With Love, J.Lo: História de um Ícone Improvável- Parte I


Nascida há quase 45 anos atrás no seio de uma família humilde de ascendência porto-riquenha, nos arredores do bairro nova-iorquino The Bronx, Jennifer Lopez foi desde muito cedo encorajada pelos pais a desenvolver as suas aptidões de canto e dança de forma a manter-se longe de sarilhos, um destino comum a tantos miúdos moradores naquele bairro problemático. 

Com um percurso académico passado nos bancos de escolas católicas e marcado por uma forte componente atlética, J.Lo viria a fazer a sua primeira audição para um filme no final do ensino secundário, altura em que percebeu que queria ser uma estrela de cinema, ideia a que os seus pais reagiram com um "deves mas é estar louca", levando-a a mudar-se para Manhattan em busca do seu sonho. Durante esse período, Jennifer participou em produções locais da Broadway e num espectáculo que a levou até ao Japão, onde actuava como cantora, dançarina e coreógrafa.

Com a chegada da década de 90, as ambições e as oportunidades cresceram: foi dançarina suporte dos New Kids on the Block, ganhou um papel de destaque como bailarina na popular série In Living Color e ainda fez parte da equipa de dançarinos de Janet Jackson, tendo saído quando decidiu enveredar mais a sério por uma carreira na sétima arte. E assim foi. De 1993 a 1997 participou em cerca de 7 filmes, sendo que apenas viria a conquistar um papel de destaque ao dar vida a Selena (1997) - uma biografia em torno da mítica cantora mexicana que morreu no auge da sua carreira - e que lhe valeu rasgados elogios por parte da crítica.

Foi graças a esse papel que J.Lo se sentiu tentada a enviar uma demo cantada em castelhano à Sony, que a recebeu com entusiasmo e não tardou a propôr-lhe um contrato, sugerindo-lhe que cantasse antes em inglês. Enquanto gravava aquele que seria o seu álbum de estreia não descurou a carreira cinematográfica, tendo surgido na grande tela com mais 4 filmes de considerável sucesso. Por esta altura, J.Lo já se tinha estabelecido enquanto actriz e por isso foram muitos aqueles que olharam para esta aventura musical com desdém, um capricho que poderia mesmo destruir tudo aquilo que tinha conquistado até então.

Mas tais receios revelaram-se infundados: On the 6, a obra de estreia, era lançado a 1 de Junho de 1999 perante a aclamação/admiração da crítica e resultados surpreendentes nas tabelas (3 milhões vendidos apenas nos EUA e cerca de 8 milhões a nível global), conseguidos graças ao apelo de singles como "If You Had My Love", "Waiting for Tonight" e "Let's Get Loud". O salto do cinema para o campeonato pop foi extremamente bem-sucedido: estava colocado o primeiro tijolo que haveria de alicercar o "império J.Lo".

As canções

"If You Had My Love", On the 6 (1999)

All eyes on J.Lo no vídeo que assinala o arranque da sua carreira musical aos 29 anos de idade - um objecto visual deveras voyeurista que parecia antever o fenómeno do Big Brother e o boom dessa coisa prodigiosa ainda em expansão que era a world wide web. Talvez por ser o primeiro, "If You Had My Love" é um dos seus temas de assinatura, mas não um dos mais sumarentos: oiça-se o real desafinanço que por aqui vai... Salva-se a produção ágil meio pop, meio R&B de Rodney Jerkins e o competente dance breakdown, que acaba mesmo por ser o ponto alto do vídeo. O amor, esse, marca o compasso desde o primeiro dia.



"Waiting for Tonight", On the 6 (1999)

A loucura em torno da chegada do novo milénio foi o ponto de partida para o ilustrar o vídeo de "Waiting for Tonight", outro dos seus temas de assinatura, considerado por muitos como o melhor vídeo da sua carreira. É fácil perceber o porquê: as sequências de dança em plena savana rodeada de lasers, as cenas em que surge coberta de cristais colados ao corpo, ou aquele momento em que emana da água qual ninfa aquática apenas para nos banhar em todo o seu esplendor. Pelo meio, um valente hit dance pop em mãos cujo apelo ainda hoje permanece intacto. A afirmação de J.Lo acontecia aqui.



"Love Don't Cost a Thing", J.Lo (2001)

Com mundo a seus pés e à beira da edição do 2º álbum, Jennifer Lopez adoptava o nickname pelo qual viria a ser conhecida doravante, tornava-se num sex symbol de pleno direito e alcançava excelentes resultados comerciais com "Love Don't Cost a Thing", híbrido pop e R&B que versa acerca de um amor materialista e muito pouco sentimental, supostamente inspirado na sua relação com P. Diddy, que terminaria pouco depois do seu lançamento. O vídeo é um marco do início dos anos 00, com J.Lo a desfazer-se dos presentes luxuosos do namorado numa caminhada reflectiva até à praia, que termina quase sem roupa alguma. Nota de destaque para o dance breakdown tão sincronizado e tipicamente 90's.



Discografia

On the 6 (1999)

Quantas estrelas de cinema se podem gabar de terem conseguido passar da tela para o centro da pop culture com relativo sucesso? Na verdade, umas três actrizes, pelo menos. Mas é seguro dizer que nenhuma delas cimentou uma carreira musical tão estrondosa quanto Jennifer Lopez, que à beira do virar do século e contrariando os mais variados prognósticos que condenavam a aventura ao fracasso, assinou uma sólida estreia nos campos de um R&B de forte apelo pop e tempero latino que honrava tanto as suas raízes hispânicas como as do país que a viu nascer. O nome do álbum é uma alusão à linha de metro que utilizava para se deslocar entre Manhattan e o Bronx.
Singles: "If You Had My Love", "No Me Ames", "Waiting for Tonight", "Feelin' So Good" e "Let's Get Loud"

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