You+Me: Quando Pink conheceu Green


A vida tem destas coisas. Acasos do destino e encontros acidentais que nos levam por caminhos que jamais pensámos percorrer. Desvios de rota que muitas vezes nos afastam do percurso até então traçado, apenas para que possamos compreender tudo aquilo que se seguirá. Qual seria também o sentido da vida se a trajectória fosse sempre a direito? 

Alecia Moore, mais comumente conhecida por Pink ou, simplesmente, a louca cá do sítio, se preferirdes, parece ter encontrado uma nova coordenada distante da cartografia pop/rock que tem desenhado ao longo da sua carreira. A bússola aponta agora para territórios folk e country à boa moda americana, aventura essa que partilha com o amigo Dallas Green, já mais experiente nestas andanças. Juntos formam os You+Me.



Não deveria ser motivo de espanto vê-la nestes preparos. The Truth About Love, o último álbum de originais editado há 2 anos atrás, veio romper de certa forma com a percepção de artista-imatura-e irreverente-que-não-se-pode-levar-demasiado-a-sério que a maioria das pessoas tinha dela. Além do mais, ela é a tal que arrisca a vida no palco ao embrenhar-se em audaciosas performances acrobáticas que têm tudo para correr mal. Não deveria, mas é. 

Talvez porque das estrelas pop se espera apenas uma vida dedicada ao fabrico de grandes hits capazes de inspirar e mover as massas. Não se lhes auspicia uma carreira paralela que comprometa o empenho para com as reais obrigações, aliene fãs ou deite por terra tudo aquilo que conquistaram até então. E é uma pena que assim seja, pois seriam evitados muitos naufrágios musicais. Mas isso é outra história.

O que começou por ser apenas uma simples sessão de estúdio entre amigos, rapidamente se tornou num caso sério de cumplicidade e produtividade, já que num espaço de uma semana Pink e Dallas Green - músico canadiano ex-membro de uma banda post-hardcore que nos últimos anos encontrou refúgio na folk, tendo editado a solo quatro discos de relativo sucesso no país natal - criaram 10 canções que serão agora lançadas em formato longa-duração a 14 de Outubro.


De rose avé. - assim se chama o disco - sao conhecidos até ao momento "You and Me", momento de bonita partilha musical, e "Break the Cycle", inspirado na tumultuosa relação de Pink com a figura materna e com uma secção orquestral que me traz os Corrs à memória. Ambos fornecem boas e promissoras pistas para o que aí virá.

E de um encontro espontâneo entre amigos nasce um curioso projecto musical que até poderá passar despercebido, mas certamente deixará marcas na carreira de ambos. E isso é muito mais interessante do que o possível mediatismo daí resultante. Até porque além de ser fruto de uma evidente cumplicidade, creio que este projecto é também uma expressão heróica e de extrema valentia da parte de Pink, por pôr-se à prova desta forma, evitando comodismos vários a que alguém na sua posição e com o seu estatuto facilmente se entregaria. É por motivos como este que a cada dia que passa nutro maior respeito por esta senhora. 

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