NOS Alive'14: Crónica do dia 12 de Julho
Regressado de mais uma edição do Alive e ainda sem ter pousado os pés no chão, estou pronto para partilhar com vocês tudo aquilo que vivi no última dia do evento. Sigam-me à medida que vou filtrando as memórias recentes de uma jornada incrível:
18h25- Hora de chegado ao recinto, muito depois do que prevíamos inicialmente (a mochila que nunca mais fica pronta, os transportes que se atrasam, os controlos de segurança, blah blah blah). Chegámos - a propósito, convém dizer que comigo vinha uma amiga de longa data que é sempre a companhia perfeita para qualquer ocasião - e damos logo de caras com os portugueses You Can't Win, Charlie Brown a meio do seu concerto no Palco NOS a actuar para uma plateia muito reduzida. Não planeava assistir ao espectáculo, mas estavam ali tão pertinho e a sair-se tão bem que resolvemos ficar. Além do mais, ia lá eu virar costas ao Noiserv! Só apanhámos as últimas três músicas, duas delas os singles do último Diffraction/Refraction e um cover não sei bem de quem mas que soou tremendamente bem. Do que vi gostei muito - só ali me apercebi do quanto me fazem lembrar Animal Collective - e agora fiquei com vontade de conhecê-los mais a fundo.
18h50- Perante a ausência da multidão, somos fustigados por uma valente tempestade de poeira que nos conduz ao Palco Clubbing - recinto onde não tinha entrado o ano passado - e que em 2014 foi alvo de uma bonita remodelação. A minha estreia fez-se ao som dos Drenge, dupla britânica de grunge/punk altamanente barulhenta mas daquelas que faz barulho do bom. Confesso que só descobri quem tinha à minha frente passados uns 10 minutos - ia jurar que eram os Caelum's Edge- e depois de o saber, fiquei na mesma, pois nem sequer sabia da sua existência. Não fosse pela chuva de pó que descia do céu e a vontade de explorar a tenda Heineken, até tinhamos ficado por lá. Das 3/4 canções que ouvi guardo a energia imensa que brotava daqueles amplificadores, o mosh algo discreto e uma tentativa de crowdsurfing algo falhada lá nas fileiras da frente. Haja alegria.
19h10- O instinto explorador levou-nos ao palco Heineken, que tão boas memórias me traz, de modo a ouvirmos um pouco de Cass McCombs, cantautor folk/rock norte-americano. Pena é que esse pouco nunca tenha chegado a ser o bastante para nos fazer ficar até ao fim. Talvez fosse demasiado monótono e soturno para mim. A avaliar pelo público, na sua maioria sentado, não era o único a sentir-me assim. Foi então a oportunidade ideal para irmos até à zona dos banquinhos de modo a sacar do farnel e ingerir umas quantas calorias, urgentemente precisas, pois dali até à meia-noite seria sempre a abrir.
20h00- Altura para o primeiro grande concerto do dia, da responsabilidade de SOHN - finalmente alguém que conheço relativamente bem - no palco Clubbing, músico britânico sediado em Viena e mago promissor da electrónica que deu um concerto, no mínimo, impecável. Surgiu - literalmente - vestido de preto da cabeça aos pés, envergando uma espécie de burka (?) que mais parecia indicada para um passeio de camelos em pleno deserto. Bizarrices do figurino à parte, importa deixar bem assente a competência do espectáculo, inteiramente assente nas canções de Tremors, o álbum de estreia, que ora oscila entre uma electrónica robusta, ora entre uma soul digital da laia de James Blake. Pessoalmente gosto mais quando ele se espraia nos terrenos da electrónica, mas as canções mais minimalistas também foram notáveis, isto porque permitiram que a sua voz - e que voz! - fosse libertada por aí além.
O público recebeu-o de forma mais ou menos entusiasta e o senhor Christopher, que sentado junto ao seu keyboard e dançando conforme podia, ia respondendo com uns singelos "obrigado". "Tempest", "Bloodflows", "Artifice" e "Lessons" (céus, aquela tensão faíscante de sintetizadores deixa-me louco) proporcionaram os momentos mais sumarentos, mas eu queria mesmo mesmo ouvir "The Wheel", sabiamente deixada para o último instante, e da qual só ouvi os primeiros acordes, pois faltavam escassos minutos para os Bastille. E lá fui eu, andando apressadamente e olhando para trás, ainda desolado por deixar aquela cascata de coros alados entregues à poeira do vento.
20h45- A tristeza rapidamente se transformou em euforia, ou não estivesse eu prestes a ver os Bastille, esses malandros que tantas vezes me assomam à memória com as suas canções pop/synthpop apetecíveis de teor épico. A multidão não era assim tanta quanto julgava e, como tal, ainda arranjámos um lugar decente - pensava eu - com boa visibilidade para o palco e respectivos ecrãs. Honrando a pontualidade britânica, a banda surgiu à hora marcada, atirando-se logo a "Bad Blood", canção que dá título ao bem-sucedido e cativante álbum de estreia. Para grande surpresa minha, o público reagiu de forma muito soporífera, demonstrando não conhecer a canção que deu vida ao projecto de Dan Smith - que do alto da sua coolness envergava um casaco com um lobinho nas costas e por dentro uma t-shirt alusiva ao Jurassic Park. Julgo mesmo que, em meu redor, era o único a vibrar com o tema.
Felizmente que dali em diante o público animou com a chegada de "Weight of Living, Pt. II" (recebida com entusiasmo creio que pela sua inclusão num jogo de PES, Fifa ou coisa que o valha), "Laura Palmer" (bradar a plenos pulmões "this is your heart, can you feel it?" valeu pela vida) e a bonita "Overjoyed", a receber a melhor prestação vocal de Dan em todo o concerto. Um dos maiores aplausos do lusco-fusco foi arrancado ao som de "No Angels" (eu sabia que não a iam deixar de fora!), a magnífica cover da banda de um dos tema das TLC que só pecou por não ter a fogosa Ella Eyre a acompanhá-los. Logo de seguida presentearam-nos com um inédito - "Blame" - que possivelmente fará parte do futuro 2º álbum: cheirou-me a semi-revolução, com mais guitarras envolvidas do que é costume e com o mesmo teor de obscuridão que já se pressente em alguns dos temas de All This Bad Blood.
O pôr do sol faz-se ao som do muito apropriado "These Streets" na sua apelativa toada de quase reggae e prossegue ao som de "The Silence". É então aí que, mesmo ao nosso lado, tem lugar uma cena lamentável que só por um triz não resultou num episódio de violência colectiva, potenciada, claro, pelo álcool em excesso e por pessoas facilmente irritáveis que acham que um par de socos resolve tudo. Eu e todos à minha volta ficámos boquiabertos. Triste triste triste. O espírito festivo rapidamente voltou com a entoação colectiva da fascinante "Things We Lost in the Fire", cuja animadora recepção levou Dan a soltar um "you're f**king awesome, guys".
Seguiram-se "Laughter Lines", a balada enternecedora "Oblivion" (que será o próximo single), um estupendo "Icarus" que, sinceramente nunca gostei muito em disco mas que ao vivo resultou muito bem, e a tenebrosa "The Draw" que abriu caminho para um encore final que tinha tudo para ser arrasador: "Flaws", com Dan Smith a descer junto ao público, "Of the Night" que foi recebida em clima apoteótico e, por fim, a muito aguardada "Pompeii", que redundou num verdadeiro desastre. E isto porquê? Porque o sistema de som decidiu justamente avariar nessa altura, obrigando o público a entoá-la quase na sua totalidade acapella. Pelo meio tivemos direito ainda a um corajoso topless - filmado nos ecrãs gigantes - de uma espectadora mais expedita, que proporcionou o momento mais orgásmico que deveria ter sido causado pela bela da canção. E assim terminou aquela que foi a estreia em solo português dos Bastille, manchada apenas pelo desaire final. Gostei um nadinha menos do que esperava, em parte pelos referidos factores externos, mas acho que no geral cumpriram muito bem o seu papel.
22h45- Tinha chegado, por fim, o momento pelo qual mais aguardava: Fosther the People. E, caramba, foi tudo aquilo que sonhei e muito muito mais. Desta vez furámos a multidão pela esquerda, rumo ao centro do palco e conseguimos um lugar fantástico com excelente visibilidade. Livre de desacatos? Oh não, nem por sombras. Mesmo ao nosso lado apanhámos um casal britânico já quarentão possivelmente a enfrentar uma crise no casamento que achou que ali seria o lugar ideal para travar uma acesa discussão matrimonial ("give me my money!", dizia ela à beira de um colapso emocional). Trágico-comédia no seu melhor.
Mark Foster, Cubbie Fink, Mark Pontius e mais um punhado de músicos chegaram ao palco uns 10 minutos atrasados, mas depois o que fizeram em cima dele foi completamente incrível. O concerto começou ao som de "Life on the Nickel" - e não estava nada à espera que assim fosse - que por sinal é a canção deles que eu menos aprecio. Bolas, lá se estragou um grandioso início. Mas dali em diante... sweet jesus, foi perfeito, pelo menos da perspectiva de um grande admirador da banda. Eu nem sei bem como relatar isto porque vivi-o da forma mais eufórica e espontânea possível, sem me preocupar com o facto de muitas vezes ter sido o único tontinho aos saltos, com as letras na ponta da língua e munido de coreografias ousadas - e acreditem que para alguém tão tímido como eu, a minha reacção foi completamente corajosa e libertadora.
Depois de um início muito morno, os ânimos aqueceram ao som de "Helena Beat", com o público a deixar-se contagiar com a panóplia de sintetizadores, cânticos a puxar para o psicadélico e o maravilhoso falsete quase demente do senhor Foster. Ainda do álbum de estreia vão buscar "Waste", igualmente bem recebido. O pior é quando apresentam as canções do novo disco - Supermodel - que ninguém, excepto eu, parece estar a par. Como tal, fui dos poucos a receber "Pseudologia Fantastica" em todo o seu esplendor. O exemplo mais gritante terá sido talvez quando se atiraram ao audacioso "A Beginner's Guide to Destroying the Moon", o momento mais grungy do novo álbum, e possivelmente um dos quais com que mais vibrei, dançei e cantei. Sozinho. Mas a noite não estava para inibições e eu nem me preocupei com esse aspecto, só queria era aproveitar ao máximo o momento incrível que estava a viver.
Com "Houdini" a plateia, expectavelmente, vai ao rubro. Esperava eu que fosse um dos melhores momentos do concerto, mas acho que não foi tão bem transposta ao vivo como seria de desejar. Faltou-lhe o ênfase na batida. E acabou de forma demasiada abrupta. No hard feelings, malta. Logo de seguida atiram-se ao irresistível "Best Friend", portentoso hit indie da estação estival que o público - vá lá vá lá - soube acompanhar decentemente. Sem dúvida, um dos melhores momentos do alinhamento. Depois do já referido "Moon", é tempo para dar ouvidos a "Coming of Age", o 1º single de Supermodel, que da minha parte até teve direito a coreografia personalizada. Com "Call It What You Want" voltamos ao excelente primeiro disco e aqui o escriba atira-se a mais uma intensa interpretação. De arrasto vem a gigantesca e tão perfeita para estádios "Are You What You Want to Be?", canção com que deveriam ter começado o concerto - e a provar a minha teoria temos o entusiasmo com que é recebida.
A apresentação do 2º álbum fica concluída com "The Truth", momento messiânico quase a pender para o lamechas que deveria ter sido recebida de isqueiros no ar. Sem tempo a perder, a banda segue para os últimos três temas: um surpreendente "Miss You", que tem direito a dança personalizada do sempre irrequieto Mark Foster e que deixa o público em êxtase com a descarga de sintetizadores cardíacos. Sem aviso surge "Pumped Up Kicks", que não funcionou tão bem como o suposto porque lhe faltou aquele efeito laid-back/psicadélico na voz do Foster-mor. Teria dado um final pouco digno, não tivessem eles reservado um antémico "Don't Stop (Color on the Walls)" para o derradeiro instante, que para ser perfeito só precisava de uma chuva de papelinhos a cair-nos em cima.
Fim do concerto com o público em total apoteose perante um Mark Foster embevecido que nos olha com sorriso de orelha-a-orelha, solta um "thank you so much, Portugal" e ainda tem tempo para registar o momento em fotografia, para mais tarde recordar. A minha cara é o espelho da sua e sinto-me verdadeiramente grato e capaz de soltar lágrimas de felicidade por ter assistido àquela que foi a sua estreia em palcos portugueses - suado, podre de cansado mas muito muito feliz. Só tenho pena que em alguns momentos o público não tenha estado à altura da entrega da banda, mas de resto foi perfeito. Uma actuação vencedora vinda de uma banda que, depois disto, certamente conquistou uma nova legião de admiradores portugueses. Avé Foster!
00h30- A esta altura poderia ter dado a noite por terminada que já me dava por muito feliz. Após uma pausa de meia hora para retemperar forças, lá nos sentimos suficientemente fortes para escutar Daughter na tenda Heineken, que tinham a seus pés uma vasta legião de seguidores. Apreciei o concerto na medida do possível, pois estava bastante longe do palco - fora da tenda, mesmo - e não conhecia lá muito bem o reportório da banda. Mas é seguro dizer que das poucas canções que ouvi, gostei imenso delas todas. O entrosamento entre os músicos era excelente, o jogo de luzes também, o som estava perfeito e eles são mesmo muito intensos. Depois disto tenho que os conhecer melhor.
01h20- Movidos por alguma força superior - só pode - lá nos sentimos em condições para escutar Chet Faker, desta feita do início ao fim, que atraía uma considerável multidão até ao palco Heineken. Nem sabia muito bem o que esperar do músico australiano, pois dele só conhecia "No Diggity" e "Talk Is Cheap", nenhuma delas suficientemente forte para me fazer gostar dele. Felizmente que vê-lo ao vivo fez-me mudar de opinião a seu respeito: teve um início fortíssimo nas três primeiras canções, numa toada electrónica abrasiva, e depois de certa forma perdeu o ritmo, optando por canções mais despidas, algo monótonas e de pendor soul. Raramente conseguiu voltar à mestria dos primeiros minutos, mas é seguro dizer que também raramente me deu razões para ir embora. A plateia, essa, parecia bradar de excitação a cada novo tema e com as intervenções do cantor, sempre muito comunicativo. Saí de lá muito bem impressionado e com a certeza que hei-de deitar a mão a Built on Glass.
02h50- Jamais pensaria aguentar tanto, mas contra todas as expectativas, demos por nós a assistir ao último concerto da noite, da autoria de Nicolas Jaar, suposto prodígio da música electrónica contemporânea. Decidi ficar por dois motivos: em parte porque não é todos os dias que acontece o Alive e qualquer concerto é sempre uma dádiva, e depois porque tinha bastante curiosidade em perceber o fenómeno em redor deste rapaz. Aquilo foi assim uma experiência um bocado surreal, talvez o mais próximo que estive e estarei alguma vez de uma rave. Tinha ideia que era mais próximo de ambientes dubstep do género de James Blake e afinal puxa mais para o lado das batidas compactas e repetitivas. De qualquer forma há que salientar que a sua música está longe de ser desprovida de sensibilidade, porque na verdade conserva alguma elegância, mas esperava uma coisa mais... substancial. Pelo menos dancei despreocupadamente e sempre me livrei das dores nas pernas que por esta hora já eram quase insuportáveis. Saímos ainda não tinha terminado o concerto, às 03h30, mas o essencial estava visto. Aquilo já não era lugar para nós.
Hora do balanço final: extremamente positivo, claro está. Sinto que este ano consegui usufruir muito mais daquilo que é o Alive, indo a todos os palcos e assistindo a mais concertos do que no passado. Ainda estou bastante atordoado (nas nuvens, digamos) com tudo aquilo que lá vivi e sinto cada músculo do meu corpo dorido, mas voltava já hoje, amanhã e depois e depois a repetir tudo outra vez. Porque pela música vale tudo, tudinho mesmo. E recebê-la no seu estado mais puro é das melhores experiências que se pode ter neste mundo. E depois, claro, ficam recordações para a vida que o tempo jamais irá apagar. Até que este torpor abandone o meu corpo e alma, acreditem, serei o rapaz mais feliz do mundo. E darei tudo para voltá-lo a sentir outra vez - até 2015, Alive.
Obrigado à Sara pela companhia e pelas bonitas fotos, da sua autoria, que aqui coloco.
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O público recebeu-o de forma mais ou menos entusiasta e o senhor Christopher, que sentado junto ao seu keyboard e dançando conforme podia, ia respondendo com uns singelos "obrigado". "Tempest", "Bloodflows", "Artifice" e "Lessons" (céus, aquela tensão faíscante de sintetizadores deixa-me louco) proporcionaram os momentos mais sumarentos, mas eu queria mesmo mesmo ouvir "The Wheel", sabiamente deixada para o último instante, e da qual só ouvi os primeiros acordes, pois faltavam escassos minutos para os Bastille. E lá fui eu, andando apressadamente e olhando para trás, ainda desolado por deixar aquela cascata de coros alados entregues à poeira do vento.
20h45- A tristeza rapidamente se transformou em euforia, ou não estivesse eu prestes a ver os Bastille, esses malandros que tantas vezes me assomam à memória com as suas canções pop/synthpop apetecíveis de teor épico. A multidão não era assim tanta quanto julgava e, como tal, ainda arranjámos um lugar decente - pensava eu - com boa visibilidade para o palco e respectivos ecrãs. Honrando a pontualidade britânica, a banda surgiu à hora marcada, atirando-se logo a "Bad Blood", canção que dá título ao bem-sucedido e cativante álbum de estreia. Para grande surpresa minha, o público reagiu de forma muito soporífera, demonstrando não conhecer a canção que deu vida ao projecto de Dan Smith - que do alto da sua coolness envergava um casaco com um lobinho nas costas e por dentro uma t-shirt alusiva ao Jurassic Park. Julgo mesmo que, em meu redor, era o único a vibrar com o tema.
Felizmente que dali em diante o público animou com a chegada de "Weight of Living, Pt. II" (recebida com entusiasmo creio que pela sua inclusão num jogo de PES, Fifa ou coisa que o valha), "Laura Palmer" (bradar a plenos pulmões "this is your heart, can you feel it?" valeu pela vida) e a bonita "Overjoyed", a receber a melhor prestação vocal de Dan em todo o concerto. Um dos maiores aplausos do lusco-fusco foi arrancado ao som de "No Angels" (eu sabia que não a iam deixar de fora!), a magnífica cover da banda de um dos tema das TLC que só pecou por não ter a fogosa Ella Eyre a acompanhá-los. Logo de seguida presentearam-nos com um inédito - "Blame" - que possivelmente fará parte do futuro 2º álbum: cheirou-me a semi-revolução, com mais guitarras envolvidas do que é costume e com o mesmo teor de obscuridão que já se pressente em alguns dos temas de All This Bad Blood.
O pôr do sol faz-se ao som do muito apropriado "These Streets" na sua apelativa toada de quase reggae e prossegue ao som de "The Silence". É então aí que, mesmo ao nosso lado, tem lugar uma cena lamentável que só por um triz não resultou num episódio de violência colectiva, potenciada, claro, pelo álcool em excesso e por pessoas facilmente irritáveis que acham que um par de socos resolve tudo. Eu e todos à minha volta ficámos boquiabertos. Triste triste triste. O espírito festivo rapidamente voltou com a entoação colectiva da fascinante "Things We Lost in the Fire", cuja animadora recepção levou Dan a soltar um "you're f**king awesome, guys".
Seguiram-se "Laughter Lines", a balada enternecedora "Oblivion" (que será o próximo single), um estupendo "Icarus" que, sinceramente nunca gostei muito em disco mas que ao vivo resultou muito bem, e a tenebrosa "The Draw" que abriu caminho para um encore final que tinha tudo para ser arrasador: "Flaws", com Dan Smith a descer junto ao público, "Of the Night" que foi recebida em clima apoteótico e, por fim, a muito aguardada "Pompeii", que redundou num verdadeiro desastre. E isto porquê? Porque o sistema de som decidiu justamente avariar nessa altura, obrigando o público a entoá-la quase na sua totalidade acapella. Pelo meio tivemos direito ainda a um corajoso topless - filmado nos ecrãs gigantes - de uma espectadora mais expedita, que proporcionou o momento mais orgásmico que deveria ter sido causado pela bela da canção. E assim terminou aquela que foi a estreia em solo português dos Bastille, manchada apenas pelo desaire final. Gostei um nadinha menos do que esperava, em parte pelos referidos factores externos, mas acho que no geral cumpriram muito bem o seu papel.
22h45- Tinha chegado, por fim, o momento pelo qual mais aguardava: Fosther the People. E, caramba, foi tudo aquilo que sonhei e muito muito mais. Desta vez furámos a multidão pela esquerda, rumo ao centro do palco e conseguimos um lugar fantástico com excelente visibilidade. Livre de desacatos? Oh não, nem por sombras. Mesmo ao nosso lado apanhámos um casal britânico já quarentão possivelmente a enfrentar uma crise no casamento que achou que ali seria o lugar ideal para travar uma acesa discussão matrimonial ("give me my money!", dizia ela à beira de um colapso emocional). Trágico-comédia no seu melhor.
Mark Foster, Cubbie Fink, Mark Pontius e mais um punhado de músicos chegaram ao palco uns 10 minutos atrasados, mas depois o que fizeram em cima dele foi completamente incrível. O concerto começou ao som de "Life on the Nickel" - e não estava nada à espera que assim fosse - que por sinal é a canção deles que eu menos aprecio. Bolas, lá se estragou um grandioso início. Mas dali em diante... sweet jesus, foi perfeito, pelo menos da perspectiva de um grande admirador da banda. Eu nem sei bem como relatar isto porque vivi-o da forma mais eufórica e espontânea possível, sem me preocupar com o facto de muitas vezes ter sido o único tontinho aos saltos, com as letras na ponta da língua e munido de coreografias ousadas - e acreditem que para alguém tão tímido como eu, a minha reacção foi completamente corajosa e libertadora.
Depois de um início muito morno, os ânimos aqueceram ao som de "Helena Beat", com o público a deixar-se contagiar com a panóplia de sintetizadores, cânticos a puxar para o psicadélico e o maravilhoso falsete quase demente do senhor Foster. Ainda do álbum de estreia vão buscar "Waste", igualmente bem recebido. O pior é quando apresentam as canções do novo disco - Supermodel - que ninguém, excepto eu, parece estar a par. Como tal, fui dos poucos a receber "Pseudologia Fantastica" em todo o seu esplendor. O exemplo mais gritante terá sido talvez quando se atiraram ao audacioso "A Beginner's Guide to Destroying the Moon", o momento mais grungy do novo álbum, e possivelmente um dos quais com que mais vibrei, dançei e cantei. Sozinho. Mas a noite não estava para inibições e eu nem me preocupei com esse aspecto, só queria era aproveitar ao máximo o momento incrível que estava a viver.
Com "Houdini" a plateia, expectavelmente, vai ao rubro. Esperava eu que fosse um dos melhores momentos do concerto, mas acho que não foi tão bem transposta ao vivo como seria de desejar. Faltou-lhe o ênfase na batida. E acabou de forma demasiada abrupta. No hard feelings, malta. Logo de seguida atiram-se ao irresistível "Best Friend", portentoso hit indie da estação estival que o público - vá lá vá lá - soube acompanhar decentemente. Sem dúvida, um dos melhores momentos do alinhamento. Depois do já referido "Moon", é tempo para dar ouvidos a "Coming of Age", o 1º single de Supermodel, que da minha parte até teve direito a coreografia personalizada. Com "Call It What You Want" voltamos ao excelente primeiro disco e aqui o escriba atira-se a mais uma intensa interpretação. De arrasto vem a gigantesca e tão perfeita para estádios "Are You What You Want to Be?", canção com que deveriam ter começado o concerto - e a provar a minha teoria temos o entusiasmo com que é recebida.
A apresentação do 2º álbum fica concluída com "The Truth", momento messiânico quase a pender para o lamechas que deveria ter sido recebida de isqueiros no ar. Sem tempo a perder, a banda segue para os últimos três temas: um surpreendente "Miss You", que tem direito a dança personalizada do sempre irrequieto Mark Foster e que deixa o público em êxtase com a descarga de sintetizadores cardíacos. Sem aviso surge "Pumped Up Kicks", que não funcionou tão bem como o suposto porque lhe faltou aquele efeito laid-back/psicadélico na voz do Foster-mor. Teria dado um final pouco digno, não tivessem eles reservado um antémico "Don't Stop (Color on the Walls)" para o derradeiro instante, que para ser perfeito só precisava de uma chuva de papelinhos a cair-nos em cima.
Fim do concerto com o público em total apoteose perante um Mark Foster embevecido que nos olha com sorriso de orelha-a-orelha, solta um "thank you so much, Portugal" e ainda tem tempo para registar o momento em fotografia, para mais tarde recordar. A minha cara é o espelho da sua e sinto-me verdadeiramente grato e capaz de soltar lágrimas de felicidade por ter assistido àquela que foi a sua estreia em palcos portugueses - suado, podre de cansado mas muito muito feliz. Só tenho pena que em alguns momentos o público não tenha estado à altura da entrega da banda, mas de resto foi perfeito. Uma actuação vencedora vinda de uma banda que, depois disto, certamente conquistou uma nova legião de admiradores portugueses. Avé Foster!
00h30- A esta altura poderia ter dado a noite por terminada que já me dava por muito feliz. Após uma pausa de meia hora para retemperar forças, lá nos sentimos suficientemente fortes para escutar Daughter na tenda Heineken, que tinham a seus pés uma vasta legião de seguidores. Apreciei o concerto na medida do possível, pois estava bastante longe do palco - fora da tenda, mesmo - e não conhecia lá muito bem o reportório da banda. Mas é seguro dizer que das poucas canções que ouvi, gostei imenso delas todas. O entrosamento entre os músicos era excelente, o jogo de luzes também, o som estava perfeito e eles são mesmo muito intensos. Depois disto tenho que os conhecer melhor.
01h20- Movidos por alguma força superior - só pode - lá nos sentimos em condições para escutar Chet Faker, desta feita do início ao fim, que atraía uma considerável multidão até ao palco Heineken. Nem sabia muito bem o que esperar do músico australiano, pois dele só conhecia "No Diggity" e "Talk Is Cheap", nenhuma delas suficientemente forte para me fazer gostar dele. Felizmente que vê-lo ao vivo fez-me mudar de opinião a seu respeito: teve um início fortíssimo nas três primeiras canções, numa toada electrónica abrasiva, e depois de certa forma perdeu o ritmo, optando por canções mais despidas, algo monótonas e de pendor soul. Raramente conseguiu voltar à mestria dos primeiros minutos, mas é seguro dizer que também raramente me deu razões para ir embora. A plateia, essa, parecia bradar de excitação a cada novo tema e com as intervenções do cantor, sempre muito comunicativo. Saí de lá muito bem impressionado e com a certeza que hei-de deitar a mão a Built on Glass.
02h50- Jamais pensaria aguentar tanto, mas contra todas as expectativas, demos por nós a assistir ao último concerto da noite, da autoria de Nicolas Jaar, suposto prodígio da música electrónica contemporânea. Decidi ficar por dois motivos: em parte porque não é todos os dias que acontece o Alive e qualquer concerto é sempre uma dádiva, e depois porque tinha bastante curiosidade em perceber o fenómeno em redor deste rapaz. Aquilo foi assim uma experiência um bocado surreal, talvez o mais próximo que estive e estarei alguma vez de uma rave. Tinha ideia que era mais próximo de ambientes dubstep do género de James Blake e afinal puxa mais para o lado das batidas compactas e repetitivas. De qualquer forma há que salientar que a sua música está longe de ser desprovida de sensibilidade, porque na verdade conserva alguma elegância, mas esperava uma coisa mais... substancial. Pelo menos dancei despreocupadamente e sempre me livrei das dores nas pernas que por esta hora já eram quase insuportáveis. Saímos ainda não tinha terminado o concerto, às 03h30, mas o essencial estava visto. Aquilo já não era lugar para nós.
Hora do balanço final: extremamente positivo, claro está. Sinto que este ano consegui usufruir muito mais daquilo que é o Alive, indo a todos os palcos e assistindo a mais concertos do que no passado. Ainda estou bastante atordoado (nas nuvens, digamos) com tudo aquilo que lá vivi e sinto cada músculo do meu corpo dorido, mas voltava já hoje, amanhã e depois e depois a repetir tudo outra vez. Porque pela música vale tudo, tudinho mesmo. E recebê-la no seu estado mais puro é das melhores experiências que se pode ter neste mundo. E depois, claro, ficam recordações para a vida que o tempo jamais irá apagar. Até que este torpor abandone o meu corpo e alma, acreditem, serei o rapaz mais feliz do mundo. E darei tudo para voltá-lo a sentir outra vez - até 2015, Alive.
Obrigado à Sara pela companhia e pelas bonitas fotos, da sua autoria, que aqui coloco.
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Lool aquilo no final já não era para nós ahah.
ResponderEliminarSim deu para ver muito mais concertos que o ano passado, mas gostei de ambos.
E foi assim o Nos alive 2014 ;) Para o ano há mais!
Boa Noite. Gosto bastante de ler no blog as apreciações sobre o the Voice Portugal. Estou a aguardar com curiosidade as relativas a gala de ontem :-)
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