REVIEW: Hurts- Exile

 
Antes de chegar à tão desejada análise ao novo álbum de Justin Timberlake, há uma outra que se impõe: Exile, o segundo disco dos Hurts. Só agora tenho oportunidade de a fazer e não a queria desperdiçar, uma vez que há 3 anos atrás conquistaram-me com o seu álbum de estreia. Estou por isso expectante em saber se o novo trabalho deste duo me conseguirá fascinar tanto quanto Happiness. Movido por respeito e curiosidade, aqui vou eu:
 
1) Exile- O tiro de partida dá-se com o tema título do álbum, que mostra uma faceta desconhecida dos Hurts: a de banda de estádio. Logo ao início parece que querem deixar bem claro que o que se seguirá é uma rotura com o passado, um explorar de novas fronteiras. Começam bem, apesar de ligeiramente diferente do que estava à espera. (7/10)
 
2) Miracle- O antémico 1º single de Exile é uma prova da evolução deste duo: é ambicioso, opulento e gigante na sua sonoridade. Rivaliza com os compatriotas Muse e Coldplay, não ficando nada atrás dos recentes trabalhos destes. Apesar das óbvias comparações, "Miracle" é rei no campeonato  do dramatismo eloquente. Gosto, pois claro. (8/10)
 
3) Sandman- Não estava mesmo nada à espera do que encontrei neste 3º tema. Não percebo se é uma tentativa de soarem contemporâneos e cool, mas é uma aventura que, no meu entender, lhes saiu um pouco ao lado. A batida fica no ouvido, mas tudo o resto é muito duvidoso. Se não fosse a toada sinistra nunca me passaria pela cabeça estar a ouvir Hurts. (6/10)
 
4) Blind- Do momento mais estranho passamos para um dos mais bem conseguidos. Pela primeira vez identifico o espírito de Happiness: esta sim, é uma balada à la Hurts. Mesmo sendo um tanto ou quanto comercial a mais para aquilo que é hábito vindo deles, entranha-se facilmente no ouvido. A produção parece algo saído das mãos de Ryan Tedder (mas não é) e a letra tem momentos aterradores como "cut out my eyes and leave me blind". Bolas! (8/10)
 
5) Only You- Aos poucos o duo vai acalmando a sede ambiciosa que os estava a levar por caminhos sinuosos. "Only You" é o primeiro tema demarcadamente synthpop que encontro e apenas peca por ser um pouco monótono, sempre na mesma linha. Mas tem um certo charme dos anos 80 e o tal encanto que tardava em aparecer. (7/10)
 
6) The Road- Ouvi-a pela primeira vez há quase 3 meses atrás e ainda hoje me faz tremer de assombro. Tenebrosa e arrepiante, nunca antes os Hurts tinham soado tão negros e estranhamente encantadores ao mesmo tempo, como se tivessem saído de uma fábula amaldiçoada. A progressão é fabulosa e atinge níveis grandiosos com o final em modo dubstep. Está muito perto da perfeição. (9/10)
 
7) Cupid-  A segunda metade de Exile começa com outro momento inesperado. "Cupid" soa-me a algo saído do vasto reportório dos Depeche Mode e é deliciosamente perigoso. Theo Hutchcraft põe de lado a máscara de dor e mostra uma faceta nunca antes vista: a de apaixonado sinistro. E o mais impressionante é que este novo ímpeto lhes assenta como uma luva. (8/10)
 
8) Mercy- Esta dá-me o mesmo tipo de arrepio fantasmagórico que senti em "Sandman". O que não é bom. Há um lado sonoro preverso do duo que está a vir ao de cima e que não corresponde nada à ideia que tinha deles. "Mercy" parece saída de um horrendo pesadelo sem fim e só me dá vontade de fugir a sete pés. Para nunca mais ouvir. (5/10)
 
9) The Crow- Depois de 3 tenebrosos temas de seguida, Exile estava justamente a precisar de mudar de ares. "The Crow" é também ele negro, mas majestosamente belo e tem certas parecenças com "Wicked Game". O pesadelo confunde-se com o sonho e a voz do senhor Theo reluz como ouro. A fasquia volta a subir. (8/10)
 
10) Somebody to Die For- Estão de volta os Hurts tal como os conheci: desolados e repletos de mágoa. Este tema passa por irmão gémeo de "Blind", mas tem um pouco mais de substância que o congénere. Gosto especialmente da parte orquestral. E prefiro esta faceta: antes chorando do que a fazer chorar. (8/10)
 
11) The Rope- Quando dou por mim a pensar onde raio se terá metido a synthpop que tão bem lhes assentava, eis que esbarro com ela ao 11º tema. Só não foi bem como esperava. "The Rope" não está muito distante do universo de M83 e, com os devidos toques, quase que passava por um hit dance pop. Gosto, mas preferia mais contenção e menos espalhafato. (7/10)
 
12) Help- À semelhança do que aconteceu em Happiness com o belíssimo "The Water", também Exile reserva para o derradeiro momento uma bonita canção adornada por um piano e um coro épico. Depois de um álbum tão negro, é bom acabar com uma nota de esperança. (8/10)
 
Concluída que está a audição, é seguro dizer que os Hurts passaram o teste do díficil segundo álbum. Mas nem por sombras são os mesmos de há 3 anos atrás. Não se queria uma repetição de Happiness, pretendia-se sim uma evolução. E foi isso que aconteceu. Com Exile os Hurts expandiram a sua sonoridade (deram as boas-vindas à guitarra eléctrica e ao dubstep), as influências (agora mais que nunca soam a Muse e a Pet Shop Boys) e tingiram ainda mais de negro a sua essência (oiça-se "Sandman" e "Mercy" com péssimo resultado ou "The Road" e "The Crow" no pólo oposto da grandiosidade).
 
Convém reconhecer que Exile é também fruto de uma grandiosa ambição por parte do duo que talvez os tenha feito cometer alguns excessos. Houve até certas alturas que eu nem os reconheci, dada a súbita mudança de carácter melódico: tem, por isso, uma certa falta de equilíbrio. Senti também falta da roupagem synthpop que revestiu a sua estreia e de temas formidáveis como "Wonderful Life" ou "Sunday", tão deliciosamente 80's. E não sei até que ponto sou fã das vestes negras que cingiram o álbum. Não obstante isso, está aqui um óptimo trabalho de um duo do qual continuo a gostar bastante e que desconfio que ainda fará grandes discos no futuro.
 
Classificação: 7,4/10

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