REVIEW: Bastille- Bad Blood

 
Foram uma das maiores promessas de 2012 e agora todos os olhos estão postos naquela que é a sua estreia nas lides discográficas. Falo-vos dos Bastille e de Bad Blood, o álbum com que se dão a conhecer ao mundo. Estou bastante entusiasmado por ouvir aquilo que Dan Smith e companhia prepararam, ou não fossem eles uma banda que mantenho debaixo de olho há meses, desde o dia em que por aqui passaram como Magníficos Materiais Desconhecidos. Será isto o início de algo belo? Vamos descobrir:
 
1) Pompeii- Começamos logo ao som do mais recente single do álbum, aquele que gosto de apelidar como um Rei Leão meets "Some Nights" dos Fun. É audacioso e incrivelmente apelativo, uma besta furiosa que anseia pela libertação e segue velozmente rumo ao infinito. A letra, porém, é sombria e algo apocalíptica. É um excelente arranque. (9/10)
 
2) Things We Lost in the Fire- Os primeiros 20 segundos parecem anunciar uma balada xaroposa, mas daí em diante o tema adquire um ar muito mais interessante, com harpa e batucadas tribais à mistura. Logo ao 2º tema, o fogo dos Bastille arde já intensamente. (9/10)
 
3) Bad Blood- Foi com este tema que os ouvi pela primeira vez, há 8 meses atrás. Tem um certo groove ska, mas ao mesmo tempo mantém o seu apelo pop. É incrível como passado tanto tempo ainda me sinto fascinado por tudo aquilo que representa: alojou-se no meu ouvido e desde então nunca mais de lá saiu. (9/10)
 
4) Overjoyed- Também tenho uma certa estima por este "Overjoyed", um dos primeiros cartões de visita que a banda apresentou. É uma assombrosa balada, não pelo seu teor lírico, mas pela fusão muito bem conseguida do piano com sintetizadores tensos. E depois a voz do senhor Dan encaixa aqui que nem uma luva. É só fechar os olhos e a magia acontece. (9/10)
 
5) These Streets- Que ruas são estas pelas quais a música dos Bastille deambula, não sei ao certo. Apenas sei que Bad Blood ainda não cometeu um único deslize. E este 5º tema não é excepção. Tem o seu quê de reggae e por momentos faz-me lembrar "What's My Name?". É também um bom contraponto daquilo que o álbum tem vindo a desenhar. (9/10)
 
6) Weight Of Living, Pt II- Penso que é dos momentos mais interessantes tanto a nível melódico como lírico. A melodia é avassaladoramente frenética e a letra debate-se com questões existenciais, o tal peso de viver. Ajuda o facto de me rever nela, mas só a batida era suficiente para me conquistar. (9/10)
 
7) Icarus- Chegado a meio do álbum começo-me a aperceber que a banda é uma fervorosa adepta da utilização de coros e de tudo o que é feito à base vocal. "Icarus", um velho conhecido dos fãs, não escapa à regra e os pós mágicos acrescentados à sua versão inicial tornam-no ainda mais letal. (8/10)
 
8) Oblivion- Tenho sempre um pouco de receio quando os oiço em território baladeiro. É por essa razão que não me surpreende a minha resistência perante esta canção. Não lhe quero chamar deslize, bem pelo contrário, vai de encontro à essência do álbum, mas não me fascina do mesmo modo como os anteriores temas. (7/10)
 
9) Flaws- Talvez seja dos sintetizadores titubeantes que parecem saídos de um jogo qualquer do Super Mario. Talvez a voz de Dan seja hipnotizante. Só sei que começo a esgotar as palavras e argumentos para descrever o quanto estes temas são completamente irresistíveis. "Flaws" é mais uma rotunda vitória. (9/10)
 
10) Daniel in the Den- Quando Dan Smith se esconde na toca o resultado é igualmente mágico. Este tema em particular parece saído de uma fábula heróica e adquire contornos misteriosos. Uma vez mais, o coro presente no refrão eleva o tema a outro patamar. (8/10)
 
11) Laura Palmer- Num álbum tão fortemente coeso como este, seria de pensar que não encontraria "o" tema. Acontece que encontrei. Ei-lo, "Laura Palmer", figura popularizada em Twin Peaks e que aqui entra no imaginário dos Bastille em forma de hino épico, maior que a vida. "This is your heart/ can you feel it?" O meu bate forte e ameaça explodir. (10/10)
 
12) Get Home- A minha pulsação volta ao que era e sou assolado pelas inquietações de Dan, naquele que é o tema mais sombrio de Bad Blood. Em "Get Home" cria-se uma atmosfera etérea graças a um respirar maquinal e a intermináveis "ay-ay". São pequenos pormenores, mas fazem toda a diferença. (8/10)
 
13) Weight Of Living, Pt I- Chegado ao último tema encontro a prequela de "Weight of Living", não tão fabulosa mas igualmente encantadora. Ao contrário da parte II, aqui as dúvidas existenciais são remetidas a um canto e a esperança é a tonalidade eleita. Assim chega ao fim Bad Blood. (8/10)
 
Quando há 8 meses atrás me deparei com os Bastille, não hesitei em colocar-lhes o rótulo de Magníficos Materiais Desconhecidos. Soube desde logo que tinham algo diferente, de especial. Senti-o nas mãos ávidas que escreveram o seu texto de apresentação. Senti-o no bater de coração desenfreado no dia em que ouvi "Bad Blood" e "Overjoyed" pela primeira vez. Aquele entusiasmo que me invade quando sinto que fiz uma grande descoberta.
 
Bad Blood teve todo o tempo do mundo para ser concebido. A espera foi longa mas compensou, porque 8 meses depois as minhas suspeitas confirmaram-se: eles são muito muito bons. O álbum é sem dúvida uma das melhores estreias dos últimos tempos: uma estrondosa colecção de temas coesos, cativantes e que, acima de tudo, trazem um novo colorido e entusiasmo ao panorama musical. Não há um único momento morto ou menos apetecível: são 13 temas triunfantes e irresistíveis.
 
Não são um portento lírico - apesar das letras serem honestas - nem vocal - apesar do timbre bonito de Dan Smith. A sua força reside na capacidade de contornar os truques habituais e encontrar novas formas de transmitir as mensagens de sempre. E nisso os Bastille são um autêntico prodígio: o auto-tune não entra, a magia é feita à base de coros e das potencialidades ilimitadas da voz como instrumento principal.
 
Se para um pai não há melhor alegria do que ver um filho a dar os primeiros passos, então para um melómano arrisco-me a dizer que não há maior felicidade do que ver alguém por ele acarinhado a ser bem sucedido e a trilhar um percurso emocionante. Bad Blood é o início de algo belo. E um grande foco de esperança.
 
Classificação: 8,6/10


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