bass, acerca da intensa compulsão que é estar apaixonado por outro alguém. 

183º Ella Mai- "Boo'd Up" (2018)- Acrescentemos o nome de Ella Mai à lista de ilustres que devolveram a honra ao R&B contemporâneo: ei-la numa imensa e apaixonante composição de recorte 90s cortesia de DJ Mustard, sobre estar completamente embevecido pelo boo, que ergue um altar a antepassadas suas como Brandy, Monica ou Toni Braxton. Foi um êxito especialmente grande nos EUA, onde chegou ao top 5 - notável para Mai, sendo ela de origem britânica. 

182º The Black Keys- "Lonely Boy" (2011)- Dan Auerbach e Patrick Carney já andavam a flirtar com o mainstream desde o começo da década com "Tighten Up" e "Howlin' for You" de Brothers (2010), mas seria no ano seguinte que chegariam a um novo patamar de aclamação popular pela obra e graça de "Lonely Boy", um bruto de um single garage/blues rock acerca de uma amante difícil e cruel. O vídeo com o senhor de meia-idade lançado numa bestial e improvisada coreografia, deu um empurrãozinho.

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181º Adele- "When We Were Young" (2016)- Paira a dúvida se será esta ou "All I Ask" a grande balada de 25 (2015), mas da que recebeu tratamento de single podemos elogiar a profundidade emocional, a intemporalidade e a voz imensa de quem a canta, entregue a um tema de Ariel Rechtshaid em que muito se sente o toque vintage (e o piano, sobretudo) do seu co-autor, Tobias Jesso Jr. É impossível não ser atropelado nesta torrente de memórias e nostalgia provocada pela dolorosa passagem do tempo. 

180º Lana Del Rey- "Venice Bitch" (2018)- A caminhada rumo a Norman Fucking Rockwell! (2019) foi longa e nada tradicional, sendo que o lançamento do segundo single marcou desde logo o zénite do projecto: um devaneio folk rock que captura uma moldura de felicidade com o seu parceiro, e que ao minuto três desemboca numa trip psicadélica que fica a marinar em loops de sintetizadores e guitarras eléctricas em brasa até ao infinito e mais além. Big Lana Bang.

179º Cardi B- "Bodak Yellow" (2017)- As chamas ainda são recentes, mas nunca nos vamos esquecer do dia em que todas as cabeças se viraram para receber uma nova estrela feminina no firmamento hip hop. Inspirado no flow de Kodak Black em "No Flockin", "Bodak Yellow" documenta a ascensão de Cardi B dos bares de strip para o estrelato viral até ao mainstream, de onde nunca mais saiu. O beat minimal e intimidante de J White Dit It é um parque de diversões para as suas rimas de cadência personalizada, que vibram de atitude.

178º Janelle Monáe- "Make Me Feel" (2018)- Até aqui Janelle Monáe vinha a esconder-se de certa forma atrás da narrativa de Cindi Mayweather para entregar a sua arte, mas Dirty Computer (2018) veio assinalar uma total libertação e reclamação identitária, sentida primeiro em "Make Me Feel", uma lasciva e inescapável construção funk que se orgulha da sua não distinção entre pronomes pessoais no campo do amor, e que figura como uma homenagem à memória de Prince.

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177º Icona Pop feat. Charli XCX- "I Love It" (2012)- Raras vezes nesta década uma canção electropop teve uma atitude tão punk quanto "I Love It", a convocar o deboche na pista de dança como consequência da rebelião para com um ex-namorado mais velho, um pai autoritário ou a própria indústria obsoleta (há que adorar as inúmeras possibilidades em torno do verso "you're from the '70s, but I'm a '90s bitch"). Funciona como a versão regada a químicos de "Since U Been Gone" - e não nos deixa outra opção senão sucumbir ao caos que instala.

176º Chvrches- "The Mother We Share" (2012)- No mesmo ano que viu despontar os Purity Ring na América ou os Kate Boy na Suécia, a synthpop de margens dava-nos também os escoceses Chvrches que se faziam anunciar com um intrigante "The Mother We Share", não necessariamente sobre uma contenda entre parentescos, talvez sobre a existência no planeta Terra ou sobre o fardo que dois ex-parceiros carregam. Seja como for, o fascínio permanece.


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