Os 50 Melhores Álbuns Internacionais da Década: 30º-21º


Há mais para conhecer na lista dos álbuns definitivos da década:


30º Rae Morris- Unguarded (2015)


Unguarded (2015) não é só um magnífico álbum de estreia, é um feito de enorme coragem e brio artístico. Quem escutou Rae Morris nos EPs inaugurais, não adivinhava que daquela aura de aparente fragilidade escondida numa torrente de caracóis que entregava tão delicadas composições acústicas, brotava uma chama imensa. A belíssima "Don't Go" pode ter dado início à campanha promocional, mas foi "Skin", uma canção art pop de tirar o fôlego, a esculpir a forma do disco. E dali, só melhorou: do tumulto silencioso de "Do You Even Know?", passando pelos digitalismos de "Cold", aos ecos de Kate Bush em "Under the Shadows", até à indefinição dos caminhos em "Not Knowing". Ariel Rechtshaid, Jim Eliot e Fryars guiam-na com imaculada precisão, mas é a sua manifestação artística arrojada aliada à vulnerabilidade e à sua sensibilidade de porcelana, que tornam Unguarded tão especial.


29º Two Door Cinema Club- Tourist History (2010)


Como é que não se pode aclamar um álbum de estreia que contém canções tão certeiras e imediatas quanto "I Can Talk", "Undercover Martyn", "Cigarettes in the Theatre", "Something Good Can Work" ou "What You Know", pérolas do manancial indie dos anos 10? Tourist History tinha tudo: riffs de guitarra irresistíveis com nervo punk, linhas de baixo bamboleantes, sintetizadores que apareciam sempre na medida e peso certos, cosidos pela voz sempre bonita e afinada de Alex Trimble. Isto tudo servido em trinta e dois minutos de dez inquebráveis canções indie rock/pop que ainda soam à mais vívida recordação do período final da adolescência. E o certo é que os Two Door Cinema Club não voltariam a gravar um disco tão bestial. 


28º London Grammar- If You Wait (2013)


Palavra de honra que 2013 foi o melhor ano da década em termos de estreias em disco marcantes. Os London Grammar assinavam a sua com If You Wait, colecção de belíssimas canções crepusculares, vulneráveis e intimistas, numa indie pop tingida de electrónica downtempo e com ecos de trip hop, que acabam por musicar uma espécie de crise do primeiro quarto-de-século de vida. O grande trunfo do álbum é claramente a voz assombrosa de Hannah Reid - um portento de força, emoção e beleza, sobre a qual a guitarra de Dan Rothman e a bateria e o piano de Dot Major gravitam - que deveria ser candidata a oitava maravilha do mundo. "Hey Now", "Wasting My Young Years", "Sights", "Metal & Dust", "Strong", "Nightcall" ou o tema-título são pontos altos. 


27º Everything Everything- Arc (2013)


Quando um álbum se inicia com um tema tão prodigioso quanto "Cough Cough", terá obrigatoriamente de ser ou um dos maiores discos ou embustes da década. Felizmente que Arc (2013), o segundo da vida dos Everything Everything, alinha pela primeira opção: depois do trucidante cartão-de-visita, há um quase críptico "Kemosabe" que se desvenda a cada nova audição; o negrume de um "Torso of the Week" sobre a cultura excessiva do corpo; um "Duet" que soa ao momento Coldplay da sua existência; o lamento apocalíptico de "The Peaks"; ou as influências R&B que pintam "Armourland" ou "Don't Try". Se é que Man Alive (2010) não havia sido explícito o suficiente, estava aqui uma das bandas mais excitantes e não normativas da sua geração.


26º Marina and the Diamonds- Electra Heart (2012)


Em 2012, Marina and the Diamonds alienava a massa crítica com Electra Heart, um álbum primariamente dance pop e electropop longe das paisagens alternativas de The Family Jewels (2010), que a viu adoptar uma persona moralmente corrompida pelo lado mais ambicioso da ideologia americana, explorada com recurso a quatro arquétipos femininos - Teen Idle, Primadonna, Homewrecker e Su-Barbie-A - que foram desenvolvidos com afinco ao longo de onze vídeos. A crítica pode ter censurado esta sua descaracterização, mas o certo é que Electra Heart permanece um álbum de culto entre os fãs de Marina e os amantes de pop no geral, não só pela elaborada ilustração identitária, mas também porque a força das canções que lá moram - justiça para "Primadonna", "The State of Dreaming", "Power & Control", "Living Dead" ou "Hypocrates" - resiste à passagem do tempo. Electra Heart continua viva num qualquer tumblr e no coração de todos nós.


25º Bastille- Bad Blood (2013)


Em 2013 ninguém fazia tão boa indie pop quanto os Bastille, que se apresentavam ao mundo com uma infalível colecção de canções impecavelmente produzidas onde cabiam influências synthpop e alt dance, coros masculinos, arranjos orquestrais épicos, pianos sentimentais ou referências à mitologia grega ("Pompeii", "Icarus"), sempre pontuadas pela voz imensa de sotaque british acentuado de Dan Smith. Há singles fantásticos na figura de "Things We Lost in the Fire", "Bad Blood", "Flaws", "Overjoyed" ou "Laura Palmer", e canções igualmente incríveis como "These Streets", "Get Home" ou "Weight of Living, Pt. II" que contribuem para que este seu primeiro disco permaneça como o trabalho mais magnífico e singular do seu percurso.


24º Birdy- Birdy (2011)


Não é de todo a ideia mais inovadora de sempre, a de colocar uma adolescente de 15 anos a fazer versões ao piano de temas de terceiros, mas a magia do álbum de estreia de Birdy está na qualidade do repertório escolhido - uma fina selecção de canções de lavra indie pop, folk e rock - e a maturidade com que a pequena se entrega a temas tão densos e, na sua maioria, pesados para a sua tenra idade. Há releituras aladas de Phoenix ("1901"), Cherry Ghost ("People Help the People"), Fleet Foxes ("White Winter Hymnal"), Francis and the Lights ("I'll Never Forget You") ou The National ("Terrible Love") e, claro, a incontornável "Skinny Love". E há também um inédito arrebatador ("Without a Word") que abriria terreno para o cancioneiro inteiramente inédito dos dois discos seguintes. Que o seu verdadeiro potencial se cumpra ao longo da próxima década. 


23º Rihanna- Loud (2010)


Um ano de negrume é demasiado tempo para uma superestrela pop no auge do seu sucesso, daí que a uma era francamente sombria e tenebrosa tenha vindo uma outra completamente vibrante, sonora e garrida. Estávamos em pleno vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante e vermelhão de Loud (2010), um dinâmico corpo de trabalho pop e R&B que marcou as investidas mais massivas de RiRi na pista de dança ("S&M", "Only Girl (In the World)" ou "Complicated") e um retorno à atmosfera insular ("Man Down", "What's My Name?") quase ausente dos dois últimos discos. Há também um inusitado sample de "I'm With You" de Avril Lavigne à solta no deboche de "Cheers (Drink to That)" e um ainda mais impensável de Enya decalcado de "One by One" em "Fading". Junta-se uma das mais inebriantes interpretações do seu percurso em "California King Bed" ou a lascívia carnal de "Skin", et voilà, aí temos o disco mais bem-sucedido de Rihanna nesta década. 


22º Carly Rae Jepsen- Emotion (2015)


Todos desataram a colocar-lhe o rótulo de one-hit wonder assim que o fenómeno em torno de "Call Me Maybe" assentou, mas Carly Rae Jepsen estava decidida a provar que era mais do que uma mulher de um êxito só, e por isso assumiu o controlo criativo do seu terceiro álbum. Reza a história que pelo meio houve um álbum indie folk deitado ao lixo e que foram escritas cerca de 250 canções, mas aquilo em que Emotion acaba por se materializar é num dos melhores álbuns pop da década, pleno de heranças dance pop, synthpop e bubblegum dos anos 80. O tema-título, "Run Away with Me", "Gimmie Love", "Boy Problems" ou "Let's Get Lost" são pérolas maiores, mas o disco mostra o seu arrojo na melancolia de "All That" reflectida numa bola de espelhos por Dev Hynes, ou num vaporoso "Warm Blood" com assinatura de Rostam Batmanglij. Daqui, Jepsen tornou-se na mais respeitada das estrelas pop do seu tempo na esfera indie. Vivemos todos para uma história improvável, não é?


21º Beyoncé- Lemonade (2016)


Talvez seja uma opinião polémica, mas Lemonade não é o melhor disco da carreira de Beyoncé. É, sim, o primeiro em que ela pensa e age como a maior artista da sua geração, tendo o condão de a apanhar na fase mais turbulenta e arrojada da sua vida e percurso, respectivamente. O álbum - também ele visual e lançado de surpresa, à semelhança do último - que documenta a traição conjugal de Jay-Z contém explorações sónicas de pop, R&B, reggae ("Hold Up"), rock ("Don't Hurt Yourself"), blues e gospel ("Freedom"), hip hop, soul ("Sandcastles"), funk, country ("Daddy Lessons"), electrónica ("Sorry") ou trap ("Freedom"), mas acaba por ser sobretudo uma jornada de auto-conhecimento, afirmação identitária e cura. Em suma, uma obra de tal maneira impactante e transformadora, que passados quase quatro anos ainda não conheceu sucessão.


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