10 Anos de Into the Music em 10 Magníficos Materiais Desconhecidos
Do quarto para arenas esgotadas, vimo-los crescer desde o primeiro dia:
Florence and the Machine
Flo, a toda-poderosa e alada. Começar este espaço com aquele que hoje em dia é um dos melhores projectos da música britânica dos últimos dez anos, deu-me o alento e a validação de que necessitava para recrutar e apresentar mais 245 achados. Da diva freak da floresta de Lungs (2009), passou a deusa do Olimpo no sumptuoso Ceremonials (2011), humanizou-se e incorporou ecos de blues, gospel e rock na apaixonante epopeia de How Big, How Blue, How Beautiful (2015) e despiu ainda mais camadas sónicas e de vulnerabilidade no recente High as Hope (2018). Tem sido uma jornada incrível e evolutiva para os Florence and the Machine - que o futuro lhes traga a mesma audácia artística e o prolongamento deste elo umbilical que nos une.
Marina and the Diamonds
Marina Diamandis sempre foi a mais reflexiva e mordaz das revelações do seu tempo. E ali sempre no limbo entre uma artista alternativa e uma estrela pop. The Family Jewels (2010) introduziu-a a versar sobre o fascínio do comercialismo, valores sociais, família e sexualidade feminina em tons indie pop e new wave. O sucessor Electra Heart (2012) revelou-se um gigantesco álbum conceptual electropop sobre os arquétipos femininos da cultura popular americana que levou à transformação radical do seu som e imagem, enquanto Froot (2015), primariamente pop, mostrou ser o seu trabalho mais coeso, maduro e confessional à data. Marina é daquelas artistas que apuram com o passar dos anos - mal podemos esperar para ver as coisas incríveis que ainda fará ao serviço da arte.
Ellie Goulding
À primeira vista, pouco indicava que Ellie Goulding se tornaria numa estrela à escala global. Lights, a cintilante estreia, apresentava-a enquanto cantautora folktronica de voz compelativa na cena musical de início dos anos 10. Halcyon (2012) acrescentou-lhe alguma aura de mistério, adensando as influências synthpop, ao mesmo tempo que deixava a folk para trás. O volte-face dá-se em 2013, quando "Burn" declara as suas intenções de chegar à primeira liga pop. Depois torna-se na vocalista predilecta para as bandas-sonoras de filmes. Até que "Love Me Like You Do" acontece. Delirium (2015) é o seu testemunho declaradamente pop falhado, que não arruína o percurso mas faz abrandar o seu ritmo criativo. Até hoje. Nada mau, mesmo, para alguém que facilmente se poderia ter eclipsado.
Ed Sheeran
Que percurso fantástico, o do ginjer ninja. De pequenos pubs até estádios esgotados, pouco mudou na vida de Ed Sheeran, a não ser a conta bancária: a humildade, as canções simples, mas desarmantes, escritas com o coração nas mãos, e a ligação próxima com os fãs permanecem desde os tempos em que era só um músico de rua. Do pendor folk e indie da afectuosa estreia em 2011, para o mais expansivo e estrondosamente comercial 'x' (2014) até à grande experiência pop de '÷' (2017), foi vê-lo a estabelecer-se enquanto um dos maiores cantautores contemporâneos e a tornar-se no grande fenómeno de popularidade dos dias de hoje. Nem o próprio Ed sonharia com tamanhas conquistas na sua vida, mas cada uma é inteiramente merecida.
Birdy
Para sempre a pequena e adorável Birdy. Nunca me vou esquecer da magia que foi descobri-la, alada e frágil, a entoar "Skinny Love" e "Shelter" ao piano com uma sensibilidade incrível e uma voz imensa para uma miúda de apenas 15 anos. Na verdade, quem faz um álbum inteiro de emotivas versões acústicas de temas indie rock como gente grande, só pode ir longe. Fire Within (2013) atirou-se a composições originais com o mesmo efeito emocional e Beautiful Lies (2016) trouxe-a à vida adulta com maravilhosas texturas e nuances de pop barroca. Tem sido um prazer vê-la crescer e tornar-se na jovem mulher encantadora que sempre soubemos que um dia seria.
Foster the People
Pode uma canção escrever a história de uma banda para sempre? É uma questão recorrente com que os Foster the People se debatem desde que "Pumped Up Kicks", hit estival sobre um rapaz de tendências homicidas, quebrou a hegemonia EDM da época e dividiu com "Somebody That I Used to Know" os louros de uma mini-revolução indie pop no mainstream. Torches (2011), colecção de inescapáveis canções indietronica, tornou-os na banda mais cool da temporada, enquanto os registos seguintes se debateram para encontrar aclamação crítica e comercial: Supermodel (2014) deu-lhes músculo rock e ambição conceptual, enquanto Sacred Hearts Club (2017) levou à mudança de equipa e a um equilíbrio entre a verve da estreia e o psicadelismo do álbum nº2. Ainda há muita vida para extrair de Foster y sus muchachos - por isso não os descartem já.
Disclosure
Os manos Lawrence vieram operar a maior revolução na música electrónica dos últimos dez anos. Corria o ano de 2013 quando dois miúdos, ávidos estudiosos da house de Chicago, o techno de Detroit, o UK garage e o 2-step, injectam uma profunda transformação na dita música de dança do nosso tempo com Settle (2013), estrondosa colecção de singles não muito distantes da equação pop, que reaproxima o género das massas. Caracal (2015) é a diluição do seu som em ambientes mais synthpop e R&B, não esquecendo o fabuloso balanço da estreia. Moog for Love (2016) e um pack de singles avulso já este ano expressam a vertente de artesãos de canções, ainda com vontade de fazer as pessoas dançar, mas mais próximos dos modelos clássicos da house music. Longa vida aos génios da pista.
Lorde
Não sei ao certo que ascendente esteve na revelação de novos talentos em 2013, mas foi de facto um ano estrondoso para artistas emergentes. O mais incrível de tudo foi a chegada de Lorde, ainda a melhor descoberta musical da década. Uma adolescente de 16 anos vinda de nenhures e a afirmar-se contra a rebelião pop de ídolos como Rihanna ou Miley Cyrus com uma audaciosa estreia nas margens do mainstream, construída sobre crítica social e reflexões acerca de uma juventude vívida, ainda presa aos ossos. Pure Heroine (2013) mudou a face da cultura pop e Melodrama (2017) confirmou as melhores expectativas em relação a Lorde: um tremendo disco sobre a entrada na vida adulta e os tumultos do coração, novamente a definir um tempo e uma geração. Continuaremos a depositar nela as melhores esperanças em relação ao futuro da pop.
London Grammar
Palavra de honra que a voz de Hannah Reid continua a merecer a classificação de oitava maravilha do mundo - ora cavernosa e ressonante, ora cristalina e próxima do canto clássico. É ela que nos puxa para o universo crepuscular e intimista dos London Grammar, desenhado desde 2013 também por Dot e Dan, altura em que irromperam nas nossas vidas com o maravilhoso debute If You Wait. O sucessor Truth Is a Beautiful Thing (2017) não fez mais do que fortalecer o encanto das criações dream pop/trip hop do grupo e comprovar que, de facto, era amor para a vida toda.
Sam Smith
Já nos tínhamos apaixonado por Sam Smith muito antes da edição do primeiro álbum. Os Disclosure revelaram-no ao mundo através de "Latch" no final de 2012, e o produtor Naughty Boy chamou-o para dar voz a "La La La" no ano seguinte, globalizando-o ainda mais. Faltava conhecer a identidade e a história do rapaz de voz soul angelical e falsete prodigioso, algo que In The Lonely Hour (2014) - diário confessional e desolador acerca da sua experiência de amor não correspondido - tratou de revelar com tremendo sucesso. A compaixão foi real. Três anos mais tarde, já estabelecido enquanto ícone global, lançou The Thrill of It All: ainda a mesma trepidação romântica, mas muito mais consciente do seu estatuto de artista queer. Estaremos sempre a torcer pelo nosso querubim britânico.
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