Elas atravessam tempos difíceis
Hoje decidi fazer algo diferente e abordar um assunto que há já algum tempo me ocupa o pensamento: casos críticos do panorama musical. Portanto, decidi pegar em 8 senhoras que para além de inúmeros atributos têm todas uma coisa em comum: deixaram o sucesso escapar por entre os dedos e têm-se pautado por rotundos fracassos. Vejamos os casos à lupa:
Christina Aguilera
Nome de código: The Voice
Caiu em desgraça em: 2010
O que correu mal: Primeiro foi a incursão pela electropop em Bionic (2010), sendo que foi criticada pela falta de consistência do álbum e por não conseguir impôr-se perante a supremacia de Lady Gaga. O impacto comercial foi catastrófico. Em 2011 voltou aos lugares cimeiros das tabelas graças a "Moves Like Jagger" e integrou o júri do talent show The Voice: pareciam estar reunidas as condições para um regresso em grande. Tal não se verificou e Lotus (2012) tem-se revelado uma tragédia de proporções épicas.
O que eu penso: Custa-me imenso ver uma das maiores artistas da minha geração numa situação destas. Lotus não é um mau álbum, bem pelo contrário, está recheado de artilharia pop destinada a fazer mossa nas tabelas. Encontro três explicações: a falta de promoção em torno desta era (concertos nem vê-los e vídeos até agora só um), o seu conhecido mau feitio (é suposto que uma estrela pop seja simpática, certo?) e as críticas em torno da sua imagem (bastante roliça, convenhamos) que remetem o importante - a música - para segundo plano.
Situação actual: Aparece ao lado de Pitbull em "Feel This Moment" e planeia lançar "Let There Be Love" como próximo single de Lotus. Não fará milagres mas uma coisa é certa: pior do que está não pode ficar.
Redenção: Se não veio com Lotus então significa que Xtina deve abandonar a pop comercial e optar por temas que dêem o devido brilho à sua voz, um pouco à semelhança do que aconteceu em Back to Basics. Seja aos 40 ou 50, o melhor de Christina Aguilera ainda está para vir.
Leona Lewis
Nome de código: Tempestade Silenciosa
Caiu em desgraça em: 2012
O que correu mal: Glassheart, o seu último álbum, estava condenado desde logo à nascença, tendo sido alvo de sucessivos adiamentos e de indecisões quanto ao rumo a seguir. Resultado: o álbum teve uma mísera prestação na tabela de álbuns britânica e "Lovebird", o 2º single, nem sequer conseguiu entrar para o top 200. Ouuchh!
O que eu penso: Leona Lewis, à semelhança de Xtina, tem uma voz formidável. E pouco mais. O seu grande problema é a falta de uma identidade artística, motivo pelo qual o Reino Unido tem perdido o interesse nela. E, por incrível que pareça, Glassheart até é o seu álbum mais coeso à data. Acima de tudo, falta-lhe alguma chama e garra para se manter à tona neste panorama tão competitivo que vive de timings. E este não foi definitivamente o mais indicado para o seu regresso.
Situação actual: Colocou um ponto final na era de Glassheart, mudou de agência e encontra-se a trabalhar no seu 4º álbum a ser lançado ainda este ano. Simon Cowell não brinca em serviço.
Redenção: Poderá chegar já no próximo álbum, caso este seja o pontapé de viragem na sua carreira. Quem sabe se o sabor do fracasso não despertou a "besta musical" que há em si?
Ciara
Nome de código: Dancing Warrior
Caiu em desgraça em: 2009
O que correu mal: A sua carreira começou a desmoronar-se com Fantasy Ride (2009), salvo apenas pela boa prestação comercial de "Love Sex Magic". Seguiu-se Basic Instinct (2010), que mal chegou às tabelas e desde então todo e qualquer single por ela lançado não obtém qualquer sucesso comercial.
O que eu penso: Acho que estamos perante um caso de insucesso crónico. E o que mais me inquieta é não perceber a razão. Pode não ser um portento vocal, mas é uma artista que tem demonstrado coisas bastante interessantes ao longo da sua carreira. Tem uma sensibilidade única para temas R&B, dança como se não houvesse amanhã (melhor até do que Beyoncé) e noto-lhe paixão em tudo aquilo que faz. Parte-me o coração vê-la sem o reconhecimento merecido. Chega a doer.
Situação actual: Prepara-se para lançar em Junho o seu 5º álbum, One Woman Army, um ano após o previsto. "Body Party", o seu mais recente single, tem recolhido uns quantos elogios.
Redenção: Acho que está destinada (injustamente) a ser um artista de série B, que dificilmente extravasará os confins da América e do R&B. Afinal de contas, como é que poderá haver redenção se ela nunca fez nada de errado para a merecer?
Nelly Furtado
Nome de código: Espírito Indomável
Caiu em desgraça em: É difícil precisar, mas algures em 2010
O que correu mal: Uma junção de duas coisas: o longo hiato que fez entre a edição de Loose (2006) e The Spirit Indestructible (2012) e a escolha de um caminho menos comercial. Resultado: o último álbum e os respectivos singles tiveram uma aparição muito fugaz pelas tabelas
O que eu penso: Nelly Furtado é dona de um dos percursos mais interessantes dos últimos anos. Inquietante e metamórfica, não se pode acusá-la de ser aborrecida. Mas, acima de tudo, é extremamente corajosa. Quantos seriam capazes de fazer o que ela fez? Virar costas ao que havia construído e seguir em frente com um álbum que à partida ninguém se iria interessar. The Spirit Indestructible foi feito para os fãs e foi o preço a pagar por alguém que preferiu manter a integridade artística. Louvada seja.
Situação actual: Suponho que esteja muito pouco ou nada preocupada com o que lhe aconteceu. Sabia ao que ia. É vê-la a editar singles - "Waiting for the Night" e "Bucket List" - e a seguir caminho, a sorrir e sem remorso algum.
Redenção: Mestre na arte da metamorfose, regenera-se a cada nova era, daí que é altamente provável que num futuro não muito longínquo esteja novamente na berra.
Duffy
Nome de código: Brigitte Bardot
Caiu em desgraça em: 2010
O que correu mal: O seu último álbum, Endlessly (2010), esteve muito longe de igualar o sucesso alcançado com Rockferry, o disco de estreia lançado em 2008. O fracasso quase a fez desistir da carreira musical e levou-a a fazer um hiato que dura até aos dias de hoje.
O que eu penso: Duffy apareceu numa época em que se assistia a uma nova vaga soul, uma febre iniciada por Amy Winehouse. O timing da sua estreia foi, por isso, perfeito. Em 2010 as coisas tinham mudado: a electrónica tinha tomado conta das preferências das massas e a soul voltou a estar fora de moda. Parece-me também que é uma pessoa sensível e que, inclusivé, esteve à beira de um esgotamente nervoso quando "Mercy" se tornou um êxito. Talvez não tenha sido feita para este meio.
Situação actual: Como já referi, optou por fazer uma pausa sabática após as coisas terem corrido mal. Foi o melhor que podia ter feito. É provável que já tenha iniciado os trabalhos para um eventual 3º álbum, mas por enquanto nada se sabe.
Redenção: Acredito que Duffy não seja uma one-hit-wonder. Entretanto o panorama musical sofreu uma reviravolta causada por Adele e as coisas mudaram novamente. É a altura ideal para o seu regresso. E para ser perdoada.
Pixie Lott
Nome de código: Legs-a-Lott
Caiu em desgraça em: 2011
O que correu mal: Turn It Up (2009), o álbum de estreia, vendeu 1 milhão de cópias no Reino Unido. O seu sucessor, Young Foolish Happy (2011), ficou-se pelas 100 mil. Palavras para quê?
O que eu penso: Ela tinha tudo - a voz, uma cara laroca, um belo par de pernas e uma personalidade musical interessante. Em 2011 tudo se manteve menos o mais importante: a qualidade da música. O charme da estreia desvaneceu-se e deu lugar a uma artista bastante mais sexualizada e adepta do lucro fácil. De todos, Pixie é o caso menos grave: é jovem, bonita e ainda se está a descobrir. Em suma: é a que mais facilmente recuperará.
Situação actual: O erro de percurso fê-la tomar uma boa decisão: voar até Nova Iorque para trabalhar num disco influenciado pelos sons da Motown. O 3º disco de Pixie Lott será, por isso, uma viagem aos tempos áureos da soul.
Redenção: Ponho as minhas mãos no fogo em como vai acontecer já no próximo álbum. É impossível resistir-lhe, daí que basta encontrar o caminho certo e todos lhe cairão aos pés.
Alexandra Burke
Nome de código: The one that got away
Caiu em desgraça em: 2012
O que correu mal: Parece atingida pela maldição do The X-Factor: após ter ganho o concurso, editou Overcome (2009) e foi um autêntico sucesso de vendas. No ano passado lançou Heartbreak on Hold, o seu 2º álbum, tendo-se revelado um retumbante fracasso. Para tal pesou o facto de ter optado por uma sonoridade mais electrónica e por ter mudado de editora, virando costas a Simon Cowell. Basicamente, este tramou-lhe a vida.
O que eu penso: Este podia ser daqueles casos típicos que tantas vezes vimos associados aos talent-shows, mas aqui é ligeiramente diferente: a decisão de abandonar a Syco, a editora de Simon Cowell, saiu-lhe bem cara. Curiosamente, caiu ao mesmo tempo que Leona Lewis, com a diferença de que esta continua a ser fiel a Cowell e é um nadinha menos interessante a nível artístico. Acredito que, com o tempo e decisões acertadas, Alexandra Burke pode vir a tornar-se numa nova Whitney Houston.
Situação actual: Não perdeu tempo a chorar sobre leite derramado e diz ter já cerca de 60 canções prontas para o seu próximo álbum, numa onda mais R&B e soul, à semelhança do seu álbum de estreia.
Redenção: Também não lhe será difícil recuperar. O Reino Unido tem bastante consideração por ela e basta voltar a ser o que era para cair de novo nas boas graças do público. Além disso, é certo e sabido que as pessoas gostam de um regresso em grande depois de um fracasso épico.
Natasha Bedingfield
Nome de código: Colibri
Caiu em desgraça em: 2007 (no Reino Unido) e em 2010 (EUA)
O que correu mal: O trajecto desta britânica é curioso. Em 2004 lança Unwritten na Europa e um ano mais tarde na América, atingindo sucesso em ambos os continentes. Em 2007 edita N.B., álbum que é mal recebido no Reino Unido e desde então cortou relações com o seu país de origem. Eis que em 2008 se vira para os EUA e edita Pocketful of Sunshine, projecto bem sucedido em terras do Tio Sam. Em 2010 volta à carga com Strip Me, mas o desempenho comercial é uma desilusão. Aqui a rejeição é a dobrar.
O que eu penso: Gosto muito desta artista. Acompanho-a fielmente desde que surgiu e acho que tem uma presença radiosa aliada a temas bastante positivos que a diferenciam das suas "colegas". O único grande erro da sua carreira foi ter virado costas ao Reino Unido e ter-se aventurado no competitivo solo americano. Agora o seu desafio passa por reconquistar os britânicos e talvez deixar a América para segundo plano.
Situação actual: Encontra-se a preparar o seu 4º álbum, desta feita numa escala mundial e não apenas direccionado para os EUA. É o mais acertado que tem a fazer.
Redenção: Não será fácil para Natasha Bedingfield voltar a ser amada pela pátria que rejeitou durante 5 anos. Tal como não será fácil voltar a conquistar a América. Ainda tem muito para mostrar, mas não estou certo de que as pessoas a queiram ouvir. Será precisa uma boa dose de paciência e empenho.
Para além de partilharem um mesmo destino infeliz, estas 8 artistas têm algo mais que as une: a capacidade para darem a volta por cima. De outro modo nem sequer teria perdido tempo a falar delas. Casos destes há muitos por aí, mas a maioria está onde está porque não tem talento. Christina Aguilera, Leona Lewis, Ciara, Nelly Furtado, Duffy, Pixie Lott, Alexandra Burke e Natasha Bedingfield podem não estar ao mesmo nível, mas nenhuma delas merecia ser alvo de desprezo. Se é verdade que todos erramos, também é verdade que ninguém merece ser perseguido e culpado por erros de percurso e escolhas menos felizes. Espero um dia mais tarde poder voltar a falar delas, mas num cenário diferente, no qual todas tenham conseguido voltar a ser o que eram.
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