REVIEW: Ellie Goulding- Halcyon Days
Nos dias que correm é comum vermos os artistas a apostar em reedições de luxo dos seus álbuns. Ellie Goulding não é excepção à regra e, à semelhança do que fez há 3 anos atrás com Lights, também Halcyon é agora reeditado sob o título Halcyon Days, com 10 novos temas. Gostei muito da versão standard e por isso quero perceber de que forma esta extensão vem engrandecer ou não a obra. Vamos a isso:
1) Burn- Quando a ouvi pela primeira vez não tive dúvidas de que se tornaria no seu maior hit de sempre, e a prova disso é que lhe valeu o seu primeiro nº1 no Reino Unido. Longe de ser o melhor tema que já editou, não deixa de ser um fabuloso esforço comercial e cumpre o seu propósito: o de agradar às massas. Poderia ser cantado por qualquer uma, mas ninguém o faria melhor que a própria Ellie. E isso faz toda a diferença. (9/10)
2) Goodness Gracious- Do tema anterior para este transitam o mesmo produtor - Greg Kurstin - e o apelo inequivocamente comercial. Só que aqui o resultado não é tão prodigioso e o tema soa-me demasiado excessivo, assemelhando-se a música de feira popular. O vocalista dos fun. tem créditos na escrita e, com os devidos ajustes, imaginava-o a cantar isto. (6/10)
3) You, My Everything- Ao 3º tema já percebi que a densidade e magia de Halcyon não moram aqui. Novo tiro comercial, nova tentativa algo falhada. Sente-se sobretudo a euforia e o êxtase da batida drum n' bass, mas uma audição mais atenta revela um grande vazio lírico, nada digno de Ellie. Do mal a menos, serve para dançar. (6/10)
4) Hearts Without Chains- Aqui sim, reconheço a Ellie de sempre. Versos bonitos, interpretação sentida e produção polida, num tema que poderia muito bem pertencer ao alinhamento original. Digamos que é o primeiro momento baladeiro, ou, quanto muito, de isqueiros no ar, e parece-me um contraponto bem mais interessante que a amálgama synthpop que dá o mote a esta reedição. (8/10)
5) Stay Awake- Esta canção foi uma das muitas faixas bónus da edição original de Halcyon e lá acabou por encontrar o seu espaço nesta reedição. Para tal, muito terá contribuído o nome do produtor - o jovem francês-sensação Madeon - conhecido pelas suas inspiradas criações electrónicas. Aqui consegue despertar apenas algumas ocasionais faíscas (lá mais para o meio) e Ellie não tem espaço nem condições para brilhar. Soava melhor se fosse instrumental. (6/10)
6) Under Control- Descrevo-o como sendo uma versão evolutiva de "Figure 8", a luz que surge depois das trevas: "I feel like I am dreaming again/ I feel like I am seeing again/ I feel like I am breathing again/ I got it under control". É o ponto alto de Halcyon Days: ao contrário das anteriores, Ellie não anda à deriva, é a peça central que alimenta o tema, tornado-o mágico. (9/10)
7) Flashlight- Avançamos agora para mais uma colaboração com um DJ, desta feita o britânico DJ Fresh, que consegue aquilo que Madeon bem tentou: dar um tema a Ellie que lhe encha as medidas e de quem as ouve. É puro delírio drum n' bass, uma entusiasmante ode furiosa com a pista de dança com um único senão: é demasiado semelhante a "Hot Right Now", da sua autoria, e pouco original. Mas é eficaz e é isso que interessa. (8/10)
8) How Long Will I Love You- Daqui para a frente esperam-nos apenas covers: este é um original dos The Waterboys e Ellie Goulding atira-se a ele com a noção de que Halcyon Days peca pela falta de momentos acústicos. É um tanto ou quanto curta, mas cumpre bem o seu propósito. (7/10)
9) Tessellate- Disse-o uma vez e volto a repetir: Ellie Goulding brilha mais quando se debruça sobre melodias dream pop e de espírito alternativo. Fê-lo em "Hanging On" e volta a repetir a proeza nesta magnífica cover dos Alt-J. Aliás, ela funcionaria muito bem se de repente se transformasse na versão feminina da banda do triângulo. A voz resplandece, despida de truques de estúdio, e aquele saxofone é ouro sobre azul. (9/10)
10) Midas Touch- Já na versão deluxe da própria edição bónus, encontramos esta versão de "Midas Touch", um original dos anos 80 dos Midnight Star, colectivo americano de R&B/electro-funk. O toque de Midas pertence ao DJ Burns, que injecta uns quantos pós house mais contemporâneos que a toada funk que embala o original. É um óptimo e interessante re-tratamento. (8/10)
Isoladamente, Halcyon Days cumpre o seu propósito: uns quantos temas orelhudos que não são mais do que óbvios esforços para manter Ellie Goulding nas tabelas. Agora, como acréscimo da colecção original, está longe de ser uma mais valia. Onde Halcyon é obscuro, denso, belo, mágico e cristalino, Halycon Days é o completo oposto: efusivo, formulaico, festivo, alucinante e excessivo. Aquilo que supostamente deveria funcionar como um complemento, acaba por ser bruscamente diferente, como do dia para a noite.
E depois coloca-se a eterna questão: será justo para os fãs que compraram a edição standard terem que desembolsar mais uns quantos trocos pela mesma setlist com 8 temas a mais? Seria, se valesse a pena. O que não é o caso. "Burn", "Hearts Without Chains" e "Under Control" são as únicas razões de interesse, tudo o resto é palha. Halcyon está muito bem como está e não precisava, de modo algum, deste prolongamento. Em vez deste desvio de rota, Ellie Goulding poderia muito bem ter lançado "My Blood" ou "Only You" como singles ou começado a trabalhar num novo álbum. Enfim, estrelato a quanto obrigas...
Classificação: 7,6/10
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