Triangles are my favorite shape


Não é que eu seja dado a contas e figuras geométricas - sou mais pelas palavras - mas esta foi a desculpa que encontrei para falar um pouco dos Alt-J. Não é que não tenha nada de mais urgente para discorrer - aliás, precisaria de um clone para dar vazão a tudo o que tenho em mente - mas por vezes também gosto de me debruçar sobre este tipo de posts mais... libertos/inusitados, assim digamos, que nascem de intensos e genuínos apelos do coração.

Decidi falar deles basicamente por 3 motivos. Vamos por ordem. O primeiro vem no seguimento dos Glass Animals, os Magníficos Materiais Desconhecidos que publiquei na semana passada, e que tanto me trouxeram à memória a dita banda do triângulo. O segundo tem origem no comunicado revelado há dias atrás pelo próprio grupo, em que anunciam o seu regresso aos discos já em Setembro próximo. O terceiro é puramente afectivo e prende-se com as memórias que ultimamente têm invadido a minha cabeça, relativas ao concerto que deram no Alive do ano passado - it's all coming back to me now. Poderia ainda referir um outro: o facto de serem tão importantes para mim e de só ter falado deles 3 vezes no blog, nunca mais de 10 linhas. Pois parece que já quebrei o recorde, mas ainda pouco ou nada fiz por honrar o propósito do post. Seja agora:

Tra, la, la



Ora bem, não sei precisar ao certo o dia em que os Alt-J entraram na minha vida. Sei que foi tarde, relativamente ao que se espera de alguém como eu, um rapaz que está sempre atento às tendências e aos nomes emergentes do panorama musical. Talvez a primeira vez que ouvi falar deles foi por ocasião da sua célebre vitória do Mercury Prize 2012 já em finais desse ano. Pelo menos é essa a ideia que tenho, já que não me recordo de ter esbarrado com eles antes em página alguma da Blitz. Soube da notícia mas nada fiz para conhecê-los ou perceber o porquê do hype, pois parti do pressuposto que, se tinha permanecido tanto tempo na ignorância quanto à sua existência, seria capaz também de continuar a viver imune ao seu encanto. Bem, convém esclarecer que nesta altura eu ainda tinha uma visão limitada daquilo que considerava ser "música". Não. Não era o meu faro de hipster - nunca tive jeito nem paciência para esses rótulos -  era só uma grande estupidez e ignorância musical da minha parte, mesmo.

Em Dezembro de 2012 tudo mudou a partir do momento em que acidentalmente sintonizei a Vodafone Fm e começei a conhecer grande parte da cultura musical que desprezava - o maravilhoso mundo indie. Foi então aí que os Alt-J surgiram na minha vida em todo o seu esplendor. Lembro-me como se fosse ontem. Era a aterradora "Fitzpleasure" que saía pelas colunas, a provocar-me nada menos do que uma valente epifania. Foi graças a ela que memorizei o posto emissor da Vodafone Fm, onde ainda hoje continua a ter lugar cativo nas minhas preferências hertzianas. E foi também por culpa dela que decidi fazer, pouco tempo depois, o que há meses me escapava: dar ouvidos a An Awesome Wave

Three points where two lines meet



Foi já no início de 2013, que o escutei de uma ponta à outra. Uma vez. E outra. E ainda mais outra. Ouvi-o até que as suas 14 canções se entranharam na pele que há em mim (oi Márcia), embrenhado na sua magia e também acometido por alguns remorsos, por querer recuperar o tempo perdido. E claro, por achar que aquilo era um dos melhores discos que já me tinham passado pelos ouvidos. É difícil sintetizá-lo numa única palavra ou género musical, pois rejeita rótulos: da pop alternativa, folk, rock críptico, hip hop, trip hop à electrónica, tudo é filtrado por aquela banda para dar origem a uma mescla tão esquizóide quanto apelativa. Literalmente, uma espantosa onda sonora.

Depois veio o concerto do Alive em Julho de 2013. Talvez o melhor concerto a que já assisti na vida. Um sonho dentro do próprio sonho - o som fazia tremer a terra e as paredes da tenda Heineken, a rebentar pelas costuras, mas a transbordar de magia com a atmosfera que ali se vivia. Os corpos dançavam ao sabor das melodias hipnóticas, demasiado embrenhados num transe profundo que não dava azo a inibições ou arrependimentos. As vozes clamavam com fervor aqueles cânticos que encerram em si mantras e prosas antigas de civilizações perdidas - ehhh ou talvez não - que nos fazem sentir membros honorários de uma qualquer sociedade secreta. Foi lindo lindo lindo. 

E agora esta semana surgem novidades acerca do seu novo álbum - This Is All Yours - já sem Gwil Sainsbury (4º a contar da esquerda na imagem) a bordo, mas com todo um culto em seu redor e, acredito também, com um enorme peso aos ombros, ou não se tratasse isto do "difícil 2º álbum" - a prova de fogo que tanto pode "beatificar" ou destruir carreiras. Desta vez até marco com antecedência no calendário: 22 de Setembro, lá estarei eu - num Spotify ou numa Fnac perto de mim - para assistir ao próximo passo da evolução da agora autêntica banda do triângulo. 

Do not spray into eyes, I have sprayed you into my eyes



E tal como no início o apelo do coração me disse que teria que fazer este post, sinto e sei agora com a mesma força e convicção que isto assinala o regresso do 'A Hundred Million Suns'. Bem-vindo de volta.

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