As 50 Melhores Canções Nacionais da Década: 10º-1º


Tudo se deslinda na contagem final:

10º Ana Moura- "Desfado" (2012)- Em 2012, Ana Moura já pouco tinha a provar se não a ela própria. Mas daí até fazer um álbum monumental em que se propôs a virar o fado do avesso e procurar novas linguagens dentro do género que a popularizou, ao mesmo tempo que se entregou a uma nova geração de autores da nossa praça, vai uma grande distância. Do ainda mais influente (e vendido) álbum português da década, o tema-título, com assinatura do genial Pedro da Silva Martins, dos Deolinda, é aquele que melhor expressa o seu propósito de existência.

9º Salto- "Deixar Cair" (2012)- Um, dois, três, quatro! Quando os Salto apareceram, em 2012, respondiam apenas por Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro, e resplandeciam pela efervescência indie pop/rock de "Deixar Cair", alta voragem eléctrica sobre deixar de perseguir casos perdidos, típica de quem estudou de fio a pavio a cartilha de estreia dos Two Door Cinema Club, Tourist History (2010) .

8º Capicua- "Sereia Louca" (2014)- É com alguma pena que se constata que o hip hop nacional ainda é sobretudo um universo dominado por homens. Mas há que acreditar que o esforço de Capicua em tentar equilibrar os pratos não foi em vão: 2014 foi sobretudo dela graças a um imenso álbum que reflectia sobre a condição feminina, a passagem do tempo ou o estado do planeta. O angustiante single de avanço jogava de forma genial com as ambições da própria rapper e as expectativas da sociedade perante a mulher, embalado num beat onírico e intemporal de DJ Ride. 

7º Deolinda- "Um Contra o Outro" (2010)- Depois de um belíssimo álbum de estreia que cruzava influências de fado com heranças da música popular portuguesa e os tornou num fenómeno nacional, os Deolinda ganhavam ainda maior encanto e fundamento com um segundo álbum que chegou meros dois anos após Canção ao Lado, antecedido pela canção-torcha "Um Contra o Outro", magnífica prosa sobre despertar para a vida fora dos ecrãs, para a magia do que nos rodeia e que verdadeiramente importa, a provar que o binómio ginga de corpo/comentário social continuava forte no seio do grupo. 

6º Best Youth- "Mirrorball" (2015)- Há uma mão cheia de anos que os Best Youth vinham a assinar momentos de indescritível beleza: fosse com o intimismo cinematográfico de "Hang Out" ou com a reconfortante experiência acústica enquanto There Must Be a Place. Mas seria com a edição de Highway Moon e sobretudo com a chegada a single de "Mirrorball" que a dupla portuense cumpriria o seu potencial: nada menos do que um fantástico tema disco/synthpop carregado de tensão e tingido de dúvida e desolação. 

5º Capitão Fausto- "A Célebre Batalha de Formariz" (2013)- Às vossas posições, atacar! Quem poderia adivinhar que uma invasão de palco numa festa de aldeia que virou batalha campal daria inspiração para aquele que se tornaria no single de ruptura - e o melhor, indiscutivelmente - do percurso dos Capitão Fausto? Psicadelismo a rodos, guitarras em rebuliço e uma secção rítmica desconcertante, a dar o tiro de partida para o álbum da aclamação do quinteto. E assim se fizeram grandes.

4º Isaura- "Useless" (2014)- Que década incrível que Isaura teve. Dos passos iniciais na academia da Operação Triunfo (2010), até à vitória na Eurovisão (2018), no ano em que esta se realizou em Portugal. Pelo meio deu início a uma auspiciosa carreira a solo que teve na apaixonante "Useless" a primeira amostra do EP de estreia Serendipity (2015): uma nostálgica composição electropop de Cut Slack e Raez sobre indefinição romântica, a recordar os ambientes sonoros de George Michael ou Sade da década de 80. A maravilhosa dança de Kelly Nakamura ajudou a trazer o tema à vida. 

3º Gisela João- "Meu Amigo Está Longe" (2013)- Como esquecer o estrondoso despontar de Gisela João, ainda a melhor revelação do fado nesta década. "Meu Amigo Está Longe", original de Amália composto por Ary dos Santos e Alain Oulman feito cartão-de-visita do imaculado disco de estreia, revelava logo ali todos os seus trunfos: voz possante de magnitude sísmica, tacto especial para o manuseamento e entrega dos versos, canções ancoradas na mais profunda tradição portuguesa e todo um figurino irreverente de all-star em riste a quebrar com os ditames. Foi amor para a vida.

2º Salvador Sobral- "Amar Pelos Dois" (2017)- Do tempo em que Salvador foi elevado a messias da pátria. Da altura em que saímos da Eurovisão com uma vitória que demorou 53 anos a conquistar. Da vez em que os manos Sobral tiveram a Europa a seus pés, com uma canção tão delicada e bela em bom português. "Amar Pelos Dois" marca um capítulo tão bonito e mágico na nossa história enquanto povo, que lhe teremos sempre reservado um lugar especial no coração. Obrigado.

1º Márcia com JP Simões- "A Pele Que Há em Mim (Quando o Dia Entardeceu)" (2011)- A canção já vivia no EP de estreia de Márcia editado pela Optimus Discos em 2011, mas ganhou lugar no cancioneiro essencial da música portuguesa graças à versão alargada incluída na reedição de Dá, que recebe o notável contributo de JP Simões, aqui a proporcionar a outra versão de uma história de desvinculação amorosa que é parte triste, parte rancorosa e inteiramente resignada. É das composições mais sublimes ao serviço da língua portuguesa. Neste século e no outro.



Eis a lista completa:


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