REVIEW: Coldplay- Ghost Stories
3 anos depois de Mylo Xyloto, os Coldplay estão de regresso para humm... nos contarem aterradoras histórias de fantasmas à luz da fogueira? Podia ser, mas não. De acordo com a banda, Ghost Stories explora a ideia de como as acções passadas podem influenciar o nosso futuro e comprometer a nossa capacidade de amar. E depois, claro, a temática inevitável: o fim da relação de Chris Martin com Gwyneth Paltrow, que dará pano para mangas. Este parece ser também o regresso aos dias acústicos dos Coldplay, tal como nos seus primórdios, por isso só não será um grande disco se não quiserem. Vejamos:
1) Always in My Head- "I think of you/ I haven't slept/ I think I do/ but, I don't forget". Assim rezam as primeiras linhas do disco, com um Chris Martin aparentemente lutando contra uma valente enxaqueca e a braços com um coração desgostoso que ainda bombeia Gwyneth pelas principais artérias. Pelo meio há um coro gregoriano que parece clamar "força filho" (disparate, claro, mas é ao que me soa) e traços melódicos de "Yellow". Bonito arranque. (8/10)
2) Magic- Recordo-me de Chris Martin ter dito há uns meses atrás que ele e a sua mulher haviam feito um divórcio consciencioso. Tss tss, coisa pós-moderna, dirão muitos de vós. Mas o termo passa a fazer mais sentido quando damos ouvidos a este "Magic" (possivelmente o single mais acústico da banda desde "The Scientist"), pois só desse estado iluminado da mente poderão surgir versos como "and I just got broken/ broken into two/ still I call it magic/ when I'm next to you". Construído à base de um baixo lacónico e - penso eu - uma drum machine que lhe dá um certo balanço R&B, é tão encantador e atmosférico quanto dilacerante. No final, fica aberta a porta para uma possível reconciliação: "And if you were to ask me/ after all that we've been through/ still believe in magic/ oh yes I do". O amor triunfa sempre. (8/10)
3) Ink- À 3ª canção, a resignação do vocalista relativamente à temática começa a tornar-se um bocado aborrecida: "All I know/ Is that I love you so/ so much that it hurts". E é isto basicamente. Isso e uma tatuagem - "2gether thru life", sem tirar nem pôr - ainda dos tempos de romance e alguma percussão alegre para disfarçar o tom moribundo da canção. Não é má, mas é demasiado simples e normal para alguém como os Coldplay. (6/10)
4) True Love- Viver na ilusão é uma patologia tão válida quanto muitas outras. Escapar à realidade. Esquecer o que somos, o que fizemos e o que não podemos ter. Uns bebem. Outros drogam-se. Chris Martin prefere entrar em negação. E ao 4º tema pede desesperadamente para ser amado - e mesmo que seja mentira, que ajam como se fosse um genuíno amor. Pobre Chris, afinal o dói dói era maior do que se pensava. O devaneio ilusório é acompanhado pelo belo do seu falsete e uns tons psicadélicos lá mais para o fim - só assim se evita o marasmo. (6/10)
5) Midnight- Vá lá que no meio de tanta turbulência emocional a banda consegue fazer algo bastante interessante - porventura, a coisa mais hercúlea que lhes oiço desde "Violet Hill". "In the darkness before the dawn/ leave a light, a light on", clama Chris Martin com a voz embebida de um vocoder, qual Bon Iver versão sem cabana e envolto apenas do denso manto nocturno que cobre a Terra. O big bang dá-se com a quebra instrumental em modo electrónico, como que desenhando padrões estroboscópicos no céu nocturno à passagem de uma aurora boreal. O momento verdadeiramente magistral do disco. Pena que seja isolado. (9/10)
6) Another's Arms- Uma espécie de "Princess of China" do disco, mas muito menos apelativo. Talvez porque lhe falta uma Rihanna. E também porque o senhor Martim está demasiado enredado numa teia de auto-comiseração que não lhe permite fazer mais do que temas a pender para o moribundo. Este então é demasiado repetitivo e entediante, tal como "Ink". O pormenor mais interessante é mesmo o canto feminino fantasmagórico e levemente triste que adorna a canção. (6/10)
7) Oceans- Parece ser feito de marés este álbum. De correntes ascendentes e descendentes que ora afastam ora aproximam a banda da rota traçada. Em "Oceans" o barco não anda à deriva. Apesar de navegar num mar de melancolia, conseguem levá-lo a bom porto - é o melhor tema acústico que oiço desde o inicial "Always in My Head". O "divórcio consciencioso" atinge outro patamar: aquele em que percebem que por agora é melhor seguirem caminhos distintos - "you've got to find yourself alone in this world" - apenas para um dia mais tarde se reencontrarem - "meet me in the blue sky/ meet me again/ in the rain". Até porque pode haver todo um oceano a separá-los, mas a magia estará sempre lá. (8/10)
8) A Sky Full of Stars- Poderei analisá-lo de dois prismas. Isoladamente, funciona muito bem. É o "Fix You", "Viva la Vida" e "Paradise" desta era, um grandioso momento pop, vibrante e eufórico a que dificilmente se conseguirá virar a cara sem esboçar, pelo menos, um pequeno sorriso. Já inserido no todo, é uma desgraça, o embuste óbvio de um disco tão sereno e choramingas. É verdade que o torna menos coerente, mas ao mesmo tempo salva-o da monotonia, devolve-lhe a cor às feições e destaca-se como o tema mais apelativo e memorável do alinhamento. (8/10)
9) O- Os Coldplay reservam sempre belíssimos desfechos para os seus álbuns e este não é excepção: poderia passar pelo prelúdio de "Paradise" versão stripped down, tingido com um piano emotivo e o falsete delicado do vocalista. Das marés passamos para os bandos de pássaros, utilizados como metáfora descritiva das sazonalidades e variações do amor. A canção não termina sem uma nova investida gregoriana do "força filho". Que ela esteja convosco. (8/10)
Como vem sendo hábito na carreira dos Coldplay, este novo álbum é bastante diferente dos seus trabalhos anteriores. Para este Ghost Stories, o grupo britânico enveredou por um tratamento mais acústico das canções em detrimento da opulência e megalomania que vinha a caracterizar as suas criações passadas. As canções respiram melhor e estão mais despidas, simples e concisas. Mas falta-lhes a emotividade de outrora, aquela pungência que ora nos deixa em êxtase ora à beira das lágrimas. Está bem que é um disco marcado pelo divórcio do vocalista, mas fica a sensação que Chris Martin e companhia poderiam ter canalizado essa situação para criar um corpo de trabalho muito mais interessante, aguerrido e cativante. Poderiam ter feito de Ghost Stories o que Adele fez com 21.
Mas não. O disco nunca chega a ser doloroso. Não fere, rasga e queima. Arrasta-se pelos vales da monotonia e simplesmente conforma-se com a sua condição. Talvez a culpa seja do divórcio consciencioso. Talvez Chris Martin seja uma alma estranha. Ou talvez hajam histórias que tenham ficado por contar. Poderá isto ser uma pálida versão dos Coldplay ou a única versão possível tendo em conta as circunstâncias. Apenas sei que não é digno daquela que é considerada a maior banda do mundo. Por agora chega - enquanto ninguém usurpa o trono - mas no futuro será preciso mais do que isto.
2) Magic- Recordo-me de Chris Martin ter dito há uns meses atrás que ele e a sua mulher haviam feito um divórcio consciencioso. Tss tss, coisa pós-moderna, dirão muitos de vós. Mas o termo passa a fazer mais sentido quando damos ouvidos a este "Magic" (possivelmente o single mais acústico da banda desde "The Scientist"), pois só desse estado iluminado da mente poderão surgir versos como "and I just got broken/ broken into two/ still I call it magic/ when I'm next to you". Construído à base de um baixo lacónico e - penso eu - uma drum machine que lhe dá um certo balanço R&B, é tão encantador e atmosférico quanto dilacerante. No final, fica aberta a porta para uma possível reconciliação: "And if you were to ask me/ after all that we've been through/ still believe in magic/ oh yes I do". O amor triunfa sempre. (8/10)
3) Ink- À 3ª canção, a resignação do vocalista relativamente à temática começa a tornar-se um bocado aborrecida: "All I know/ Is that I love you so/ so much that it hurts". E é isto basicamente. Isso e uma tatuagem - "2gether thru life", sem tirar nem pôr - ainda dos tempos de romance e alguma percussão alegre para disfarçar o tom moribundo da canção. Não é má, mas é demasiado simples e normal para alguém como os Coldplay. (6/10)
4) True Love- Viver na ilusão é uma patologia tão válida quanto muitas outras. Escapar à realidade. Esquecer o que somos, o que fizemos e o que não podemos ter. Uns bebem. Outros drogam-se. Chris Martin prefere entrar em negação. E ao 4º tema pede desesperadamente para ser amado - e mesmo que seja mentira, que ajam como se fosse um genuíno amor. Pobre Chris, afinal o dói dói era maior do que se pensava. O devaneio ilusório é acompanhado pelo belo do seu falsete e uns tons psicadélicos lá mais para o fim - só assim se evita o marasmo. (6/10)
5) Midnight- Vá lá que no meio de tanta turbulência emocional a banda consegue fazer algo bastante interessante - porventura, a coisa mais hercúlea que lhes oiço desde "Violet Hill". "In the darkness before the dawn/ leave a light, a light on", clama Chris Martin com a voz embebida de um vocoder, qual Bon Iver versão sem cabana e envolto apenas do denso manto nocturno que cobre a Terra. O big bang dá-se com a quebra instrumental em modo electrónico, como que desenhando padrões estroboscópicos no céu nocturno à passagem de uma aurora boreal. O momento verdadeiramente magistral do disco. Pena que seja isolado. (9/10)
6) Another's Arms- Uma espécie de "Princess of China" do disco, mas muito menos apelativo. Talvez porque lhe falta uma Rihanna. E também porque o senhor Martim está demasiado enredado numa teia de auto-comiseração que não lhe permite fazer mais do que temas a pender para o moribundo. Este então é demasiado repetitivo e entediante, tal como "Ink". O pormenor mais interessante é mesmo o canto feminino fantasmagórico e levemente triste que adorna a canção. (6/10)
7) Oceans- Parece ser feito de marés este álbum. De correntes ascendentes e descendentes que ora afastam ora aproximam a banda da rota traçada. Em "Oceans" o barco não anda à deriva. Apesar de navegar num mar de melancolia, conseguem levá-lo a bom porto - é o melhor tema acústico que oiço desde o inicial "Always in My Head". O "divórcio consciencioso" atinge outro patamar: aquele em que percebem que por agora é melhor seguirem caminhos distintos - "you've got to find yourself alone in this world" - apenas para um dia mais tarde se reencontrarem - "meet me in the blue sky/ meet me again/ in the rain". Até porque pode haver todo um oceano a separá-los, mas a magia estará sempre lá. (8/10)
8) A Sky Full of Stars- Poderei analisá-lo de dois prismas. Isoladamente, funciona muito bem. É o "Fix You", "Viva la Vida" e "Paradise" desta era, um grandioso momento pop, vibrante e eufórico a que dificilmente se conseguirá virar a cara sem esboçar, pelo menos, um pequeno sorriso. Já inserido no todo, é uma desgraça, o embuste óbvio de um disco tão sereno e choramingas. É verdade que o torna menos coerente, mas ao mesmo tempo salva-o da monotonia, devolve-lhe a cor às feições e destaca-se como o tema mais apelativo e memorável do alinhamento. (8/10)
9) O- Os Coldplay reservam sempre belíssimos desfechos para os seus álbuns e este não é excepção: poderia passar pelo prelúdio de "Paradise" versão stripped down, tingido com um piano emotivo e o falsete delicado do vocalista. Das marés passamos para os bandos de pássaros, utilizados como metáfora descritiva das sazonalidades e variações do amor. A canção não termina sem uma nova investida gregoriana do "força filho". Que ela esteja convosco. (8/10)
Como vem sendo hábito na carreira dos Coldplay, este novo álbum é bastante diferente dos seus trabalhos anteriores. Para este Ghost Stories, o grupo britânico enveredou por um tratamento mais acústico das canções em detrimento da opulência e megalomania que vinha a caracterizar as suas criações passadas. As canções respiram melhor e estão mais despidas, simples e concisas. Mas falta-lhes a emotividade de outrora, aquela pungência que ora nos deixa em êxtase ora à beira das lágrimas. Está bem que é um disco marcado pelo divórcio do vocalista, mas fica a sensação que Chris Martin e companhia poderiam ter canalizado essa situação para criar um corpo de trabalho muito mais interessante, aguerrido e cativante. Poderiam ter feito de Ghost Stories o que Adele fez com 21.
Mas não. O disco nunca chega a ser doloroso. Não fere, rasga e queima. Arrasta-se pelos vales da monotonia e simplesmente conforma-se com a sua condição. Talvez a culpa seja do divórcio consciencioso. Talvez Chris Martin seja uma alma estranha. Ou talvez hajam histórias que tenham ficado por contar. Poderá isto ser uma pálida versão dos Coldplay ou a única versão possível tendo em conta as circunstâncias. Apenas sei que não é digno daquela que é considerada a maior banda do mundo. Por agora chega - enquanto ninguém usurpa o trono - mas no futuro será preciso mais do que isto.
Classificação: 7,4/10
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