Sons Frescos #42


O derradeiro trimestre do ano revela os seus trunfos:

1) DJ Snake feat. Selena Gomez, Ozuna & Cardi B- "Taki Taki"- Wo-oh-oh-ohh. Sarilhos a triplicar com a nova oferenda reggaeton de DJ Snake: Ozuna pega em ombros, sólido mas com um bocadinho menos de carisma que o esperado; Cardi B canaliza as suas heranças latinas e aceita o testemunho em chamas, acendendo o desejado fogo à colaboração, enquanto Selena finaliza com o seu habitual sussurro sensual - e não compromete. É hino.

2) Halsey- "Without Me"- Dona Halsey fica mais robusta e sólida a cada nova investida. O novo single soa a um encontro pop-trap entre "Better Now" de Post Malone e "God Is a Woman" de Ariana Grande, é certo, mas tal não invalida que seja a canção mais honesta e vulnerável que escreveu até hoje, desenhada no recobro da sua separação de G-Eazy. Não anuncia um novo álbum, mas concede-lhe mais tempo de antena - é vê-lo a tornar-se num hit. 

3) Ella Mai feat. Chris Brown- "Watchamacallit"- Estamos na semana de lançamento do seu debute homónimo: "Boo'd Up" ainda deixa um agradável aroma, "Trip" prepara-se para repetir a façanha do irmão mais velho e "Watchamacallit" chega para ajudar à festa: outra inebriante composição de DJ Mustard, desta vez mais 2008 do que 1998, sobre um flirt entre comprometidos demasiado irresistível para deixar passar. Chris Brown, claro, está lá para desencaminhar. 

4) Shawn Mendes & Zedd- "Lost in Japan (Remix)"- Vamos concordar em como a campanha promocional do último álbum de Mendes foi uma barafunda: cinco singles de enfiada e um cartão-de-visita outonal em pleno Verão. O funk/pop à la JT de "Lost in Japan" tinha capacidade de viver a solo, mas uma acertada remistura de Zedd pode devolver-lhe vitalidade: nem nunca Shawn se tinha visto nestas andanças. 

5) PrettyMuch feat. Rich the Kid- "Solita"- É incrível como nenhuma boysband se conseguiu ainda impôr no mainstream depois do pousio dos 1D. E não é por falta de candidatos, claramente. Os PrettyMuch continuam a ser a melhor aposta, mas os últimos singles não têm estado à altura dos primeiros. "Solita", intenso affair latino com apelo urbano, pode mudar-lhes a sorte e tornar-se no "Havana" do Outono'18. Muita fé. 

6) Sigrid- "Sucker Punch"- A maior aposta da BBC para 2018 está a levar com calma o processo de gravação do seu álbum de estreia - e a entregar-nos fantásticos temas pop pelo caminho, agregados em EPs. "Sucker Punch", que poderá encontrar morada no debute, é o mais recente: uma imensa, gigante, canção pop acerca de como o seu mundo é abalado e virado do avesso por um novo alguém. Há algo de early-Avril na entrega esfuziante do refrão e, claro, uns quantos pós da abençoada essência pop nórdica - bravo, Sigrid.

7) Olly Murs feat. Snoop Dogg- "Moves"- Olly Murs ainda é um dos poucos pupilos do The X Factor que se mantém à tona por estes dias, mas podia ser bem maior do que é se não jogasse tanto pelo seguro. "Moves" não passa de uma desavergonhada recriação de "Feels" de Calvin Harris, com a mesma ambiência disco/funk e a voz de Katy Perry destituída da mistura. É canção de uma noite só: agrada, mas não fica na memória. 

8) Robyn- "Honey"- Estreada na sua versão demo num dos episódios da última temporada de Girls em Março do ano passado, "Honey" liberta-se agora em todo o seu esplendor: uma sensual e compelativa gema dance pop forjada pela própria Robyn em parceria com o também sueco Klas Åhlund e Joseph Mount dos Metronomy, que aumenta o apetite para o álbum com o mesmo nome que chega no próximo dia 26. 

9) Charli XCX & Troye Sivan- "1999"- Tão longe quanto vão os parâmetros da pop no masculino e feminino em 2018, Troye e Charli são os nomes a reter. Seria de esperar que uma colaboração entre ambos fosse declarada o hino maior do ano, mas não: "1999" acaba por ser o mais desinteressante dos singles revelados por Miss XCX nestes últimos meses, e um bocadinho hipersónico para os moldes de Sivan, por vezes totalmente engolido pelo modo sirene de Charli. Vale pelo divertido throwback e pela maravilhosa capa à Matrix

10) Jess Glynne- "123"- Jess Glynne começa a ficar um bocadinho confinada ao território pop/soul/house em que habita desde que ganhou tracção a solo. Sorte a sua o facto de ser uma fabulosa vocalista capaz de transformar cobre em ouro: "123" soa à continuação do seu "Ain't Got Far to Go" e mais a uma colaboração com os Rudimental do que "These Days" soava. Always In Between, o novo álbum, chega já esta sexta.

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