Sons Frescos #66
Uma edição XXL com flocos natalícios à mistura:
1) Bastille feat. London Contemporary Orchestra- "Can't Fight This Feeling"- Há treze Natais que a cadeia de lojas britânica John Lewis nos entrega campanhas de publicidade festivas que contam sempre com temas de fundo que acabam por alcançar grande sucesso. A deste ano fica a cargo dos Bastille, que se entregam a uma emocionante releitura do tema de 1984 dos norte-americanos REO Speedwagon, apoiados por uma sumptuosa orquestra. Não só há muito que não soavam tão bem, como Dan Smith nunca cantou assim. Bonito demais.
2) Billie Eilish- "Everything I Wanted"- Não há muito mais que o álbum de Billie Eilish nos possa oferecer, para além de um prometido vídeo para "Xanny". Mas no ciclo pós-streaming já não há leis instauradas, e por isso vale tudo, mesmo quando não havia necessidade de um inédito. "Everything I Wanted" é inspirado na bonita relação que mantém com o irmão Finneas, um tumulto silencioso em forma de balada, mas que não acrescenta nada de novo face ao que já lhe escutámos. Para o efeito, elevar "I Love You" a single teria bastado.
3) Harry Styles- "Watermelon Sugar"- Ainda ninguém percebeu muito bem que primeiro single foi aquele, uma não-canção que parece mais a evocação de uma atmosfera do que um cartão de visita propriamente dito. Mas Fine Line está a escassos dias da sua edição e, felizmente, já há um muito melhor single em seu auxílio: depois de "Kiwi", a fruta da época é "Watermelon Sugar", um aditivo exemplar pop/rock fora de época sobre a necessidade de combater a tensão baixa. O que já todos percebemos, no entanto, é que Harry é o mais sério e bem-aventurado dos seus antigos colegas.
4) Little Mix- "One I've Been Missing"- Como soará um tema natalício das Little Mix? Bastante fantástico. A pergunta que muitas vezes assola os fãs da girlsband favorita de todos nós ganha resposta com a edição de "One I've Been Missing", a sua primeira incursão no género, apesar de terem chegado perto com a edição festiva de "Love Me Like You", em 2015. Talvez seja capaz de as devolver ao topo das tabelas, depois de um 2019 um pouco abaixo dos seus parâmetros.
5) Lewis Capaldi- "Before You Go"- Também não se percebem bem as decisões estratégicas de Lewis Capaldi e da sua equipa: primeiro investem esforços na promoção de um single com mais de dois anos ("Bruises") e agora ignoram os singles fantásticos que o debute ainda pode proporcionar ("Maybe", "Forever") e avançam sem aviso prévio com um inédito uns furinhos abaixo destes, ainda que semi-arrebatador. Era mesmo necessária a edição deluxe do álbum, apenas seis meses do seu lançamento, com mais do mesmo? Céus, quanta redundância e ganância corporativa.
6) Neon Trees- "Used to Like"- Passamos para alguém que, efectivamente, não nos dava sinais de vida há uma série de tempo. Tudo bem que houve "Songs I Can't Listen To" e "Feel Good" nos últimos quatro anos, mas desde Pop Psychology (2014) que os Neon Trees estão sem editar um novo álbum. Boas notícias: "Used to Like" é um single extraordinário em tons new wave/synthpop que recaptura a verve de singles como "Animal" ou "Everybody Talks". Assim dá gosto tê-los de volta.
7) A Great Big World & Christina Aguilera- "Fall on Me"- Tem que ser uma das situações mais inéditas na história dos duetos: os A Great Big World e Christina Aguilera voltam ao lugar onde já foram felizes seis anos antes com aquele que ainda é o último grande êxito das suas carreiras. Mais rebuscado ainda, com uma versão do tema que a dupla ajudou a escrever o ano passado - talvez já com o plano maquiavélico em mente de o regravar - para Andrea Bocelli e o filho Matteo. Onde "Say Something" era contenção, "Fall on Me" é explosão em crescendo - e seria perfeita se Xtina não passasse o último minuto e meio a abafar o seu par.
8) Glass Animals feat. Denzel Curry- "Tokyo Drifting"- Há muito que não tinhamos notícias dos nossos amigos esquizóides britânicos, à parte daquela trágica do atropelamento do baterista Joe Seaward no Verão passado, que obrigou a banda a cancelar concertos e possivelmente os trabalhos num novo disco. Tal como fizeram na entrada para How to Be a Human Being (2016) com "Lose Control", o single avulso a meias com Joey Bada$$, o grupo canaliza baterias para o LP nº3 com o exotismo alt R&B/hip hop de um "Tokyo Drifting" abençoado pela presença de Denzel Curry e pelas chamas de Wavey Davey. Não levem muito mais tempo, malta.
9) Khalid- "Up All Night"- Percebemos que Free Spirit não era um álbum lá muito consistente quando apenas "Talk" entra para a história do ano e Khalid desiste de o promover ao segundo single. "Up All Night" é ligeiramente mais decente que a maioria das faixas do último disco, uma agradável construção pop/R&B que nasce da sede e da indagação de viver. Mas, convenhamos, o que Khalid precisa mesmo é de reclusão, silêncio e tempo para amadurecer musicalmente. Já chega, moço.
10) Taylor Swift- "Beautiful Ghosts"- Estamos todos na expectativa de saber quem ocupará a vaga de quarto single de Lover (figas para "Afterglow", "Cruel Summer" ou "Paper Rings"), mas o compromisso de Swift para com o filme Cats é capaz de empurrar a revelação para 2020. "Beautiful Ghosts" é a sua emotiva leitura do tema que na película pertencerá à protagonista, tendo sido escrita na companhia do mestre Andrew Lloyd Webber. É a primeira vez que escutamos Taylor num molde de musical - e vale a pena só para ouvirmos a nota mais alta da sua carreira, nos segundos finais.
11) Mabel- "Loneliest Time of Year"- Não se esperava um single de Natal de Mabel tão cedo na sua carreira, e muito menos um que pintasse um quadro tão cinzento e triste da quadra. É capaz de ser o single natalício mais deprimente desde "All I Want for Christmas Is New Year's Day" (2010) dos Hurts, ainda que imaculadamente produzido e entregue num apelativo embrulho pop/R&B. A pensar em todos aqueles para quem o Natal tem um gosto diferente.
12) Maggie Rogers- "Love You For a Long Time"- Entram Billie, Lewis e Khalid, porque não entrar também Maggie Rogers no vagão da produtividade acelerada? Heard It in a Past Life está quase a completar um ano de vida, e a sua autora acaba de ser nomeada para Melhor Artista Revelação nos Grammys 2020, por isso deixemo-la celebrar: "Love You For a Long Time" nasce não só do amor por outro alguém, mas também daquele que nutre pelos seus amigos, pela sua banda, e pelos fãs com quem partilha o seu dom. Sempre soubemos que era amor para a vida toda.
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