Odisseia Musical: 2012, Metamorfose- Parte I

Parece que ainda foi ontem que tudo aconteceu, daí que é estranho estar a falar de 2012 como se fosse um capítulo encerrado, distante na memória e que só regressa com ocasionais acessos de nostalgia. Até porque não foi assim há tanto tempo e os seus efeitos, de certa forma, ainda se fazem sentir.

Para a música foi um ano singular, de algumas transformações. Assomam-me ao pensamento três canções que ficaram para a história desse ano: "We Are Young", portentoso hit de estádio na linha de uns Queen com travo indie; "Somebody That I Used to Know", o êxito improvável que nunca saberemos ao certo se triunfou pela força da canção ou pelo seu vídeo artístico, e "Call Me Maybe", bubblegum pop reminiscente do final dos anos 90 que entretanto se tornou numa catchphrase da pop culture e que relegou a sua intérprete ao estatuto de one-hit-wonder. Todos eles gigantescos sucessos improváveis.

Que mais? Madonna caiu do trono com aparatoso estrondo devido à obra menos influente e bem-sucedida da sua longa carreira; Rihanna soube compreender que a EDM era um filão já gasto e moveu-se com astúcia para o território urbano, obtendo mais um enorme sucesso pelo caminho, e Bruno Mars endurecia a sua couraça musical com elementos funk, disco e soul. No campo dos novos valores surgiam nomes como Alt-J, Of Monsters and Men, Emeli Sandé, Bastille, Lana Del Rey, fun., Rita Ora ou Azealia Banks. 

Nenhuma transformação, porém, foi tão crucial quanto a pessoal. A entrada nos 20 expandiu-me os horizontes e mudou a minha forma de ser e estar na vida, tornando-me, penso eu, num melhor ser humano. Passei a acreditar mais em mim e no meu potencial, não permiti mais que as pré-concepções ou opiniões alheias me importunassem ou inibissem, abri os braços a novos desafios pessoais e profissionais que contribuíram também para essa evolução interior e passei a controlar melhor o caos à minha volta.

Os anos mais promissores e entusiasmantes da minha vida haviam justamente começado.

Os temas que mais me marcaram

12º Bruno Mars- "Locked Out of Heaven", Unorthodox Jukebox

Acho que não houve em 2012 outra canção tão infalível e imediata quanto esta, fruto de uma tremenda evolução artística da parte de Mr. Mars, até então demasiado confinado ao território das canções soft pop/rock orelhudas. Com "Locked Out of Heaven" expandiu a sua paleta sonora ao new wave e funk via anos 80, ganhou maior estofo lírico e vocal e ofereceu-nos o seu melhor single à data, intemporal e audacioso. Que se abram então as portas do céu.


11º Of Monsters and Men- "Little Talks", My Head Is an Animal

Ainda hoje acho incrível o percurso que esta canção traçou, desde a gélida Islândia até aos restantes cantos do Mundo. O maior palmaré foi ter chegado ao top 20 da Hot 100 e atingido a certificação de tripla platina, tornando-se assim na canção de maior sucesso de um artista islandês em solo americano. Indie folk trauteável e reconfortante, ainda que verse acerca de uma rapariga que fala com o seu recém-falecido namorado, julgando estar à beira da demência. Grande parte do seu encanto deve-se a este vídeo maravilhoso que nos guia pelos recantos de um universo fantástico com navegantes celestiais, monstros ferozes e criaturas aladas à solta.



10º Coldplay feat. Rihanna- "Princess of China", Mylo Xyloto

É um dos maiores acontecimentos musicais da década, este dueto que marca o encontro entre a maior banda do mundo e a cantora pop mais implacável da sua geração. Dois dos meus artistas favoritos juntos numa colaboração épica e algo incompreendida, visto assinalar uma ruptura com a sonoridade e costumes da banda. Eu gosto particularmente deste desvio de rota pelos caminhos de uma electropop oriental com groove R&B, pois torna tudo ainda mais singular. Depois há este vídeo fabuloso com inspiração marcial dos filmes de Ang Lee e uma química imensa que se solta entre Chris Martin e Rihanna em pleno deserto, de testas unidas, lamentando a ruína do seu amor.



Os álbuns que mais me marcaram

6º Of Monsters and Men- My Head Is an Animal

Para quem cresceu rodeado de livros e autênticos calhamaços com histórias alusivas a mundos fantásticos e épicas aventuras, este disco é um sonho. Na verdade, todo ele é também uma epopeia passada em terras islandesas, com cenários que se adivinham idílicos e vários encontros com criaturas mitológicas, que se vai tornando mais tenebroso mediante o avançar do alinhamento. Musicalmente é bastante simples e unidimensional, repleto de melodias indie pop/folk harmoniosas e orelhudas, mas isso pouco importa quando aquilo que transmite é tão mágico e único. Coloco-o na mesma prateleira que Hopes and Fears dos Keane e volto a ele sempre que preciso de despertar o meu imaginário.
Este é o álbum de: "Little Talks", "Dirty Paws", "Mountain Sound" e "King and Lionheart"

5º Ellie Goulding- Halcyon

O 2º disco de Ellie Goulding é uma das razões para ainda se sentir a presença corpórea de 2012: a sua reedição (Halcyon Days) ainda paira nas tabelas enlatado entre discos do ano passado e do ano corrente. Mas é o seu alinhamento original que perdura na memória e merece ser elogiado. Halcyon é o desabrochar de Ellie Goulding da forma que se queria e previa, assinalando uma clara evolução em termos melódicos e vocais face ao imberbe álbum de estreia. É um disco aparentemente sereno que navega em águas profundas, por vezes negras outras de um imenso azul celestial e que alcança um perfeito balanço entre momentos acústicos ternurentos e outros mais agitados e ritmicamente complexos.
Este é o álbum de: "Anything Could Happen", "Hanging On", "I Know You Care", "Figure 8" e "Explosions"

Fim da parte I. Muito mais há para conhecer no derradeiro capítulo da Odisseia Musical. Fiquem desse lado.

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