Os 50 Melhores Álbuns Internacionais da Década: 10º-1º


Tudo termina aqui:


10º Everything Everything- Get to Heaven (2015)


Ao terceiro álbum, os Everything Everything entravam numa liga à parte com aquele que figura como o equivalente art pop/rock de Yeezus. Com inspiração directa numa série de acontecimentos conturbados no clima político-social-económico do Reino Unido - como as eleições de 2015 ou a crescente ameaça do terrorismo - Get to Heaven é abrasivo, maximalista e desconfortável, como só as grandes obras pertinentes o sabem ser. "Distant Past", "Regret" e "Spring / Sun / Winter / Dread" são eficientes na amostra radiofónica do disco, mas a partir do apropriado "The Wheel (Is Turning Now)", este torna-se ainda mais arrojado, megalómano e genial, com "Fortune 500", "Blast Doors", "Zero Pharaoh", "No Reptiles" - a espelhar a palpitação aterrorizante de "Frankie Teardrop" dos Suicide - ou "Warm Healer" - a encerrar com ligeira nota de esperança - a merecer-lhes um lugar no Olimpo. 


9º Rihanna- Unapologetic (2012)


A tolerância para o sétimo álbum consecutivo de Rihanna em sete anos era escassa, mas uma bem-sucedida reformulação identitária fez de Unapologetic um dos discos mais memoráveis e significativos do catálogo de RiRi, como não acontecia desde Rated R (2009). Este é o álbum em que bangers clubby ("Phresh Out the Runaway", "Jump", "Right Now") convivem pacificamente com malhas trap/R&B ("Numb", "Loveeeeeee Song", "Pour It Up") ou baladas dos sete costados ("Diamonds", "Stay", "What Now"). E, sobretudo, este é o disco em que militam duas das melhores oferendas do seu percurso: "Nobody's Business", a irresistível composição disco pop que veio inaugurar um novo capítulo na história com Chris Brown, e o assombroso díptico electro-R&B/new wave "Love Without Tragedy / Mother Mary", profundamente emotiva e confessional.


8º Kelly Clarkson- Wrapped in Red (2013)


Entre Stronger (2011) e Piece by Piece (2015), Kelly Clarkson gravou um greatest hits e um álbum de Natal maravilhoso que ainda hoje figura como a melhor obra do seu catálogo. Composto por cinco originais - entre eles "Underneath the Tree", o tema-título ou "Winter Dreams" - e onze standards festivos - onde não faltam "Have Yourself a Merry Little Christmas", "My Favorite Things" ou "Baby, It's Cold Outside" - registados ou regravados sob a batuta de Greg Kurstin, Wrapped in Red contém as melhores vocalizações do percurso de Kelly, assinalando também as suas primeiras investidas em terrenos da country, jazz e soul que haveria de explorar com mais afinco nos álbuns vindouros. O seu carácter sazonal é limitador, mas ao mesmo tempo confere-lhe uma bem-vinda magia que entra em cena assim que os primeiros indícios de Natal surgem no ar. 


7º Ariana Grande- Dangerous Woman (2016)


Antes de o ser, Dangerous Woman intitulava-se Moonlight e tinha "Focus" como single de avanço. Este passo atrás foi o que permitiu a Ariana dar dois em frente assim que o voluptuoso tema-título reformulou a campanha promocional daquele que se tornaria - se não no melhor - no mais arrebatador álbum da carreira de Grande. Não se esperava outra coisa de um disco produzido por Max Martin, Savan Kotecha, Ilya ou TBHits - que foram ou se tornaram em estetas-âncora da trajectória de Ari - e que fornece massivos temas R&B ("Let Me Love You", "Bad Decisions", o tema-título), dance pop ("Be Alright", "Into You"), disco pop ("Greedy"), trap ("Everyday"), reggae pop ("Side to Side") ou um tríptico final arrasador composto por "Touch It", "Knew Better / Forever Boy" e "Thinking Bout You". Em suma, a expressão pop maximalista de Ariana Grande, em que cada canção não só tem potencial de single como marca indelevelmente o seu tempo. 


6º Paramore- Paramore (2013)


O quarto álbum dos Paramore funciona como uma regeneração, mas, sobretudo, como uma prova de vida esgrimida em sessenta e três preciosos minutos. Havia uma quanta indefinição sobre os caminhos da banda depois da saída amargurada dos irmãos Farro no final de 2010, mas o grupo decidiu continuar como trio e partir em busca da sua melhor versão possível. O rock alternativo e a pop punk continuaram a permear as novas criações, mas a angústia emo foi dissolvida em prol de tons power pop e new wave e por uma bem-vinda maturidade que os leva a questionar o seu lugar e o propósito no mundo. O designado Self-Titled faz a ponte entre o passado através de temas como "Fast in My Car", "Now", "Part II", "Proof" ou "Be Alone", e o entusiasmante presente com faixas como "Still Into You", "Daydreaming", "Ain't It Fun", "(One of Those) Crazy Girls" ou "Future". É sabido como o drama no seio dos Paramore não terminaria por aqui, mas isso não invalida que esta tenha sido uma acepção bestial e incrivelmente aguerrida da banda. Permanecemos e crescemos juntos. 


5º Foster the People- Torches (2011)


Seria de pensar que "Pumped Up Kicks" era tudo o que o álbum de estreia dos Foster the People teria para oferecer, mas Torches acabou por ser um dos discos mais entusiasmantes de 2011, com outras tantas canções capazes de sustentar o fenómeno suscitado pela dita cuja. Todo um caldeirão de indie pop, indietronica e pop psicadélica esquizóide na linha dos MGMT ou Portugal. The Man trazido à vida pela batuta dos magos Greg Kurstin, Rich Costey ou Paul Epworth e pelas sensibilidades melódicas de Mark Foster, explicadas pelo seu passado enquanto produtor de jingles. Não há ponta de mácula neste disco, mas "Helena Beat", "Call It What You Want" , "Houdini", "Don't Stop (Color on the Walls)" ou "I Would Do Anything for You" merecem um lugar no livro de clássicos do cancioneiro do séc. XXI. 


4º Lorde- Pure Heroine (2013)


Podemos argumentar que Melodrama (2017) é o melhor álbum de Lorde, mas não nos poderemos esquecer o quão transformador foi o seu debute. Lorde tinha quinze anos quando o compôs e gravou com o conterrâneo Joel Little em Auckland. E dezasseis quando este foi editado e se tornou na bíblia de um tempo e de uma geração. De produção soturna, minimal e texturas dream pop e electrónicas, Pure Heroine triunfou pela reflexão vívida da adolescência e pela crítica incisiva sobre aspectos da cultura do mainstream como a fama, riqueza, status social e consumismo. E isto com uma maturidade bem para além dos seus tenros anos, também possibilitada pela sua educação intelectual e disposição geográfica. Canções como "Royals", "Tennis Court", "Ribs", "Buzzcut Season", "Team" ou "Glory and Gore" alteraram o paradigma pop, apontando coordenadas para grande parte dos seus sucedâneos. Nenhum outro artista neozelandês produziu semelhante impacto nesta década, ou neste século, sequer. A Lorde o que é de Lorde.


3º Disclosure- Settle (2013)


Settle (2013) é um disco incrível de uma ponta à outra - não só a estreia mais importante nos meadros da electrónica nesta década, como uma das melhores em qualquer género. Guy e Howard Lawrence, com pouco mais de vinte anos à data, mostravam ser profundos estudiosos da house de Chicago, do techno de Detroit, e do garage e 2-step britânicos: deles partiram para construir as melhores canções de dança com ambição pop jamais ouvidas nos anos 10. Como se não bastasse a força e o dinamismo de temas como "When a Fire Starts to Burn", "F for You", "Stimulation" ou "Defeated No More", Settle vive ainda da energia proporcionada pela colaboração com os novos nomes emergentes do panorama de então: Sam Smith no prodigioso "Latch", AlunaGeorge no alienígena "White Noise", Sasha Keable em "Voices", Eliza Doolittle no trepidante "You & Me", Jessie Ware no robótico "Confess to Me" ou os London Grammar no belíssimo "Help Me Lose My Mind". Será esta a obra de referência a bater na próxima década.


2º Troye Sivan- Bloom (2018)


Bloom estava destinado a ser um dos grandes discos do ano passado assim que "My My My!" rasgou o éter com a sua desafiante expressão identitária em bombástico revestimento electropop. "The Good Side" tratou de comprovar o amadurecimento artístico de Troye, numa mui emotiva reflexão pós-desvinculação romântica em tons Sufjan. O tema-título floresceu com a Primavera e tornou-se no equivalente queer a "Teenage Dream"; "Dance to This" surgiu no Verão para prolongar o encanto com o seu sedutor jogo de poliritmos e influências 80s; enquanto o épico de estádio "Animal" selou os votos com promessa de amor eterno. "Seventeen", "Postcard", "Plum", "What a Heavenly Way to Die" e "Lucky Strike" desvendaram o resto de Bloom com estrondo, cumprindo assim o seu desígnio. Não houve em 2018 outro álbum com canções pop tão imaculadas, de identidade vincada e com o desejo à flor da pele: assistimos, pois, ao despontar do maior ícone queer da sua geração e à transformação de Troye num dos autores pop mais notáveis do seu tempo.


1º Beyoncé- Beyoncé (2013)


O primeiro álbum inteiramente audiovisual da história. O primeiro lançamento-relâmpago - Beypocalipse, se preferirem - de sempre de uma artista pop, que mudou a forma como os grandes astros promovem e editam o seu trabalho. O primeiro álbum em que Beyoncé pensa e age como a melhor artista do seu tempo e rainha suprema do universo.

É uma artista na plenitude das suas faculdades artísticas e completamente livre que aqui se ouve. Livre de receios. Livre de preconceitos. Livre das expectativas. Livre e com bastante para dizer. E é ouvi-la cantar acerca de amor terno, sexo selvagem, discriminação de género, depressão pós-parto, problemas conjugais, morte, bulimia e outras temáticas tais, sempre na primeira pessoa, sempre de forma crítica e honesta. E depois há também que destacar a paleta sonora de que se reveste - pop, funk, neo soul, electrónica, trap, R&B e hip hop - fruto de uma visão artística nunca antes tão aguçada e estimulada, e do trabalho dos fabulosos produtores que com ela colaboraram (Timbaland, Pharrell Williams, Justin Timberlake, Ryan Tedder, Boots, Jerome Harmon, The-Dream ou Hit-Boy). Por fim, os vídeos, de uma cinematografia e qualidade incríveis que muito contribuíram para a total imersão e compreensão desta experiência.

14 temas. 17 vídeos. Uma obra que veio mudar as regras do jogo e que recupera o conceito de álbum enquanto acontecimento capaz de mobilizar, inspirar e marcar gerações. A total emancipação e libertação de Beyoncé enquanto mulher e artista. O melhor disco da década.

Eis a lista completa:


50º-41º
40º-31º
30º-21º
20º-11º

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