Os 10 singles mais toleráveis de Selena Gomez


Já dizia Britney Spears em "Circus", que há dois tipos de pessoas no mundo: os que adoram Selena Gomez e os que a detestam. Ok, a canção não era bem assim, mas a ideia pode aqui ser aplicada. É que este que vos escreve alinha claramente pela segunda facção e fará um esforço enorme para não insultar a protagonista do post nº2974 (por alguma razão não lhe foi concedida tamanha honra nos anteriores 2973).

Mas é chegada a altura de um cessar fogo que se exige para assinalar a sua chegada à liderança da Billboard Hot 100 com "Lose You to Love Me", depois de dez anos de vãs tentativas. Razão para perscrutar o seu catálogo e tentar descobrir outros dez singles - em que partilha créditos com os The Scene ou outros artistas - que não nos fazem logo revirar os olhos. Afinal de contas, também haverá encanto na mediocridade... certo?

10º "A Year Without Rain", A Year Without Rain (2010)- No ano em que a EDM contaminava a pop e definia aquilo que era o mainstream, Selena não se deixava ficar para trás e mostrava os trunfos com uma balada eurodance de revestimento synthpop sobre os crescentes efeitos nocivos do aquecimento global. A produção de Toby Gad é sólida o suficiente, com Gomez a suportar as exigências vocais do tema - só a apanhamos a deslizar na ponte, mesmo.

9º "Same Old Love", Revival (2015)- Há um problema com este segundo single do seu segundo álbum a solo: é que não se consegue sacudir o fantasma da sua co-autora, Charli XCX. Isto acontece não só porque ainda se encontram vestígios da sua presença no refrão, mas também porque a sua personalidade consegue ofuscar sobremaneira a de Selena. Ainda assim, a produção competente dos Stargate e Benny Blanco, construída em torno de estalidos, um loop de piano e sintetizadores vintage, torna a canção minimamente compelativa.

                                                             Same Old Love GIF by Selena Gomez

8º "Round & Round", A Year Withour Rain (2010)- Ora aqui está uma canção electropop muito decente, que Lindsay Lohan, Vanessa Hudgens ou Ashley Tisdale facilmente poderiam ter recriado no pináculo das suas carreiras pop. Ei-la a mostrar alguma sofisticação do alto do seus 17 anos e a viver o seu devaneio europeu no respectivo videoclip, enquanto agente secreta numa teia de investigação e perseguição passada em Budapeste.

7º "Who Says", When the Sun Goes Down (2011)- No início de 2011, Selena juntava-se à vaga de pop inspiracional propagada por temas como "Firework", "Born this Way" ou "Fuckin' Perfect", com a lição de amor próprio de "Who Says", bastante mais orgânica e luminosa face à sonoridade dance pop que vinha a tecer nos dois primeiros álbuns com os The Scene. Toda a estrela pop precisa do seu mantra de reafirmamento, e Selena Gomez fê-lo muito bem, até.

                                                              Who Says Music Video GIF

6º "The Heart Wants What It Wants", For You (2014)- Cinco anos de labuta volvidos e Selena lá achou que tinha material de sobra para editar um greatest hits que não serviu para muito mais para além de encerrar o contrato que a ligava à Hollywood Records. A liderar o caminho estava "The Heart Wants What It Wants", uma balada pop-R&B reflexiva e bastante vulnerável, como que a justificar o porquê de ter ficado ao lado de Bieber quando as suas acções motivavam o contrário. A partir daqui ganhou um certo ímpeto e nunca mais perdeu o lado confessional da sua música.

5º "It Ain't Me", Stargazing (2017)- No longo intervalo entre Revival e o terceiro álbum iminente, Miss Gomez teve inúmeras vidas, mas nenhuma delas tão bem-sucedida quanto a sua colaboração com o norueguês Kygo, numa investida tropical house tão apta para musicar um bailado de auroras boreais no céu, desenhada na ressaca de uma separação motivada por problemas depressivos e de alcoolismo. Zedd e Marshmello não a aproveitaram tão bem.

4º "I Can't Get Enough" (2019)- O porquê desta canção não ter sido um valente hit, é um dos mistérios do ano, tendo em conta a qualidade da dita cuja e a relevância dos envolvidos. Nada menos do que um torpedo bilingue construído em torno de sensibilidades electrónicas e reggaeton acerca de um amor aditivo, deveria ter funcionado às mil maravilhas na Primavera, principalmente porque Benny Blanco vinha do êxito enorme de "Eastside" e J Balvin costuma ter mira certeira. Raios, os 160 milhões de seguidores de Selena deixaram-na ficar mal.

                                                              Music Video Dancing GIF by benny blanco

3º "Fetish" (2017)- Todos devemos concordar em como o Verão de 2017 foi o mais entusiasmante da vida de Selena. Nunca a vimos correr tantos riscos como em "Fetish", uma lasciva e atmosférica construção trap-pop de heranças R&B assinada por Jonas Jeberg e pelos The Futuristics, que vê Gomez a enunciar uma série de razões pela qual o seu parceiro está loucamente atraído por si. O vídeo de Petra Collins é a cereja no topo do bolo, colocando a cantora a desempenhar uma série de actividades domésticas bizarras. É tão mais engraçado quando ela não toma os comprimidos.

2º "Love You like a Love Song", When the Sun Goes Down (2011)- Selena poderia ter sido bem maior ao longo destes dez anos se se soubesse rodear de produtores mais afamados, mas nunca a economia de recursos foi tão proveitosa quanto em "Love You like a Love Song": dois terços dos Rock Mafia (quem? exacto) concedem-lhe uma estelar composição electropop de esqueleto eurodisco (Gloria Gaynor teria rodopiado de êxtase) que recebe possivelmente aquela que é a prestação vocal mais inspirada e com personalidade do seu percurso. And we keep hitting repeat-peat-peat-peat.

                                                              Selena Gomez GIF

1º "Bad Liar" (2017)- Na caminhada para o Verão de 2017, algo de estranho aconteceu. Selena Gomez, a antiga estrela da Disney e a mais medíocre das estrelas pop dos anos 10, lançava, sem aviso, o single mais intrigante da sua carreira - e um dos melhores desse ano. Suportada pela linha de baixo de "Psycho Killer" dos Talking Heads, Selena cantava sobre falhar miseravelmente em esconder a atracção por um novo parceiro, conduzida pelo esteta Ian Kirkpatrick e pela proficiência da caneta de Julia Michaels. Há 10% de probabilidade de alguma vez voltar a soar assim - façam figas.



Para todos os efeitos, o sucesso de Selena é uma anomalia. Miley Cyrus, Demi Lovato, Hilary Duff, Vanessa Hudgens ou Ashley Tisdale produzem ou produziram melhores canções e onde é que as vemos a prosperar, mesmo? Mas, quanto muito, ensina-nos uma lição: de que a persistência  e trabalho árduo compensam sempre, mesmo quando se é, ahem, medíocre. Por isso, parabéns, deixemo-la ter o seu momento. Que possam vir mais dez anos de melhor música. Ou silêncio. Sim, silêncio também seria bom.

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