Odisseia Musical: 2004, O Fascínio- Parte III

Não é da boca para fora quando afirmo que o ano de 2004 me fascinou completamente. Talvez porque era uma criança facilmente impressionável com os vídeos que via na MTV, mas quero acreditar que houve algo mais. Tudo tinha um outro brilho, um outro encanto, que entretanto se perdeu.

Para tal muito terá contribuído a massificação das tecnologias de informação e comunicação que revolucionaram as nossas vidas, para o bem e para o mal. Se somos o que somos hoje, devemo-lo à tecnologia e ao impacto que esta causou.

Ainda sou do tempo (oh deus, pareço tão velho a dizer isto) em que comprar discos era tão comum quanto comprar um livro. Em que ficava horas à espera frente à TV para que desse aquele vídeo que tanto queria ver. Em que os próprios vídeos eram objectos de culto e não montras de produtos. Em que os VMA's e os EMA's eram um acontecimento imperdível. Ou em que a electropop era uma miragem e as colaborações entre artistas eram mais do que uma troca de favores.

Hoje em dia, vivemos no tempo em que poucos são aqueles que compram álbuns, preferindo recorrer aos downloads ou aos recentes serviços de streaming. Em que o youtube substituiu a MTV como meio principal de divulgação de videoclips, também eles transformados em meras ferramentas de marketing. Em que as cerimónias musicais roçam o ridículo e resumem-se a uma questão de popularidade. Em que a electropop já enjoa até ao tutano e os duetos, na sua maioria, resumem-se a uma verborreia crónica.

Considero-me um sortudo pelos meus primórdios de melómano pertencerem à era pré-digital e de só ter dado o salto tecnológico uns anos mais tarde. Acho mesmo que se fosse hoje, não teria tido tamanha paixão pela música. Não nesta era que priveligia a quantidade em detrimento da qualidade, que vive de modas virais e de valores questionáveis.

É claro que nem tudo é mau. Veja-se este blog, o reflexo da minha paixão por música, apenas concretizável graças aos avanços tecnológicos. A questão é que eu, pelo menos, construí a minha identidade musical sem influências de terceiros. Do discman ao mp3, da MTV ao youtube, de uma simples folha de papel até este blog. Não esqueço o passado, reflicto o presente e sonho com o futuro.

Os temas que mais me marcaram

6º Maroon 5- "She Will Be Loved", Songs About Jane

Este tema remonta ao tempo em que os Maroon 5 ainda eram uma banda decente, estando longe da monótona pop comercial em que se afundaram. "She Will Be Loved" é um belíssimo tema, talvez o melhor que alguma vez lançaram, ilustrado por uma competente narrativa. Simplesmente inesquecível.


5º Keane- "Somewhere Only We Know", Hopes and Fears

Nem a propósito, esta canção reúne a essência do que tentei exprimir nos parágrafos acima. Sempre que a oiço, sou transportado à minha infância, a um tempo em que fui muito feliz. A magia do tema é que cada um viaja a um lugar/época/sentimento que o marcou. Para mim evoca nostalgia e deixa-me sempre comovido.


4º Avril Lavigne- "Nobody's Home", Under My Skin

Semelhante ao que aconteceu com os Maroon 5, também a Avril Lavigne de 2004 estava na plenitude das suas faculdades artísticas. Ainda hoje considero "Nobody's Home" um dos melhores temas da sua carreira, em que demonstrou uma crueza emocional que jamais conseguiu igualar. A partir daqui foi sempre a descer.


Os álbuns que mais me marcaram

2º Natasha Bedingfield- Unwritten

O álbum de estreia de Natasha Bedingfield marcou-me pela sua cativante colecção de temas sabiamente produzidos que balançam entre a pop, R&B e soul, envoltos pela sua voz voluptuosa e sonhadora. A minha admiração por ela já vem, portanto, desde longe. Pena que a sua restante discografia não esteja ao nível de Unwritten e que ela não tenha o reconhecimento merecido. Guardo boas memórias não só dos singles mas também de temas como "Silent Movie" e "Wild Horses".
Este é o álbum de: "Single", "These Words", "Unwritten" e "I Bruise Easily"

Fim da parte III. A odisseia musical de 2004 conhece o seu desfecho na próxima semana. Não percam o último capítulo.

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