The Voice Portugal- Final: Top 4

Quatro meses intensos de programa conduziram-nos ontem à noite a uma gala memorável que culminou com a vitória do Rui Drumond, seguido de muito perto pelo Luís Sequeira e com o Alexandre Casimiro e Nuno Ribeiro bastante atrás. É então altura de percorrermos os metros finais que nos separam da linha da meta e da inevitável despedida:

A noite começou com uma bonita homenagem aos mentores, com cada pupilo a cantar um tema do seu "mestre". Foi uma abertura completamente nostálgica pois, quatro meses antes, também o programa de estreia começou com os próprios mentores a interpretar estes mesmos temas - são estes pequenos pormenores que fazem a diferença no The Voice.

É tempo para os quatro finalistas darem início às verdadeiras prestações da noite. O Luís foi o primeiro a esgrimir argumentos no palco de todas as decisões com um inesperado "Stairway to Heaven", canção que - perdoem-me a ignorância - acho que nunca tinha ouvido, mas gostei bastante de a conhecer na sua voz. Não poderia pedir melhor estreia, aliás. Ele não se limita a cantar, dá autênticos concertos. Seguem-se Rui Drumond e Anselmo em palco para interpretarem uma canção deste último e devo dizer que não só gostei como ainda fiquei impressionado com a prestação do senhor Anselmo. Por alguma razão tem o sucesso que tem, certo? A eles sucede o petiz do concurso, Nuno Ribeiro, para uma prestação muito frouxa de "Stay with Me" - ó rapaz, não podes cantar Sam Smith se tens dificuldade em chegar aos agudos. A intenção foi boa, mas a concretização deixou muito a desejar.



Seguimos para o carismático dueto entre Alexandre Casimiro e o seu irreverente mentor que interpretaram o mítico tema de Roberto Carlos, recuperado por ocasião da aventura a solo do Reininho há uns anos atrás. Tivemos direito a uma interpretação exímia e um belo twist da voz de "Dunas", já da parte do Alexandre conhecemos-lhe a voz num registo mais grave, muito de crooner e pouco de rocker. De seguida temos um Rui Drumond a lutar pelo título com "When a Man Loves a Woman", um tema que finalmente lhe faz justiça, ainda que se tenha resguardado mais do que seria desejável e tenha descaracterizado a canção nos segundos finais. Foi bom, mas poderia ter sido mais intenso. É a vez do Nuno Ribeiro e Mickael unirem forças na balada estandarte do Carreira do meio e gostei de ver... que o Nuno dá 10-0 ao mentor em termos vocais. O Alexandre regressa ao palco para apresentar uma ousada versão do "Pastor" dos Madredeus, novamente num registo mais grave, operático e até algo Fantasma da Ópera. Um momento de grande dramatismo e competência vocal.



Eis que tem lugar o grande momento da noite, talvez mesmo do programa inteiro: a belíssima desconstrução de "Rosa Sangue" na voz do Luís e da Marisa, um raro momento de sensibilidade e cumplicidade entre mentor e candidato que revelou ao país a química que estes dois há muito diziam ter. Desde o modo como as palavras foram manuseadas, o sentimento com que as interpretaram, à luz que brotava dos olhos da Marisa... foi lindo, lindo, lindo. Mágico, mesmo. Se dúvidas houvessem quanto ao porquê deste rapaz merecer ganhar o programa, aposto que aqui caíram todas por terra.


É então altura dos três finalistas darem início à ronda final de actuações, recuperando as canções mais marcantes ao longo do seu percurso no The Voice: estupidez, digo eu, já que só tinham 7 escolhas possíveis. O Rui trouxe o pesadelo de peluche que é "Wrecking Ball", que interpretou na sua Prova Cega, e claro, não foi tão memorável como da primeira vez. Merecíamos outra coisa mais decente para a despedida. O Alexandre escolheu muito bem a canção com que incendiou a arena das Batalhas - "Sex on Fire" - mas já pouco ou nada havia a fazer para evitar o 3º lugar. Ao menos despediu-se em grande. O pano desceu com o grande Luís a voltar ao lugar onde já foi feliz, "Where the Streets Have No Name", com o código postal da fase dos Tira-Teimas. "It's all I can do", cantava ele  - e mais nem se podia pedir-lhe. Obrigado por tudo, rapaz.


A justiça nestes formatos é uma coisa muito relativa. O que é justo para uns, dificilmente o será para outros. Pessoalmente estou contente com a vitória do Rui: foi apenas o reconhecimento de um talento há muito revelado mas tardiamente reconhecido. Mas que o Luís fez mais por merecê-lo ao longo do programa, fez sem dúvida. É de salientar que foi por uma ínfima percentagem (42% contra 40%), tal como já o havia sido na edição inaugural, mas não se pode nem deve retirar o mérito desta conquista ao Rui - foi o carinho do povo a falar mais alto. Quanto ao Luís, não serão precisos 11 anos para lhe ser reconhecido o que quer que seja - será grande em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo.


Reservo um parágrafo para fazer um balanço deste programa. Numa palavra apenas: memorável. A forma como foi produzido e editado, como melhorou estupidamente da edição inaugural para esta, como reuniu o leque de mentores mais carismático de sempre da televisão portuguesa - a Marisa é uma paixão para a vida, o Reininho uma valente personagem mirabolante com as virtudes e defeitos que lhe são inerentes, e o Anselmo e Mickael uma boa surpresa, mais pela personalidade cativante do que pelas lições musicais - e, claro, pelo fabuloso ror de vozes que concentrou nas suas fileiras, de uma qualidade impressionante jamais vista num programa do género, ainda que depois as tenha descartado impiedosamente a uma velocidade vertiginosa. Não há espaço para ressentimentos, importa sim agradecer a todos os concorrentes que contribuíram para que o The Voice atingisse este nível de excelência - sem eles isto não tinha tido metade do impacto que teve. Obrigado a todos!

Com o final do The Voice fecha-se também um ciclo para mim. Foram 5 anos a acompanhar apaixonadamente aqui no blog todos os talent shows portugueses, uns de melhor memória que outros, num caminho evolutivo e muito gratificante em que sinto que já nada mais poderei alcançar. O The Voice foi o pináculo dessa maravilhosa jornada que me proporcionou conquistas de que muito me orgulho, desde comentários de tirar o fôlego, passando pelas partilhas dos posts e o aumento drástico das visualizações do blog, ao feedback que tive da parte de alguns concorrentes - acreditem que não há melhor reconhecimento para um blogger do que saber que as nossas palavras ressoam na mente de quem nos lê. Nunca quis agradar a quem quer que fosse, queria apenas ser fiel a mim mesmo ao falar de algo que mexe tanto comigo. Não se tornou um fardo continuar a fazê-lo, mas sinto que é altura de experimentar outros registos mais ambiciosos e menos acomodativos que me permitam continuar a crescer pessoal e profissionalmente. Tal não significa que estes programas tenham deixado de ter lugar no blog, apenas que dificilmente se repetirá o formato em que habitaram até hoje. Precisava de ser tão sincero convosco quanto fui comigo mesmo, por isso espero que compreendam e que não deixem de me visitar. Muito obrigado por tudo, vemo-nos por aí :)

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