REVIEW: Miley Cyrus- Younger Now


Miley coloca os dias do twerk e das drogas leves para trás das costas e reinventa-se enquanto respeitável estrela country pop. O decoro e a honestidade compensam.

"No one stays the same, you know what goes up must come down, change is a thing you can count on, I feel so much younger now". Não é que as acções de Miley Cyrus necessitem de validação (afinal a reinvenção é prática comum nas estrelas pop) mas não há melhor estrofe no disco que encapsule esta nova vida da autora de "The Climb" que o refrão de "Younger Now", exemplo perfeito da toada country e do sentimento de liberdade que marcam o disco.

Na verdade, o que Miley mais tem apregoado ao longo dos últimos quatro anos é liberdade. Foi o rompimento com a imagem pueril de Hannah Montana e uma certa vontade de chocar que ditaram a criação de Bangerz (2013). E foi também um total sentimento de despretensão e exploração artística que marcaram a aventura psicadélica e francamente interessante do anterior Her Dead Petz (2015). A liberdade esteve lá sempre como força motriz.

Mais do que a sucessiva procura de uma identidade, a missão de Miley ao longo destes últimos anos tem sido fazer música que reflicta o mais possível a pessoa em que se tornou. Essa autenticidade, quer se traduza em canções melhor ou pior conseguidas, marcou os dois álbuns anteriores e volta a tomar conta de Younger Now, o seu álbum mais crescido e proveitoso à data. 



E se o tema-título concentra em si a declaração de intenções, "Malibu" foi o tema que nos roubou o coração e deu as melhores indicações para esta nova era. Melódica composição pop/soft rock, é a comovente prosa de como Miley encontrou novamente o seu caminho até aos braços do noivo Liam Hemsworth e de como essa reconciliação a trouxe outra vez à tona."It's a brand new start, a dream come true, in Malibu". Snif snif. 

"Rainbowland" - nome do colorido estúdio caseiro de Cyrus - leva-nos num passeio pelo arco-íris guiados pela mão da veterena Dolly Parton, que harmoniza uns tons acima da afilhada e protagoniza um divertido interlúdio e epílogo. Tem toda uma encantadora aura rústica, bluegrass e setentista. "Week Without You" aborda a separação temporária do noivo, com Miley a fantasiar na pessoa em que se poderia tornar sem a influência deste. Foi o deboche que se viu, naturalmente. 

Na enternecedora "Miss You So Much", a saudade e a ausência corpórea são o pano de fundo para inspiradas investidas líricas e uma das mais fortes prestações vocais do álbum. Categoricamente country e totalmente mística, encerra algumas das partículas cósmicas de Her Dead Petz. "I Would Die For You" funciona como a sequela menos interessante e igualmente devota de "Malibu", com Miley a expressar o seu amor profundo por Liam. 


Sério candidato a próximo single do registo, "Thinkin'" é o tema que melhor retém as sensibilidades pop de Miley, um portento rítmico de engenhosa construção silábica que traz à memória "The Boy Who Murdered Love" da britânica Diana Vickers. Já "Bad Mood" retrata um relacionamento preso por um fio em modo western: nada muito marcante ou que deixe uma impressão duradoura. A narrativa de desencanto e enfado parece prosseguir com a igualmente tépida "Love Someone", altura em que já não é conclusivo que Miley esteja a cantar de um ponto de vista autobiográfico.

O álbum recupera o seu caminho com o confessional "She's Not Him", honesta carta de despedida a Stella Maxwell - modelo com quem Miley manteve um relacionamento até perceber que o seu coração pertencia a Liam - que à semelhança de "Strangers" de Halsey e Lauren Jauregui, representa um marco na história da bisexualidade abordada em canções de astros pop. A mensagem de pacificação e amor propagada por "Inspired" encerra o disco com benevolentes intenções.

Younger Now não trará grandes proveitos comerciais à sua autora, mas esse é possivelmente um facto que a própria Miley estaria ciente ao enveredar por esta rota. Devemos antes olhar para o que o disco traz a longo prazo: uma certa aura de credibilidade e a conquista de uma facção de público mais adulta que até aqui desprezava a sua música. Que a verdade e a liberdade ditem sempre o seu caminho, porque o certo é que Miley Cyrus se torna mais interessante a cada novo registo.


Classificação: 7,2/10

Comentários

Mensagens populares