REVIEW: The Weeknd- Beauty Behind the Madness


Crooner canadiano faz um testemunho fiel daquilo que é a sua carreira neste momento - do caminho errante pela obscuridão do R&B alternativo para a transição pop, à luz de Michael Jackson e na companhia de estrelas de primeira linha. O som de 2015 passa por aqui.

A extraordinária ascensão de The Weeknd ao panteão da pop não só apanha desprevenido quem o escuta apenas há um par de meses como quem o seguia desde House of Balloons (2011). Mais do que uma maquinação bem engendrada, deve-se tudo a uma sucessão de escolhas (incrivelmente) acertadas - da afiliação à família OVO de Drake, às mixtapes que ajudaram à construção do culto no meio underground, aos temas que assinou para a banda sonora de The Hunger Games e principalmente Fifty Shades of Grey ou às colaborações ao lado de Sia e Ariana Grande, a expô-lo a uma nova audiência. 

A rapidez com que o fenómeno The Weeknd se propaga é impressionante. Numa questão de meses passou do rapaz daquela canção de Ariana Grande ao tipo interessante da banda sonora do filme mais controverso do ano à estrela pop mais hip do momento, capaz de colocar um álbum no nº1 da tabela de álbuns norte-americana com quase meio milhão de cópias vendidas e um trio de canções em nome próprio no top 3 da tabela de singles. 


Beauty Behind the Madness apanha-o ainda entre o anonimato e o anúncio de que algo maior está para vir, num perfeito equilíbrio entre o compromisso para com as origens e a declaração de intenções afiliadas com o mainstream. Liricamente Abel Tesfaye não muda: a mesma personalidade destrutiva, o gosto pelas sombras, os prazeres proibidos e as confissões despudoradas das suas aventuras sexuais. 

Há aversão à monogamia e a relações amorosas estáveis no régio "Real Life"; imoralidade e ego insuflado pela fama recém-encontrada em "Tell Your Friends", com a marca autoral de Kanye West bem presente na atmosfera jazzy e nas secções de vocoder; o prazer do reconhecimento entre corpos familiares no sedutor "Acquainted"; tensão e deleite carnal na valsa erótica de "Earned It", ao melhor estilo de um Michael Bublé carregado de instinto predador; e ecos de Kiss Land (2013) nas crónicas devassas de "Often", soturno, oriental e adornado pelo flow melódico do seu intérprete. 

A propagação da conduta errante atinge um máximo com a negritude da paisagem de "The Hills", possivelmente uma das melhores canções R&B nascidas este ano - sinistra, emocionalmente afectada e sublimemente produzida. Depois há, claro, um gigantesco "I Can't Feel My Face" a levar o título de momento inescapável do disco - a versão mais fiel possível que 2015 terá de "Billie Jean". O mesmo modelo pop é replicado sem igual sucesso em "In the Night", que passa pela versão desesperada de uns Maroon 5 a tentarem homenagear Michael Jackson. Esperemos que The Weeknd resista a lançá-lo como single.



Os nomes convidados em Beauty Behind the Madness parecem traduzir a ambição do autor se aproximar de linguagens pop. "Losers" coloca na sua cabeça o chapéu de Pharrell Williams e um Labrinth à deriva; e se "Dark Times" é um soturno momento bluesy com um improvável mas acertado Ed Sheeran a seu lado, o que dizer da parceria com Lana Del Rey? Surpreendentemente boa. "Prisoner" em nada soa forçado, antes como um encontro natural entre dois errantes do destino que partilham os mesmos lamentos. Lana evade-se no refrão, mas os seus solos são memoráveis.

Para o final fica reservado um imenso - na duração e ambição -"Angel", um "Earth Song" paredes meias com algum tema da lavra de R. Kelly, que fica marcado pela honestidade das confissões de Abel Tesfaye - "I'm so desensitized to feeling these emotions", exprime a dada altura, desejando que a sua cara-metade encontre outro alguém que a faça feliz. A loucura cede, por fim, para dar lugar à beleza. E no retrato final fica uma imagem clara daquilo que The Weeknd representa - o homem certo para este tempo.



Classificação: 7,9/10

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