REVIEW: Jennifer Lopez- A.K.A.


Com a chegada do Verão dou ouvidos a um dos primeiros lançamentos da época estival: o novo álbum da sempre cativante J.Lo, naquele que parece ser um reflexo das suas múltiplas facetas de entertainer. A.K.A. assinala o seu regresso aos discos desde que se divorciou, reencontrou o amor, reconquistou a popularidade há muito perdida e encontrou uma nova editora discográfica. É verdade que aprendi a ter as expectativas em baixo no que toca à sua música, por isso já me dou por muito contente se metade do disco for tão escaldante - damn, esta mulher é uma deusa - quanto a capa que o ilustra:

1) A.K.A.- O tema-título é um tiro de partida certeiro, deveras memorável. "It took you too long/ to find out what you want/ right now, I'm too gone/ to stay around/ switching up my style" - assim canta uma J.Lo bastante assertiva, naquilo que soa a um testemunho de poder, independência e emancipação. Com um background sonoro quase reminiscente do crunk - e tanto que isto me faz lembrar Ciara - é apelativo q.b. para não desmoralizar ouvintes logo ao princípio. Apenas acho que a participação de T.I. não deveria ser tão demorada. Fora isso, até estou muito bem impressionado. (8/10)

2) First Love- Há muitos anos que não gostava tanto de um tema de J.Lo. Acho mesmo que é o seu melhor tema em muito tempo - suculento, irresistível e apaixonante, como um bom tema pop deve ser. O facto de ser produzido pelo lendário Max Martin explica em parte porque é que isto funciona tão bem. Mas acho que também há por aqui uma razão afectiva: lembra-me o porquê de gostar tanto dela. Ouvi-lo é como se largos anos de paixão reprimida voltassem à tona e eu fosse novamente o rapaz de 11 anos que um dia se perdeu de amores por ela. Não o primeiro, mas um grande grande amor. (9/10)

3) Never Satisfied- É altura de serem expostos os seus apetites insaciáveis - nada de verdadeiramente impactante, ou não fosse J.Lo uma mulher que ama intensamente de alma e coração. E parece que vão 3 temas notáveis: a força deste reside no refrão, cantado de forma robusta e ágil, equiparável à sua prestação vocal em "Hold It, Don't Drop It". Um clássico J.Lo que dá gosto ouvir. (8/10)

4) I Luh Ya Papi- Pronto, lá vamos nós para a mediocridade. Isto estava a correr tão bem, que eu temia pelo momento em que desse de caras com o hediondo 1º single do disco. É terrível porque ela já cantou sobre "papis" no passado e de forma francamente mais interessante, e depois porque já é suficientemente mau vilipendiar a língua inglesa ao escrever a terminação da palavra desta forma, quanto mais repeti-la incessantemente no refrão. Seria também hipócrita se ocultasse um facto importante: sim, é tudo isto e muito mais, mas... fica na cabeça. E é isso que me impede de lhe atribuir zero pontos. (5/10)

5) Acting Like That- Decididamente, é a Jenny from the Block que aqui se ouve. Canalizando a rapariga do Bronx, J.Lo sai-se com o seu tema mais desafiador e demarcadamente hip hop desde os tempos do seu álbum de remixes, que tinha uma costela urbana muito vincada. Prefiro a sua faceta mais pop e latina, mas reconheço que esta incursão não é nada de deitar fora. Além do mais, temos Iggy Azalea para abrilhantar ainda mais o cenário. Respect. (7/10)

6) Emotions- Oops, escorregadela aparatosa. Como e porquê? É a típica balada sensaborona que já se ouviu em muitos álbuns seus no passado, com a diferença de que se antes jogava pelo seguro, agora deu-lhe para tentar - e fica-se pela tentativa mesmo - atingir notas vocais para as quais não nasceu para cantar. E por esta altura, J.Lo já deveria saber quais os limites da sua voz e ter aprendido a não ultrapassá-los. O resultado é uma balada deplorável com versos igualmente deploráveis: "someone took my emotions/ I feel good cause I don't feel bad". Wait, whaaaaaaaaat??!!! (4/10)

7) So Good- Felizmente que J.Lo  rapidamente volta a recuperar as suas emoções e o bom-senso também. Este 7º tema é tal e qual o nome indica: so so good. É errado que me soe algo Daft Punkiano? Porque soa como se a dupla francesa, encantada pelos atributos da cantora, tivesse levado a sua nave espacial até ao gueto e de lá tivesse saído isto. O mérito vai todo para Youngblood, que já deixou a sua marca no 1º e 5º temas. (7/10)

8) Let It Be Me- Se há canção no disco capaz de me deixar pasmado, é esta. Como se quisesse redimir da valente porcaria que fez em "Emotions", a redenção chega na forma deste hercúleo "Let It Be Me", bonita carta de amor que recebe a prestação vocal mais inspirada que alguma vez se ouviu da parte de Miss Lopez - de tal forma que até me deixa meio abananado. O segredo está na forma como é interpretada: a letra é toda em inglês, mas a alma é castelhana e a entrega digna de uma latina perdidamente apaixonada. Chora-me um rio. (8/10)

9) Worry No More- A batida é boa, o flow de J.Lo e Rick Ross também, mas a canção acaba por se tornar monótona logo passado o primeiro minuto. Para além de que é um a.k.a. já muito emulado ao longo do alinhamento - quase que anseio por um número mais virado para a pista de dança. Vamos lá deixar o Bronx em paz, ok? (6/10)

10) Booty- Pedi-o e aqui o tenho - mesmo no cair do pano, o tão ansiado dance floor banger. E então este que não esconde ao que vai: é para abanar o belo do traseiro ora em modo poll dance ou modo twerk. Parece-me uma versão descarada de "big booty bitches" (esse escabroso êxito viral de há uns anos atrás), mas com uma melodia de fundo algo bollywoodesca. Sendo esta a parte do corpo mais célebre de J.Lo, não sei como não se lembraram de fazer uma canção sobre isto mais cedo. Shake that! (7/10)

A.K.A. nunca seria à partida um álbum genial. Afinal de contas, a coerência e sagacidade artística nunca foram o forte de J.Lo. Mas, para todos os efeitos, é um disco muito bom vindo de quem vem - talvez o melhor que edita desde Rebirth (2005). Para um álbum cuja premissa assenta no desdobramento de personas artísticas, acho que falha a sua missão. Vi de facto muitas facetas suas, mas não nas doses e medidas certas: sinto que J.Lo talvez tenha passado demasiado tempo no Bronx (oiçam-se "A.K.A.", "Acting Like That", "So Good" e "Worry No More") e na companhia de rappers que não raras vezes a ofuscam (a culpa é de T.I., Iggy Azalea e Rick Ross). Às tantas senti falta da costela hispânica, da agitadora da pista de dança (a chicha de "Booty" não chega para tirar a barriga de misérias) e do espírito leve e divertido que muitas das suas criações transportam. Nesse aspecto pode-se dizer que a animação reside toda na edição deluxe do álbum, em que "TENS", "Troubeaux" e o delicioso "Expertease (Ready Set Go)" lançam os foguetes e ainda apanham as canas.

Talvez seja um álbum que se leva demasiado a sério. Ou então é uma tentativa bem conseguida de recuperar a sua street credibility. Sei apenas que 15 anos de carreira e 8 álbuns volvidos, J.Lo já não tem nada a provar. Os que não gostam viram a cara e seguem caminho. Já os que gostam, sabem ao que vão e dificilmente ficam desiludidos - porque mesmo quando a música falha, o carisma e a paixão desta senhora são suficientes para que continue a ter lugar cativo no nosso coração. I luh dizz womah.

Classificação: 6,9/10

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