Odisseia Musical: 2010, Luz e Sombra- Parte I

Os meus 18 foram parcos em recordações mas valiosos em lições. Não foram icónicos tal como me prometeram, mas ensinaram-me umas quantas coisas que hoje em dia guardo na mão, entre elas o facto da preserverança e força de vontade serem imprescindíveis para atingirmos os nossos objectivos e que só saindo da sua zona de conforto é que o ser humano poderá evoluir.

Eu hoje olho para trás, para essa época de auto-descoberta, e quase que não me reconheço. Continuo a ser o mesmo Gonçalo, mas ao mesmo tempo tanta coisa mudou em mim. Pensava que sabia muito e afinal não sabia nada - da vida e de música. E foi necessário, precisamente, sair da minha bolha e conhecer novos mundos para compreender o quão longe estava do caminho certo.

Em Janeiro de 2010 começei a esforçar-me nesse sentido ao criar o espaço dos 'Magníficos Materiais Desconhecidos' com a premissa de dar voz às revelações do panorama musical e, ao mesmo tempo, de encontrar a minha. Foi a primeira vez que saí da minha zona de conforto e ousei ser mais do que o rapaz da pop que só se deixava encantar pelo que passava na MTV. Foi um tremendo salto de coragem, rumo ao desconhecido, que me obrigou a questionar o convencional, a expandir a minha visão, a ir de encontro à cena indie e a diversificar o meu palato musical. Enfim, deu origem ao melómano que agora assina estas linhas.

4 anos e 118 'Magníficos' depois, este espaço é actualmente "a" rúbrica de assinatura do Into the Music e também a que faço com mais prazer. Florence and the Machine, Ellie Goulding, Marina and the Diamonds, Hurts, Ed Sheeran, Birdy, Foster the People, Bastille, Of Monsters and Men, Disclosure, Lorde - isto só para mencionar alguns dos mais marcantes - tudo nomes que dali surgiram, que têm crescido e evoluído comigo e traçaram um percurso impressionante. Obviamente que não fui eu que os lançei, mas tenho para mim que não raras vezes fui o primeiro blogger português a reparar neles e a trazê-los até vós. Daí que é com imenso orgulho que vejo o caminho que percorreram desde o anonimato até ao circuito mainstream, rumo ao sucesso mundial. É um pouco semelhante, presumo eu, ao que qualquer pai sente quando vê um filho seu singrar na vida.

Tal como o conhecimento, também os novos talentos são inesgotáveis. É por essa razão que continua a fazer sentido um espaço destes no blog, ainda que poucos sejam aqueles que lhes dão ouvidos antes de se tornarem verdadeiramente conhecidos.

Talvez daqui a 4 anos olhe para trás e constate que ainda pouco sei, mas que esse pouco valerá mais do que o nada de 2010. É esse pensamento que me leva a querer ser, diariamente, um melómano melhor - magnífico e desconhecido - como aqueles que por aqui passam. 

Os temas que mais me marcaram

10º Lady Gaga feat. Beyoncé- "Telephone", The Fame Monster

Foi o grande acontecimento musical de 2010 - Lady Gaga e Beyoncé juntas e desta vez a valer ("Video Phone" foi só para aquecer) . Lembro-me tão bem do dia em que o vídeo saiu e da histeria colectiva que gerou. De facto, não era para menos: Gaga estava no auge da sua popularidade e aqui conseguiu fazer com que um videoclipe voltasse a ser visto como um evento mobilizador à escala mundial. São 9 minutos de pura insanidade: girl fights, figurinos extravagantes, uma Pussy Wagon roubada a Tarantino, envenenamento e coreografias esquizóides.



9º B.o.B feat. Hayley Williams- "Airplanes", B.o.B Presents: The Adventures of Bobby Ray

Não escondo que grande parte do meu carinho por esta canção se deve à participação de Hayley Williams, a destemida frontwoman dos Paramore, que há 4 anos atrás planava alto nesta colaboração tão distante da pop punk de então da sua banda. Ao seu lado estava o estreante B.o.B, numa altura em que ainda era uma promessa do hip hop (o que é feito dele?) e parecia destinado a grandes voos. Sob a batuta de Alex da Kid (outro que se eclipsou) assinaram um dos duetos mais belos e memoráveis de 2010.



8º Florence and the Machine- "Dog Days Are Over", Lungs

E no post em que a agulha do tempo apontou para os Magníficos Materiais Desconhecidos, não poderia faltar aquele que foi o colectivo pioneiro do espaço - Flo e a sua fiel máquina de músicos. "Dog Days Are Over" (ou, levado à letra, "Os dias de cão acabaram") faz parte da sólida e elogiada estreia de 2009 - Lungs - aqui com um upgrade visual face ao vídeo original de 2008. Um pagode trucidante de folk, pop, rock, harpas e percussão tribal aliado ao sempre imaginário rebuscado de Florence.



Os álbuns que mais me marcaram

5º Maroon 5- Hands All Over

Ao 3º álbum os Maroon 5 encontraram o equilíbrio perfeito entre a soul e o funk rock via Stevie Wonder, Prince e Police do qual se mostraram estudiosos discípulos nos dois primeiros álbuns, e a pop infecciosa à qual viriam a sucumbir totalmente no banalíssimo Overexposed (2012).  Acaba por ser o meu álbum favorito deles, precisamente por ser um híbrido entre o passado e o futuro da banda, isto numa altura em que ainda demonstravam sinais de vitalidade artística. A trajectória do disco é curiosa: esteve adormecido nas tabelas durante um ano, até que foi reavivado por esse vulcão intitulado "Moves Like Jagger", que se tornou no maior hit de sempre do grupo, ditando o rumo que a sua carreira seguiria.
Este é o álbum de: "Misery", "Give a Little More", "Never Gonna Leave This Bed" e "Moves Like Jagger"

4º Hurts- Happiness

Há por aqui tudo menos felicidade: melancolia, angústia, corações destroçados e synthpop aprumada, prodigiosamente arquitectada, feita num masculino singular sem cair na lamechice. É um portento de classe esta estreia do duo britânico que evoca comparações a uns Depeche Mode, nos momentos de maior negrume, ou a Spandau Ballet, quando colocam a máscara de poetas românticos atormentandos. Infelizmente viriam a perder grande parte da aura de encanto e mistério aqui cultivadas - tanto a nível sónico como na forma como a transportaram para o imaginário visual - com o 2º tomo da sua carreira, Exile (2013), um tanto ou quanto menos interessante que este irmão mais velho.
Este é o álbum de: "Better Than Love", "Wonderful Life", "Stay", "Sunday", "Illuminated" e "Blood, Tears & Gold"

Fim da parte I. Para a semana retomo a narrativa pelas minhas memórias musicais de 2010. Não percam o fio à meada.

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