O que há para dizer acerca do Ídolos 2015 #1

Havia mesmo necessidade de ressuscitar o Ídolos para uma sexta encarnação? É provável que não. O público já mostra sinais de cansaço perante o formato talent show e nem apostando num dos seus conteúdos-estrela a SIC quebra a corrente. Mas muito mérito tem que ser atribuído ao programa por chegar à sua 6ª edição ao longo de 12 anos de actividade intermitente - deve ter inaugurado um qualquer recorde televisivo nacional pelo caminho.

Pensava que era desta que me deixava decididamente destas coisas, mas acho que não consigo ignorar um programa pelo qual tenho tanto apreço e que faz parte da história deste blog. E voltar a ele (sem compromisso e moderadamente, atenção) com uma perspectiva e olhar diferente ao das últimas três edições, será também um exercício de progressão. E aqui somos todos pela evolução, certo? Há 9 episódios para serem sintetizados nos parágrafos seguintes:

A grande diferença face às temporadas anteriores é a ausência de Moura dos Santos, o jurado mais temível de todos os tempos que era símbolo de todo o negativismo em torno do programa. Rei morto, rei posto por dois senhores a disputar qual deles o maior vilão: o repetente Boucherie, o hipster grisalho lá do sítio que continua repleto de tiradas mordazes (umas muito boas, outras de evitar) e signor Ventura, a mostrar-se mais desagradável e arrogante que o costume (lá deve achar que é o único a perceber de música). O papel de bond girl desta era cabe à encantadora Maria João Bastos, arrasada pelas críticas dos espectadores no seu papel de jurada. Ora, a senhora não tenta parecer mais do que é: serena, correcta, com observações pertinentes, apoiando-se na sua formação de actriz para dar a dinâmica necessária ao programa (seja quando este pede suspense, humor, tensão ou afecto) com o bónus de ser bonita à brava. Prefiro-a em todos os aspectos à Roberta e Bárbara, as suas antecessoras.

Ao início causava alguma estranheza ver o João Manzarra a solo na condução de um programa que sempre teve tradição de duplas, mas há cortes orçamentais que vêm por bem. A Cláudia é uma figura simpática, sim, mas a química com o Manzarra já teve melhores dias. Rentabiliza-se assim um excelente showman que ainda veste o vestido Gucci $$$$ e a peruca caso seja preciso. Vai muito bem, mesmo.

O programa em si alternou entre a comédia/falta de sensibilidade/monotonia na fase de castings e teatro. Aliás, nesta última nunca vi tanta desorganização, falta de investimento e incompetência reunidas (entre elas permitir a passagem directa de concorrentes, obrigar todos a cantar o mesmo tema no chorus line ou proporcionar 2/3 boas actuações entre 15, e aqui não sei se a culpa é dos candidatos ou da celeridade com que a produção parece ter guiado o processo). Surpresas à séria só chegaram na última emissão: substituir as aborrecidas decisões finais (tu ficas, tu vais, tu és bom mas não o suficiente para nós, blah blah blah) por concertos ao vivo seguidos do veredicto, foi a melhor coisa que já vi nesta edição. E a escolha dos jurados, não foi nada má, não.

Penso que nunca concordei tanto com um leque de finalistas quanto este. Sigamos a ordem da fotografia, da frente para trás e esquerda para a direita:


Miguel Moura dos Santos- Não deixa de ser caricato que a presença de Moura dos Santos ainda se faça sentir, agora através da descendência. Mas que isso não seja razão para ostracizar o rapaz, que não se livra do vulto mas parece ter talento de sobra. Não começou da melhor forma, mas foi crescendo até à audição final. Aquele "Drops of Jupiter" foi estupendo.

Andresa Tavares- Percebo que a atracção pelo Andresa fosse irresistível, mas não era razão para largar o nome próprio. De qualquer forma, a rapariga tem tudo - postura, solidez e assinatura vocal. Corria o risco de ficar colada à imagem de singer-songwriter nas ocasiões em que cantou Gabrielle Aplin, mas vê-la a defender tão bem a "Deeper" de Ella Eyre mostrou que há mais vida no planeta Andresa. É das minhas favoritas.



Paulo Sousa- A redenção joga-se aqui e agora. Guardo más memórias da sua participação no Factor X mas sempre lhe reconheci talento enquanto solista. E é nessa condição que fará um percurso brilhante nesta edição - veja-se o que tem feito até aqui, com destaque para as duas últimas provas. Se não for para vencer, é para andar lá perto.



Rita Nascimento- Esta já vem de outros campeonatos. Podia ter esquecido a cara, mas aquela voz (assim meio de menina franzina que exagerou na dose de espinafres) não. Pautou-se por uma imensa garra e confiança ao longo das audições, e esteve particularmente bem no concerto ao vivo. Mereceu o seu lugar mas não sei se o conseguirá defender por muito tempo. 

Sara Martins- Não percebo porque razão entra na fase do teatro sem ter passado pelo casting inicial, mas daaaaammn, that chick is fire! A existir uma excepção para que as regras fossem quebradas, ao menos que tenha sido por uma concorrente assim. A defrontar-se desta forma nas galas, chegará facilmente à final com... *continuem sintonizados para descobrir*



Mafalda Portela- Estrela pop in-the-making, penso que seja a concorrente mais próxima daquilo que o programa esta à procura. Se irá corresponder semana a semana com o mais elevado grau de exigência, não sei, mas prevejo que a estadia seja longa. Aquele "All About That Bass" ainda não me saiu da memória.

Carolina Bernardo- A caçula do grupo. Por cantar incrivelmente bem para a idade que tem, é que penso que seria melhor esperar mais um aninho ou dois até chegar a um formato destes - porque assim ainda só temos uma semi-Carolina, um tufão controlado, quando no futuro teríamos uma candidata a abraçar todo o seu potencial. 

Mário Pedrosa- Outro repetente nestas andanças que me parece ter evoluído bastante desde a última vez que lhe pusemos a vista em cima. Não se destacou logo desde o início, mas nas derradeiras provas deixou uma boa impressão. 

Gonçalo Santos- Parece-me um pouco instável enquanto concorrente, ali sempre o limite entre a intensidade e o descontrolo, mas acho que chega com justiça à fase das galas. Esteve muito bem na última fase do teatro e no concerto ao vivo.

Albert 'Tinho'- A sério, quem é que atribui nomes a esta malta? É bom para um ventríloquo num espectáculo itinerante, para estrela pop é embaraçoso. Esteve ali num vai-não-vai para integrar o lote de 12 finalistas, mas creio que fizeram a escolha certa ao levá-lo em frente - soube interagir com o público, a banda e acertou no jackpot ao cantar Bon Jovi no acappella final. 

João Couto- O patinho feio da competição que começa a transformar-se em cisne. Primeiro parecia que não queria estar ali, mas agora defende com garra e convicção a sua presença, sempre com escolhas musicais muito inteligentes. 

Luís Travassos- Parece haver um padrão comum aos vencedores deste programa: ou se afastam do ideal de estrela pop (à excepção do Diogo Piçarra, só tivemos rockers) ou causam polémica no casting inicial (Filipe Pinto e Sandra Pereira são os exemplos flagrantes). Estão a acompanhar? Pois bem, encontrámos o vencedor desta edição. O desafio será manter-se íntegro ao seu estilo sem vergar totalmente ao artista pop que querem que ele seja.

Futurologia a postos. Pelo que tenho visto, tudo aponta para que os lugares do pódio sejam disputados entre o Luís, Sara e Paulo. Pelo menos é essa a minha aposta. Mas todo o lote de finalistas é muito coeso e capaz de nos proporcionar grandes actuações ao longo das próximas semanas.

Aviso à navegação. Lista de músicas que o povo português não precisa de ouvir pela enésima vez num concurso destes:

Joss Stone- "Right to Be Wrong"
James Morrison- "You Give Me Something"
Kings Of Leon- "Sex on Fire"
Coldplay- "Fix You"
Alicia Keys- "If I Ain't Got You"
Adele- "Turning Tables"
Radiohead- "Creep"
Maroon 5- "Sunday Morning"
Faith No More- "Easy"
Nina Simone/Muse/Michael Bublé- "Feeling Good"

Proibida está também mais uma gala temática aos Beatles. Venha de lá o Michael Jackson de novo. O indie é a nova pop. A música portuguesa não tem que ser quadrada. Mimetizar os topes é coisa do passado. Apostem em versões. Escavem fundo no baú para desencantar pérolas. Façam desta nova - e derradeira, possivelmente - edição do Ídolos, uma temporada inesquecível. Bom programa a todos. 

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