As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 175º-151º


A escavar, a escavar, até ao ouro encontrar:

175º Disclosure feat. Eliza Doolittle- "You & Me" (2013)- No ano da edição do longa-duração de estreia, Guy e Howard Lawrence estavam numa sucessão de singles imparável que conhecia em "You & Me" mais um brilhante pedaço de garage/2-step sobre querer preservar um amor para a vida, perante a adversidade, que Miss Eliza tão bem vocalizou. Uma aplaudida remistura de Flume lançada meses mais tarde propagaria o tema a novas alturas.

174º Alessia Cara- "Here" (2015)- A magnífica entrada em cena de Alessia Cara ainda consta dos livros da história. Quando grande parte da sua geração e dos seus contemporâneos musicais erguiam altares às crónicas da vida de festa desbragada, Alessia fazia-se notar com um manifesto de "pessimista anti-social" que narrava uma noite de má memória a tentar navegar pelos excessos de uma festa caseira, suportada por um infalível sample de "Ike's Rap II" de Isaac Hayes, que já ajudou temas de Tricky ou Portishead a alcançar a intemporalidade. "Here" vai pelo mesmo caminho.

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173º Arcade Fire- "Ready to Start" (2010)- A trupe favorita da nação indie arrancava os anos 10 da mesma forma que encerrou a década anterior: em estado de glória absoluta. Para tal muito se devia a passada acelerada de "Ready to Start", um inflamado objecto indie rock de nervo pós-punk revivalista que nasce como testemunho da coragem necessária para abandonar qualquer situação negativa e rumar a algo novo e desconhecido. O álbum que se seguiu, The Suburbs, foi igualmente memorável.

172º Rudimental feat. John Newman- "Feel the Love" (2012)- No início da década, nomes como DJ Fresh, Chase & Status ou os Rudimental estavam na linha da frente do revivalismo drum and bass que atingiu em cheio o panorama britânico. Do incrível single que tirou o colectivo de Hackney do anonimato, destacavam-se a produção fluída do grupo e a arrebatadora prestação de John Newman - também aqui no seu primeiro contacto com o mainstream - a imprimir uma certa espiritualidade e aura soul a um género normalmente desprovido dele. Arrepios pelo corpo todo.

171º Arctic Monkeys- "Do I Wanna Know?" (2013)- Os Arctic Monkeys já eram uma força da indústria há pelo menos sete anos quando AM (2013) os puxou para um nível de aclamação comercial que ainda não tinham conhecido até então. A culpa foi inteiramente de "Do I Wanna Know?", um portentoso exemplar de stoner rock sobre um amante obsessivo que assinalou de vez a entrada da banda na vida adulta, enquanto homenzarrões de brilhantina imaculada com másculos hits a condizer. Contém os acordes mais instantaneamente reconhecíveis do rock desde "Seven Nation Army". 

170º Purity Ring- "Fineshrine" (2012)- Corria o ano de 2012 quando a mesma 4AD que havia libertado Visions de Grimes poucos meses antes, dava ordem de marcha à estreia igualmente intrigante, esquisita e compelativa dos canadianos Purity Ring. À cabeceira, um single que atravessava mutações synthpop, dream pop e hip hop, incorporando descrições anatómicas para entregar uma canção de amor. "Fineshrine", concerteza.

169º Gorillaz- "On Melancholy Hill" (2010)- Há uma forte possibilidade deste tema ser acerca do lado mais prejudicial do consumismo e de ser bem mais triste do que aparentemente é, mas o certo é que os Gorillaz nunca soaram tão genuínamente pop como neste terceiro avanço para Plastic Beach (2010). Talvez o segredo de "On Melancholy Hill" seja deixar a sua narrativa tão em aberto para qualquer ouvinte desenhar o seu significado. O seu pequeno oásis secreto.

168º Mac Miller feat. Anderson .Paak- "Dang!" (2016)- Waaait! Talvez Mac Miller nunca tenha tido o crédito devido no tempo em que pisou o mundo terreno, mas uma canção tão maravilhosa quanto "Dang!" - sobre reconquistar o boo perdido - merece por si só umas quantas loas. Erguida sob uma batida jazz rapp cortesia de Pomo e perfumada por um groove funk tão bem exalado por .Paak, atesta bem a evolução de Mac desde o inaugural Blue Slide Park (2011). Brisa fresca de Verão.

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167º Of Monsters and Men- "Little Talks" (2011)- A vez em que os Of Monsters and Men cruzaram a Islândia para agraciar o mainstream internacional permanece um dos feitos mais incríveis da década. O segredo estava em "Little Talks", uma tão enternecedora quanto assombrada canção indie folk que documenta a conversa entre um casal - um deles já não pertencente ao mundo dos vivos e o outro à beira da insanidade - com assuntos ainda por resolver. O vídeo fantástico dos WeWereMonkeys para a canção ajudou a compor a fábula alada. 

166º James Blake- "Limit to Your Love" (2010)- Na aurora dos anos 10, James Blake despontava enquanto novo menino bonito de prodigiosas sensibilidades electrónicas: e que melhor maneira de suceder a um trio de elogiados EPs do que com um cover que virava do avesso o original pertencente a Feist? Ao conservar apenas parcialmente a letra e as linhas sombrias de piano, Blake preencheu de silêncio a canção, transformando-a num hipnotizante objecto downtempo tingida de soul e reverberações pós-dubstep. Quanto barulhinho bom. 

165º Ariana Grande- "No Tears Left to Cry" (2018)- No ano passado Ariana Grande tentava superar um trauma bastante público, procurando erguer-se dos escombros do atentado de Manchester com um compelativo pedaço dance pop de balanço disco e sensibilidades garage com assinatura de Max Martin e Ilya, que enxugava as lágrimas na pista de dança e difundia um foco de esperança, amor e optimismo. A regeneração continua - lovin', livin' and pickin' it up.

                                                                 No Tears Left To Cry GIF by Ariana Grande

164º Future Islands- "Seasons (Waiting on You)" (2014)- Os Future Islands já preenchiam folha de serviço há quase uma década quando saíram do anonimato com "Seasons (Waiting on You)", uma canção imensa sobre a experiência humana no globo terrestre, ou como as estações do ano acabarão inevitavelmente por mudar, mas certas pessoas não. A performance colossal de Samuel T. Herring, a atacar uma canção synthpop com verve rock, torna tudo tão mais arrebatador, sobretudo quando transposta ao vivo. 

163º Tame Impala- "Elephant" (2012)- O grande mamífero cinzento deu título ao álbum que colocou os White Stripes num pedastal do rock na década passada, e nesta esteve novamente na génese do single que colocou os Tame Impala no mapa, bramindo impiedosamente com este voraz exemplar de rock psicadélico/garageiro de recorte glam, sobre um pomposo arrogante de ego insuflável. E o certo é que nunca mais saíram do radar e dos nossos corações. 

162º Rihanna- "Rude Boy" (2010)- RiRi atravessava a sua fase obscura quando na aurora da década decidiu aclarar um pouco a atmosfera com "Rude Boy", uma extraordinária (e divertida) infusão de dancehall e R&B composta de versos insinuantes e tambores de aço, que figura como uma homenagem às suas raízes e à sonoridade dos seus dois primeiros álbuns. Sem surpresa, acabaria por se tornar no maior êxito de Rated R (2009). 

161º Dua Lipa- "New Rules" (2017)- Um. Dua Lipa estava a esgotar as suas chances de romper definitivamente no mainstream quando acertou no jackpot, ao sexto single do debute. Dois. "New Rules" é para todos os efeitos um arraso de canção, um vistoso pedaço de electropop com tempero tropical house que recita um mantra sobre como não voltar para os braços (e lençóis) de um ex tóxico. Três. O espectacular vídeo de Henry Scholfield erguido em torno da aliança feminina como se de um anúncio à Benetton se tratasse, elevou tudo a outro patamar. Nascia uma superestrela.

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160º Kendrick Lamar- "DNA" (2017)- K-Dot já se tinha reunido com Mike Will Made It para "Humble", o portentoso cartão de visita de Damn, mas é em "DNA", o single que se seguiu, que demonstra todo o seu virtuosismo com um esmagador recital sobre identidade, que tanto critica como celebra a sua herança negra. As coisas tomam outra proporção quando à segunda estrofe o rapper entra em modo Kung Fu Kenny e desata a batalhar o beat com uma saraivada de rimas em chamas. You mothaf*ckas can't tell him nothin'.

159º Perfume Genius- "Queen" (2014)- Mike Hadreas já assinava enquanto Perfume Genius há dois álbuns quando Too Bright (2014) lhe trouxe a merecida aclamação. Liderado por uma canção tão estupenda como "Queen", que nos obriga a olhar para a comunidade queer por aquilo que ela é: bela, mas marginalizada, alvo de abuso, mas ainda assim poderosa. Impossível não sorrir à passagem de um verso tão provocador e pleno de orgulho quanto "no family is safe when I sashay". Saudações, majestade.

158º Arcade Fire- "Reflektor" (2013)- Três anos depois de The Suburbs o sexteto de Montreal estava justamente a precisar de uma reinvenção. Ela chegou embrulhada em verve disco numa audaciosa odisseia dance-rock de sete minutos e meio sobre os senãos da revolução tecnológica, sob a batuta de James Murphy e do habitual colaborador Markus Dravs, a que nem David Bowie resistiu vocalizar. Pena que depois deste álbum tenham acusado a pressão criativa.

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157º Post Malone feat. 21 Savage- "Rockstar" (2017)- Posty já tinha mostrado parte do seu arsenal com "White Iverson" e "Congratulations", mas foi a partir de "Rockstar" que se tornou ubíquo e globalmente celebrado. Sob uma batida sinistra e tenebrosa de Tank God e Louis Bell, o rapper compara a sua vida de excessos à das ditas estrelas rock - não fosse o hip hop o novo rock da década - enunciando pelo caminho uma série de ícones e episódios errantes que marcam eras do citado género.

156º Miley Cyrus- "Malibu" (2017)- No início houve "Wrecking Ball". Agora há "Slide Away". Mas entre a separação, a temporária e a definitiva, houve um belíssimo "Malibu" que devolveu momentaneamente o decoro à antiga estrela da Disney, documentando a forma como voltou para os braços de Liam Hemsworth, descobrindo uma renovada liberdade no processo. Dificilmente a escutamos com a serenidade e harmonia de outrora, mas como sempre, como dantes, é honestamente proporcional ao capítulo que Miley então atravessava.

155º FKA twigs- "Two Weeks" (2014)- Dois EPs de ruptura com as convenções do mainstream foram suficientes para nos fazer estacar perante a proposta R&B alienígena de twigs, mas seria com "Two Weeks" - uma ofegante declaração de confiança sexual - que o mundo sucumbiria por fim aos seus estranhos e infindáveis encantos. Como se não bastasse, no topo de tudo, existia um opulento vídeo de Nabil a prestar homenagem ao legado de Aaliyah. É isto o desejo?

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154º Foxes- "Body Talk" (2015)- O segundo álbum de Louisa Allen não é nem por sombras tão memorável quanto o debute, mas contém muito provavelmente aquela que é a melhor pérola da sua curta carreira: "Body Talk", uma estelar construção synthpop que pede ao corpo a clareza que a mente não sente no pós-desvinculamento amoroso. Em suma, a única vez em que conseguiu bater-se de igual para igual com Robyn ou Carly Rae Jepsen no campeonato dos bops emocionais.

153º Lady Gaga- "Yoü and I" (2011)- Gaga estava bem embrenhada na campanha promocional de Born this Way (2011) quando nos entregou "Yoü and I" - monumental pedaço pop/glam rock que figura como a sua primeira balada transformada em single - recorrendo a um sample de "We Will Rock You" e aos préstimos de Brian May na guitarra eléctrica, e guiado por uma das performances mais arrebatadoras do seu percurso. Nebraska e Springsteen ali tão perto.

152º Major Lazer & DJ Snake feat. MØ- "Lean On" (2015)- Diplo já vinha em alta da sua colaboração com Skrillex e Bieber em "Where Are Ü Now", e preparava-se para alcançar o pico da sua carreira com a parceria que o juntou ao francês DJ Snake e à bem-aventurada MØ no hit que definiu o Verão de 2015, uma irresistível fusão de reggae, house e dancehall com tempero indiano à mistura, sobre como todos precisamos de um ombro amigo. Novamente, antecipou a febre de tropical house que aí vinha.

                                                     Lean On Mo GIF by MAJOR LAZER

151º Kanye West- "Power" (2010)- Do álbum que elevou Yeezy acima dos comuns mortais, escutava-se "Power" e era impossível não ficar prostrado perante o seu arrojo e maximalismo: nele comungam todas as personalidades conflituantes de West e uma miríade de samples, entre eles o apropriado "21st Century Schizoid Man" dos britânicos King Crimson, a rasgar de forma abrasiva os tecidos tribais da canção. Se é verdade que todos os super-heróis precisam do seu hino, Kanye tinha justamente criado aqui o seu theme song.



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