A segunda chance de Ella Henderson


Na longa lista de antigos concorrentes do The X Factor para quem a indústria (e Simon Cowell, particularmente) foi cruel, encontramos um nome que por estes dias está a ter um merecido segundo fôlego: Ella Henderson. 

A nação apaixonou-se por ela em 2012, quando com apenas 16 anos concorreu à nona temporada do programa de talentos britânico com "Missed", um emotivo inédito composto em memória do avô que todos deixou impressionados. Expectavelmente chegaria até às galas em directo, sendo eliminada à sétima semana de competição num inesperado frente-a-frente com James Arthur, que acabaria por vencer o programa. A saída - que aparentemente permanece uma das mais contestadas da história da competição - não significaria, porém, o fim do caminho para a pequena.

Ella assinaria contrato ainda no final desse ano com a Sony Music, e no início de 2013 com a Syco de Simon Cowell, que por norma contratava os concorrentes que mais se destacavam no programa. Depois de um ano de preparação e de um fantástico primeiro single produzido por Ryan Tedder que entrou disparado para o nº1 da tabela de singles britânica, o álbum de estreia era lançado em Outubro de 2014, pisando terrenos de uma pop/soul entregue de forma quase imaculada, vocalmente notável e surpreendentemente madura para alguém que ainda nem tinha completado duas décadas de vida.

Chapter One estreou-se na liderança da tabela de álbuns britânica, superando a concorrência do segundo longa-duração de Jessie J, Sweet Talker, lançado na mesma semana. O disco foi ainda promovido com mais três singles de relativo sucesso: "Glow" (nº7), "Yours" (nº16) e "Mirror Man" (nº96), que contribuíram para que o registo obtesse a certificação de platina por vendas superiores a 300 mil unidades.

A escolha de singles talvez não tenha sido a mais acertada - "The First Time" ou "Give Your Heart Away" podiam ter sido antes seleccionados como segundo e quarto avanços - mas tanto Ella como a sua editora tinham outro trunfo em mãos para fazer perdurar o seu estado de graça: as quase obrigatórias colaborações com DJs. Eis que o Verão de 2015 trazia "Glitterball" e "Here for You" de arrasto, parcerias com Sigma e Kygo, respectivamente, que chegaram ao top 20. Aplausos, aplausos, cai a cortina, grande era de estreia.

E depois? Depois veio o silêncio. Um período de espera interminável. A ausência de respostas. Enfim, o caos editorial em que a maioria dos associados da Syco se vê envolvido. Sem nada que o fizesse prever, Ella Henderson era colocada na prateleira - falamos, afinal, de alguém que teve um single e um álbum em nº1 e que esteve muito perto de triunfar no difícil mercado norte-americano. Em 2017 consta que havia um álbum próximo da conclusão que foi deitado ao lixo assim que foi anunciada, no início de 2018, a cessação do contrato que a ligava a Simon Cowell. 

Meses depois, Ella era anunciada como a nova contratação da Major Toms, uma subsidiária da Asylum Records operada pelos Rudimental - pela qual já editou na semana passada o EP Glorious, o seu primeiro corpo de trabalho em cinco anos. Simultaneamente, podemos escutá-la em "This Is Real" ao lado de Jax Jones, que atingiu recentemente o top 20 no Reino Unido, e em "We Got Love" de Sigala, cimentando assim esta sua nova regeneração - e aclamação - artística.

Ella Henderson é um dos poucos casos de recuperação de tão baixo e vil golpe da indústria. Embora ninguém lhe consiga devolver os três anos que esteve encostada às boxes, poderá utilizar essa frustração e esse ressentimento em seu proveito, tanto na vida como na arte. Que o seu caso se possa tomar como exemplo de força e determinação para outras tantas Ellas, blindadas e desgastadas por contratos semelhantes. Coragem, miúda. Caro Simon, o karma há-de ir ao teu encontro.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares