As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 150º-126º
Estamos a meio da contagem definitiva da década:
150º Grimes- "Oblivion" (2012)- A maneira como Claire Boucher constrói uma das obras seminais dos anos 10 no seu apartamento através do GarageBand e pega numa experiência tão traumática quanto a agressão sexual para erguer uma das suas faixas mais aplaudidas, é imensamente revolucionário e corajoso. Quando a ouvimos cantar "see you on a dark night", vemo-la não só a recordar a escuridão permanente em que o episódio habitará, mas também a recuperar o controlo de uma situação que não a intimida mais. Transformando o medo em poder, Grimes vence.
149º Lady Gaga feat. Beyoncé- "Telephone" (2010)- Originalmente desenhado para Britney Spears, o segundo avanço de The Fame Monster - frenética composição dance pop que se escuda no caos das telecomunicações para descrever um sentimento de asfixia emocional - permaneceu na posse de Lady Gaga e ganhou não só uma fantástica adição na figura de Beyoncé, como um vídeo absurdamente icónico que continua a linha narrativa iniciada por "Paparazzi" e se tornou num verdadeiro evento da cultura pop como há muito não acontecia.
149º Lady Gaga feat. Beyoncé- "Telephone" (2010)- Originalmente desenhado para Britney Spears, o segundo avanço de The Fame Monster - frenética composição dance pop que se escuda no caos das telecomunicações para descrever um sentimento de asfixia emocional - permaneceu na posse de Lady Gaga e ganhou não só uma fantástica adição na figura de Beyoncé, como um vídeo absurdamente icónico que continua a linha narrativa iniciada por "Paparazzi" e se tornou num verdadeiro evento da cultura pop como há muito não acontecia.
148º Rihanna- "Only Girl (In the World) (2010)- No mais fantástico e camaleónico dos seus anos de carreira, em que atingiu por quatro vezes a liderança da tabela de singles norte-americana, Rihanna passou sem esforço do hip hop e R&B tenebroso de Rated R (2009) para a era sonicamente bombástica de Loud (2010) com um monstruoso single de fundações dance pop e eurodance de exigente vocalização, que reclamava por total atenção da cara-metade na satisfação das suas necessidades. Tudo era vermelho, intenso e maior que a vida.
147º Little Mix- "Move" (2013)- Grande parte do percurso das Little Mix deve-se a conquistar o impensável. Venceram o The X Factor britânico quando poucos o esperavam, e superaram não só o prazo de validade comercial da maioria dos seus colegas do programa como o das outras girlsbands. Não obstante, há singles fantásticos que comprovam a sua vitalidade, como este dinâmico pedaço de R&B envolto em sensibilidades clubby que as puxou para o patamar seguinte da sua evolução.
146º Ariana Grande feat. Zedd- "Break Free" (2014)- No Verão de 2014 era impossível escapar a Ariana Grande, em três (e distintas) frentes: "Break Free", a mais ravetástica delas, declarava a cessação de laços românticos em formidável passada electro house cortesia de Zedd e Max Martin, que a levou a cantar um verso tão gramaticalmente incorrecto quanto "now that I've become who I really are", só pela diversão que isso traria. Não que fosse necessário - toda a canção é um estrondo.
145º Jennifer Lopez feat. Pitbull- "On the Floor" (2011)- It's a new Jen-eration of party people! O ano era 2011 e, se não contarmos com dois discretos falsos arranques, J.Lo estava em silêncio há quatro anos - e há pelo menos seis sem um verdadeiro êxito global. Tudo o que bastou foi um sample de "Llorando se fue" feito hit pelos Kaoma vinte e dois anos antes em "Lambada", um vídeo mega-estelar e a adição de Pitbull e RedOne na mistura. "On the Floor" foi então o sucesso gigantesco que se viu, responsável por um dos regressos mais bem sucedidos da década.
144º Eminem feat. Rihanna- "Love the Way You Lie" (2010)- O ano era de glória para Eminem, a recuperar de um período turbulento a nível pessoal e de menor incidência comercial, alcançando com "Love the Way You Lie" o maior êxito da sua carreira: uma prosa hip hop midtempo que Skylar Grey escreveu originalmente acerca da sua relação com a indústria, mas que o rapper em boa hora canalizou para as memórias do seu relacionamento abusivo. Rihanna também lá estava, para dar a outra perspectiva do casal e exorcizar o fantasma de Chris Brown. Terapia ao melhor nível.
143º Paramore- "Rose-Colored Boy" (2018)- Low-key, no pressure, just hang with me and my weather! Os Paramore do final da década são uma versão bastante diferente daquela que eram no seu início, francamente proporcional ao ror de provações enfrentadas. Em "Rose-Colored Boy", aditivo quarto single de After Laughter (2017) em tons pop/rock e new wave, combatem as pressões sociais ao assegurar-nos que é OK não estar sempre OK. Um pouco de mais empatia para com os outros só nos faria bem, afinal.
142º Gallant- "Weight in Gold" (2015)- Quando, aos primeiros segundos do tema, somos envolvidos por uma sensual vocalização que nos traz D'Angelo à memória, sabemos estar em território promissor. O que se desenrola dali em diante é a súplica de um homem esmagado pelo peso da sua própria dor, incapaz de sustentar um relacionamento com outro alguém - parece mais miserável do que efectivamente soa, porque a beleza da composição bloqueia qualquer hipótese de comiseração. Ouro líquido, puro ouro líquido.
141º Katy B- "Katy on a Mission" (2010)- Como dantes, como agora, o single de estreia de Katy B permanece um brilhante exemplar de dubstep forjado por Benga. Pilar estrutural sem o qual não se conta o ressurgimento da electrónica no início da década em terras de sua majestade, "Katy on a Mission" é construído em torno da energia indescritível concentrada numa discoteca, atacado pela sua intérprete com heranças R&B. Para relembrar que, por instantes, uma rapariga liderava o movimento que devolveu a música de dança underground ao mainstream.
140º Ariana Grande- "Thank U, Next" (2018)- No final do ano passado, Ari tornava-se na primeira estrela pop feminina a sobrepor eras discográficas, ambas extremamente aclamadas. Mas seria com "Thank U, Next" que, por momentos, se tornaria na maior estrela do universo: um pristino single pop/R&B que escolhe olhar com gratidão para os rapazes que passaram pela sua vida, preenchendo de esperança e positivismo as próximas etapas de um capítulo ainda por escrever. À semelhança de "No Tears Left to Cry", figura como um magnífico gesto de recuperação pública.
139º Lewis Capaldi- "Someone You Loved" (2018)- Por alguma razão Lewis Capaldi é o mais recente britânico a ter conseguido levar um single ao nº1 da Billboard Hot 100, como só Adele e Ed Sheeran conseguiram nesta década. Do piano dolente até ao refrão arrasador vão apenas 40 segundos - o tempo necessário para comprendermos que "Someone You Loved" é o digno herdeiro de "Someone Like You" no campeonato de corações feridos e lágrimas em cascata. Quando acaba, somos estilhaços, vaso desfeito e um oceano vastíssimo - não devia ser permitido cantar assim.
138º Robyn- "Call Your Girlfriend" (2011)- Quem não se recorda da fabulosa tríade musical da sempre bem-aventurada Robyn em 2010? A memória colectiva reteve sobretudo a ópera electrónica desolada de "Dancing on My Own", mas entre as muitas outras pérolas da série Body Talk estava outro compelativo objecto de massiva energia cinética, no pólo oposto da tristeza que clamava no citado single: o tom confrontacional de "Call Your Girlfriend" espelha-se também em sensibilidade e compaixão para com a namorada que em breve deixará de o ser.
137º Ciara feat. Ludacris- "Ride" (2010)- Nove anos volvidos e ainda ninguém recuperou completamente do dia em que "Ride" nos aterrou no colo que nem uma bomba atómica. Portento R&B slowtempo de sintetizadores cintilantes e batida cardíaca da dupla de sonho Tricky Stewart e The-Dream, veio servido com um indispensável featuring de Luda e uma coreografia harder-than-ever fortemente sexualizada que fez com que o vídeo fosse banido no Reino Unido e em certos canais norte-americanos. É o único testemunho de vida de Basic Instinct (2010).
136º Radiohead- "Burn the Witch" (2016)- Triunfante cartão-de-visita de A Moon Shaped Pool (2016), "Burn the Witch" devolveu os Radiohead ao topo da liga alternativa. Uma melodia messiânica entre a pop orquestral e o art rock envolve versos acusatórios contra o abuso de poder, enquanto uma fantástica progressão de cordas, veloz e mortífera, nos conduz pela tenebrosa narrativa. A rematar, um fantástico vídeo de stop-motion ilustrado por Chris Hopewell.
135º SZA- "The Weekend" (2017)- A revolução digital ocorrida nesta década transformou aquilo que entendemos como o conceito de amor moderno. E seria apenas uma questão de tempo até alguém o colocar numa canção avassaladoramente honesta: "my man is my man, is your man, heard it's her man too", canta SZA sem ponta de tristeza num dos momentos mais aclamados da sublime estreia, Ctrl (2017), apoiada num sample de "Set the Mood (Prelude)" de Justin Timberlake e de uma luxuriante produção R&B/neo soul de ThankGod4Cody.
134º Royal Blood- "Little Monster" (2014)- O rock nunca esteve verdadeiramente morto nesta década, mas em alguns momentos de maior secura contámos com a centelha de esperança dos Royal Blood, o duo inglês mais barulhento desde, possivelmente, Meg e Jack White, que todos punha em sentido com apenas um baixo diabólico de efeitos milagrosos e bateria frenética. "Little Monster", não o esperado hino à falange de fãs de Lady Gaga, antes uma missiva anti-romance escrita por um sociopata em potência, ainda hoje faz virar cabeças.
133º London Grammar- "Wasting My Young Years" (2013)- O surgimento dos London Grammar em 2013 foi um daqueles encantamentos poderosos que nunca mais nos abandonou. "Metal & Dust" pode ter sido o cartão-de-visita, mas seria a assombrosamente bela "Wasting My Young Years" - sobre desperdiçar tempo de vida com um parceiro - a fazer-nos sucumbir ao intimismo crepuscular e à desolação que tão bem tecem. Quando Hannah Reid entoa "I don't know what you want, don't leave me hanging on" numa frágil súplica de cristal, é só um dos momentos mais bonitos de toda a década.
132º Hozier- "Take Me to Church" (2013)- Um dos maiores sleeper hits da década - levou-lhe cerca de ano e meio até alcançar todo o seu potencial comercial - "Take Me to Church" nasce da frustração do seu autor para com a doutrina da igreja católica perante casais do mesmo sexo, tentando com ela reclamar humanidade através de um acto de amor, algo que o vídeo sugere pela crítica à política anti-LGBT russa. Permanece como o tema mais arrebatador lançado por Hozier à data.
131º Agnes- "One Last Time" (2012)- Brotam lágrimas, desbota-se o rímel, despedaçam-se corações - que dor, céus, que dor. Há sempre um momento na altura de um artista em que este se questiona se não pode ser mais que o tamanho das expectativas para si construídas: na entrada para o álbum nº4 e bem acomodada com o rótulo de princesa dance pop, Agnes tentou em "One Last Time" alterar o paradigma com uma sofisticada e desoladora composição synthpop quase-dubstep que nos deixa sempre num torvelinho emocional.
130º Tobias Jesso Jr.- "Without You" (2015)- Curiosa, a história de Tobias Jesso Jr. nesta década. Foi durante anos baixista e guitarrista, tendo aprendido a tocar piano apenas aos 27 de idade. Três anos depois nascia o elogiado Goon (2015), construído primordialmente em torno do instrumento de teclas e, bem, de uma quanta desolação sentimental. "Without You" parece manter viva a tradição dos cantautores de coração desfeito das décadas de 60 e 70 captados em fita analógica. Para chorar intemporalmente.
129º Duke Dumont- "Ocean Drive" (2015)- Quando pensamos na obra de Duke Dumont nos anos 10 vem-nos à cabeça "Need U (100%)" ou "I Got U", mas nenhuma dança é tão memorável quanto as que foram feitas ao som de "Ocean Drive", uma espectacular canção deep house de heranças nu-disco que se assume como a mais perfeita encarnação de "Lady (Hear Me Tonight)" dos Modjo, também no sentido de nunca nos falhar na recuperação idílica de um tempo feliz. Continuaremos a dançar com o diabo por essa vida fora.
128º Banks- "Waiting Game" (2013)- A estreia de Jillian Banks não só tinha as canções, melodias e prosas certas, como uma equipa de produtores fortíssima que soube extrair o que de melhor havia nelas. Talvez a parelha mais celebrada seja a que resulta do seu trabalho com Sohn, nomeadamente em "Waiting Game", uma soturna composição alt R&B de electrónica cardíaca, acerca de se ver inserida num triângulo amoroso que não acabará bem para nenhum dos envolvidos.
127º Anohni- "Drone Bomb Me" (2016)- Há um gesto extremamente desafiante por detrás da reclamação identitária de Antony Hegarty enquanto Anohni. Da mesma forma, existe um estranho fascínio em ver Naomi Campbell a brotar lágrimas em catadupa ao fazer playback do tema no respectivo vídeo, uma ópera electrónica imaginada por Hudson Mohawke e Oneohtrix Point Never sobre uma criança afeganistã que fantasia com a sua própria morte por uma bomba drone, depois de ter visto a sua família assim a ser dizimada - pode algo tão hediondo ser igualmente belo?
126º alt-J- "Hunger of the Pine" (2014)- O sucessor de An Awesome Wave (2012) poderia ter sido uma completa desgraça, que só por este single já teria valido a pena. "Hunger of the Pine" é o tipo de canção que faz cessar tudo em seu redor, prendendo-nos no seu vórtice temporal. Apesar de versar sobre um sentimento tão comum quanto a ânsia desesperada por outro alguém e conter uma interpolação vocal de Miley Cyrus escutada no verso "I'm a female rebel", consegue soar a algo que poderia pertencer a 2194. Como se não bastasse, ainda somos esmagados pela brutal ilustração de Nabil Elderkin.
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