As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 125º-101º
Rumamos até à beirinha do top 100:
125º Bombay Bicycle Club- "Feel" (2014)- Ao quarto (e ainda último) álbum de originais, Jack Steadman assegurava a produção executiva dos trabalhos da sua banda, e o resultado é um disco em que se sentem as fragrâncias dos países por onde passou durante a sua composição. Será apropriado afirmar que nunca Bombaim fez tão parte da essência do grupo como em "Feel", uma maravilhosa composição indietronica que sampla uma canção de um filme de Bollywood de 1954.
124º Adele- "Set Fire to the Rain" (2011)- O drama. O poder. O imaginário épico. Caramba, os singles de 21 foram completamente avassaladores: chegados a "Set Fire to the Rain", já todo o mundo havia sucumbido ao blockbuster sónico em que Adele tinha decidido transformar o seu desgosto amoroso, potenciado pela produção imaculada de Fraser T. Smith e pela fúria titânica em que mergulha a sua interpretação. Apesar de nunca ter recebido um vídeo oficial, o tema conseguiu sustentar a performance gloriosa do álbum. Assim se media a sua força.
123º Years & Years- "King" (2015)- Em 2015 o oráculo contava-nos que os Years & Years seriam a aposta mais promissora desse ano, e tínhamos boas razões para acreditar quando "King" anunciou a chegada de Communion: um inescapável banger dance pop de batida balear, sobre cortar as amarras de um relacionamento destrutivo, cantado e acentuado com fervor por um Olly Alexander que projecta em tempos a memória de um jovem Justin Timberlake. No "let go of everything" final, é inevitável não nos lançarmos também a um dance break épico.
122º Dua Lipa- "Be the One" (2015)- "New Rules" será para sempre a canção a que Dua Lipa deverá a sua ascensão ao panteão da pop, e estaremos sempre gratos por isso, mas o melhor tema continua a pertencer ao seu single de estreia, quase dois anos antes do resto do mundo ter despertado para si. Uma imensa canção synthpop sobre querer voltar para os braços de um outro alguém, imbuída de uma vocalização inigualável e de um certo exotismo - as suas raízes albanesas a virem ao de cima - afastado do mainstream desde, possivelmente, Shakira.
121º Drake feat. Wizkid & Kyla- "One Dance" (2016)- Falemos de um momento de viragem na trajectória de Drake. O rapper de Toronto vinha de "Hotline Bling", o maior êxito do seu percurso, com escala em "Work" de Rihanna, e novo pináculo a ser conquistado em breve com "One Dance", um estonteante single pop com um pé nas Caraíbas e outro na Nigéria, com heranças UK funky à mistura. "Pop Style" seria lançado no mesmo dia, para - imagine-se - minorizar uma possível rejeição pública. Estava assinada a sua sentença de glória suprema para os três anos restantes da década.
120º Rihanna- "Where Have You Been" (2012)- Talk That Talk (2011) não é de todo um dos álbuns mais memoráveis de Rih, mas é onde habitam tanto "We Found Love" como "Where Have You Been", dois dos singles que a encontram na sua acepção mais ravetástica de sempre. Este último então é um torpedo dance pop/techno massivo operado por Calvin Harris, Dr. Luke e Cirkut, que versa sobre o entusiasmo de encontrar um parceiro que a satisfaça plenamente, ilustrado por um elaborado vídeo de Dave Meyers que vê a cantora a canalizar os papéis de deusa reptiliana, egípcia, africana e hindu.
119º Ed Sheeran- "The A Team" (2011)- Ninguém adivinhava por esta altura que oito anos volvidos e Ed Sheeran seria um dos músicos mais bem-sucedidos do mundo, mais ricos do Reino Unido e com a digressão mais rentável de todos os tempos. Aliás, nada em "The A Team" - uma emotiva balada folk sobre uma sem-abrigo perdida para as malhas da prostituição e das drogas - indicava o que estaria para vir. E, por vezes, que bom seria voltar ao excelente contador de histórias de guitarra acústica, sem o histerismo e a ambição pop associadas. É deixar correr essa lágrima.
118º Travis Scott- "Sicko Mode" (2018)- Astro, yeah. Travis Scott já tinha tido alguns momentos de aclamação comercial ao longo da década, com "Antidote" ou "Goosebumps", por exemplo, mas nenhum deles foi tão ubíquo ou primordial para a configuração pop da época quanto "Sicko Mode", um estupendo single sobre a esforçada ética de trabalho dos envolvidos na faixa - incrível como Drake e Swae Lee não obtêm um único crédito - que se desvenda numa sucessão de mini-suítes arrasadoras, uma delas fortemente apoiada num sample de "Gimme the Loot" de Biggie.
117º Taylor Swift- "...Ready for It?" (2017)- Ninguém estava pronto para o primeiro bass drop do refrão de "I Knew You Were Trouble" que alterou para sempre a rota de Swift, muito menos quando cinco anos volvidos o mesmo método foi aplicado logo ao primeiro sopro de vida de "...Ready For It?", uma caótica construção electropop e de pop industrial assinada por Max Martin, Shellback e Ali Payami, algures entre a forja de trovões e um team-up épico entre os Avengers. Teremos sempre um apreço especial pela versão badass de Taylor.
116º Neon Indian- "Polish Girl" (2011)- Erguendo-se na mesma vaga chillwave que trouxe os Washed Out ou Toro y Moi no final da década passada, o projecto de Alan Palomo plantava seguras estacas nos anos 10 com o retrofuturismo de uma história de amor falhada com aparato cibernético, como que situada algures no universo de Super Mario. Ondas e ondas de nostalgia e vórtices synth conduzem-nos pela memória de um amor jovem, intenso e irrecuperável - que trip fantabulástica.
115º Gotye feat. Kimbra- "Somebody That I Used to Know" (2011)- 2012 foi um lugar estranho, dominado por um trio indie pop norte-americano, uma estrela teen fora de tempo a devolver a bubblegum pop ao mainstream e um belga-australiano num dueto com uma encantadora neozelandesa que meio mundo só percebeu lá para a trigésima audição não se tratar de Katy Perry. Há dor, remorso e danos irreparáveis. Há um xilofone catita e um sample do instrumental "Seville" do brasileiro Luiz Bonfá. E há uma canção magnífica no topo de tudo - é concerteza o maior one-hit wonder da década.
114º SBTRKT feat. Ezra Koenig- "New Dorp. New York." (2014)- É uma das parelhas mais inusitadas dos anos 10, esta que junta o produtor de electrónica da máscara tribal ao vocalista queque dos Vampire Weekend, para um dos mais bizarros e inquietantes singles em que já se viram envolvidos. "New Dorp. New York." é não só um possível tributo ao bairro nova-iorquino presente no título, como um lembrete dos fantásticos resultados que advêm do impensável. E que outra faixa nos concede um trava-línguas tão delicioso quanto "gargoyles gargling oil", mesmo?
113º Britney Spears- "Till the World Ends" (2011)- A memória de que um dia o mundo esteve para acabar a 21 de Dezembro de 2012, é já escassa. Infelizmente, a lembrança de que um dia Britney Spears chegou a ser a força em torno do qual o mundo da pop inteiro gravitava, também. "Till the World Ends" foi uma das últimas ocasiões em que tal se verificou: uma sensacional faixa electropop de elementos trance e eurodance que Max Martin e Dr. Luke ajudaram a erguer, e que nos aconselha a dançar incessantemente até ao apocalipse. Decidimos acatá-lo para a vida.
112º James Vincent McMorrow- "Cavalier" (2013)- No início de 2014, James Vincent McMorrow dava-nos um dos álbuns mais belos desse ano na figura de Post Tropical, que o via afastar-se da folk reclusiva da estreia para paisagens sonoras mais James Blake-ianas, ainda aladas, com electrónica, soul e algum R&B à mistura. A pontificar a viragem, a desolação profunda de um "Cavalier" que se esvaía nas memórias e na perda do primeiro amor, pontuada por um falsete glaciar, quase cortante.
111º Vampire Weekend- "Diane Young" (2013)- Modern Vampires of the City era apresentado ao mundo em Março de 2013 com um dos melhores singles duplos lançados nos anos 10: de um lado, a pop barroca nebulosa de "Step", e do outro a hiperactividade indie rock de "Diane Young", uma canção tremendamente aditiva nascida da parceria entre Rostam e Ariel Rechtshaid que faz parecer engraçada a ideia da mortalidade precoce, e que se esforça por enterrar de vez as influências afropop/worldbeat e a aura mais formal da banda. Missão cumprida.
110º Beyoncé feat. Kendrick Lamar- "Freedom" (2016)- Não é ao acaso que a ilustração de "Freedom" corresponde ao capítulo da "esperança" na odisseia audiovisual de Lemonade. Afinal, este grito pela liberdade - da mulher afro-americana, sobretudo - é a artéria principal deste seu sexto disco, uma monumental faixa de heranças gospel, blues e R&B que convida o virtuoso de Compton, também ele um activo defensor da causa Black Lives Matter, a incidir alguma luz sobre o racismo institucionalizado na América. Oremos, irmãos.
109º Rosalía- "Malamente" (2018)- Tra, tra! Há pouco mais de um ano, a catalã Rosalía e o compatriota El Guincho davam início a um canto novo que revolucionaria a forma como a música latina - até ali uma amálgama indefinida de reggaeton - poderia ser entregue, combinando velha e nova tradição através da fusão experimental de uma sonoridade tão rígida quanto o flamenco com uma pop mutante. "Malamente", um tentador single sobre um mau prenúncio do coração, foi o tal que tudo originou. E a sua estrela, cresce, cresce, sem cessar...
108º Låpsley- "Falling Short" (2014)- A década termina sem grande ponta de entusiasmo por esta jovem britânica - há um novo EP a fechar o ano, só que mal se dá por ele - mas importa relembrar que quando tudo começou, Låpsley tinha praticamente a mesma idade de Billie Eilish - e fazia canções tão ou mais incríveis. "Falling Short", uma dolente balada ao piano nos passos de Sampha ou James Blake a contemplar uma relação à beira do fim, aguçou o interesse suscitado por "Station" e "Painter", comprovando-a como um dos mais brilhantes e maduros talentos da sua geração.
107º AlunaGeorge- "You Know You Like It" (2012)- Um ano antes de editarem Body Music (2013), Aluna Francis e George Reid começavam a virar cabeças com a sua mistura de synthpop, R&B e UK garage demonstrada em "You Know You Like It", um bestial single sobre não recear mostrarmos as nossas verdadeiras cores perante o mundo, que conheceu uma nova vida (e fôlego comercial) com a remistura feita por DJ Snake dois anos mais tarde.
106º Angel Olsen- "Shut Up Kiss Me" (2016)- Depois de dois elogiados álbuns que lhe colocaram o rótulo de cantautora indie folk lo-fi, Angel Olsen estava pronta para uma espécie de ruptura. O primeiro passo foi colocar uma peruca metalizada e anunciar My Woman com um atmosférico single synthpop que nem a todos agradou. O segundo passou por conservar o raio da peruca e entregar-nos um vulcânico pedaço de glam rock que não se acanha em declarar a medida exacta das suas pretensões no amor. O resto, é história.
105º Jay-Z & Kanye West- "Niggas in Paris" (2011)- Lembram-se daquela vez em que Jay-Z e Kanye West nos deram o maior álbum colaborativo da década? Precisamente do mesmo Watch the Throne (2011) de onde saíram pérolas como "Otis" ou "No Church in the Wild", "Niggas in Paris" permanece como o maior clássico: uma odisseia hip hop de fundo industrial e batida insana de Hit-Boy com um sample bizarro do filme Blades of Glory, que versa sobre como os dois vultos passaram da pobreza das ruas para o luxo e ostentação de Paris. That sh*t cray!
104º Ellie Goulding- "Lights" (2011)- Inicialmente uma faixa bónus encontrada em apenas algumas versões do seu debute, "Lights" - um encantatório tema synthpop acerca de algo tão pouco rebuscado quanto o medo do escuro - ganhou estatuto de single com o lançamento de Bright Lights, a reedição do citado disco de estreia, e tornar-se-ia no seu primeiro hit à séria nos EUA, onde esperou 33 semanas até alcançar a vice-liderança da Billboard Hot 100. No Reino Unido, pelo contrário, não obteve nem um terço da aclamação - há coisas fantásticas, não há?
103º Rihanna- "Love on the Brain" (2016)- Ao primeiro "and you got me like, ohhh", Rihanna já nos tinha na mão. Anti (2016) já tinha demonstrado muito da sua força com os singles anteriores, mas "Love on the Brain" tornou-se num clássico entre o público e a sua falange de fãs, que pela primeira vez a ouviam num apaixonante modelo doo-wop/soul algures entre Amy Winehouse e Macy Gray, ainda enredada numa teia de amor destrutivo espelhando as memórias com Chris Brown. Como se não bastasse, é responsável pela sua melhor performance ao vivo de sempre.
102º Beyoncé- "Countdown" (2011)- Queen B tem um bom historial de temas R&B frenéticos - citemos "Freakum Dress", "Single Ladies (Put a Ring On It)" ou "Jumpin', Jumpin'" e "Lose My Breath" ainda dos tempos das Destiny's Child - mas "Countdown" é qualquer coisa de fenomenal. Suprema ode à monogamia e aos dez anos de relação com Jay-Z, incorpora elementos de hip hop, funk, reggae e afrobeat na sua composição, bem como uma criativa reutilização da faixa "Uhh Ahh" dos Boyz II Men, lançada duas décadas antes.
101º Harry Styles- "Sign of the Times" (2017)- Na Primavera de 2017 o membro mais popular dos One Direction lançava o seu primeiro single a solo. E ninguém podia acreditar muito bem no que estava a acontecer. Numa questão de seis minutos apenas, Harry Styles passou do tipo da boysband de hits prontos a confeccionar, para um músico de sérias convicções digno de ser respeitado com uma fabulosa ópera pop rock que David Bowie ou os Queen poderiam ter entoado no seu período áureo. Só Justin Timberlake foi capaz de algo semelhante - e todos sabemos até onde acabou por chegar.
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