REVIEW: Banks- Goddess


Hipnotizante disco de estreia de Banks, colecção quase imaculada de canções impactantes e sedutoras que só peca por ser longa demais. 

Foi uma longa caminhada até Jillian Banks descobrir o caminho que a levaria à edição do álbum de estreia. Entre dois EPs editados em 2013 e uma mão cheia de canções e vídeos que cativaram a blogosfera e publicações digitais afins, a artista norte-americana conseguiu cultivar uma imponente aura de mistério e credibilidade em seu redor que nos manteve cativos a si até ao aguardado lançamento de Goddess, em Setembro passado. 

O longo compasso de espera teria funcionado melhor a seu favor se metade do disco não fosse já conhecido. Das 14 canções de Goddess, apenas 6 eram inéditas, tendo as restantes sido incluídas nos EPs ou lançadas como singles em antecipação ao álbum - razão que talvez ajude a explicar a sua ausência das listas de melhores discos do ano passado. 

Em boa verdade, o espectro musical em que Banks se move, um electro-R&B obscuro com balanço trip hop, tem sido amplamente explorado em trabalhos recentes de FKA twigs, How to Dress Well, Jhené Aiko ou Tinashe, daí que outro dos problemas de Goddess se resuma a uma questão de timing. Tivesse vindo na aurora de 2014 e imagino que lhe seriam tecidas maiores loas.



Não nos afastemos do importante: o conteúdo. As peças de museu, assim digamos, não saem danificadas pelo passar do tempo: "Waiting Game", nevrálgica construção do britânico SOHN e "This Is What It Feels Like", pedaço místico de R&B oriental alinhavado por Lil Silva e Jamie Woon, são bons exemplos de conservação. 

Quanto às canções que deram a cara pela campanha promocional do álbum, destacam-se "Brain" e "Beggin for Thread". A primeira arrisca-se mesmo a ser a entidade divina superior do registo, uma tenebrosa produção de Shlohmo, negra até às raízes, em que a interpretação da cantora roça o limiar da esquizofrenia. Na segunda, desempenha com mestria ora o papel de presa, ora de caçadora, numa espiral de desejo e prazer proibido do qual Banks, melíflua e maquiavélica, é inventora. "Goddess" e "Drowning" funcionam quase como duplicadas, tornando-se difícil distinguir uma da outra. 



Relativamente ao material inédito, destaca-se pela positiva a faixa de abertura, "Alibi", outra pungente e infecciosa produção de SOHN, adepto fervoroso do reverb, e as três surpreendentes baladas do disco, em que a vulnerabilidade de Banks assoma à superfície. E, senhores, é digno de fazer chorar um rio. Expõem as entranhas e um lado vocal mais pujante e magoado da artista, com a belíssima "You Should Know Where I'm Coming From" a levar a medalha de ouro. Os inéditos restantes deveriam ter ficado guardados para as faixas bónus.

Uma melhor noção de tempo, condensação de material e uma escolha de produtores menos abrangente (em Goddess deixam a sua marca cerca de uma dezena de estetas) farão do próximo disco de Banks uma colecção digna de figurar no Olimpo. A matéria-prima, essa, está toda lá.



Classificação: 8,1/10

* Tinha esta crítica pendente desde Setembro passado. Não sei o que me levou a adiá-la constantemente, mas acho que sempre soube que um dia voltaria a ela para terminar o que havia começado. E fico contente que esse dia finalmente tenha chegado porque de facto é um disco que não deve passar ao lado de ninguém. E este é apenas o primeiro de alguns "ajustes de contas" que ainda tenho pela frente. 

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