REVIEW: Sam Smith- In the Lonely Hour


"My debut album is just a diary from a lonely 21-year-old. That's what it is. It was my way of talking about the only real issue in my life. I don't have that many sad things going on in my life and it was the only thing that was really affecting me last year: I fell in love with someone who didn't love me back, and it made me get into this head space of, 'Will I find love? When will I find love?' This album is my 'f**k off' to everyone and basically say, 'No, I have been in love and, if anything, it was much more painful than your version', because I'm not getting what I want and it's so close. So, it's my way of defining what is love, and how unrequited love is just as painful, just as powerful, as what we call 'normal' love."

Trata-se de Sam Smith em discurso directo, apresentando as motivações que estão por detrás de In the Lonely Hour, a sua obra de estreia. Conhecidas as intenções, vejamos como corre a execução:

1) Money on my Mind- Escolhido como 1º single do disco, talvez por ser o que melhor faz a ponte entre  esta sua estreia a solo e os hits que lhe deram visibilidade - "Latch" e "La La La". É também o único tema que se distancia da temática solitária e desgostosa do álbum, com o cantor a afirmar que nunca foi nem será o dinheiro a movê-lo nesta via artística, mas sim o amor que tem pela música. Não sendo uma grande canção, ressoa na memória pela verdade que os versos transportam, mais do que pela sua estrutura musical algo desmazelada. (7/10)

2) Good Thing- Liricamente e vocalmente é impecável, já em termos de produção é uma autêntica barafunda. Recorre aos interlúdios orquestrais de The 20/20 Experience, segue para o dedilhar sentimental da guitarra acústica bem ao jeito de Ed Sheeran e tenta tornar-se mais expedito no refrão em diante com umas batidas groovy a puxar para a disco que só me trazem à memória um Robin Thicke a achar-se mais cool do que realmente é. Percebo que a intenção era a de dinamizar um álbum repleto de baladas, mas não é este o caminho. Menos seria mais. (6/10)

3) Stay with Me- Não me recordo de ter escutado este ano uma outra canção tão simples e ao mesmo tempo tão infalível e tocante quanto esta: três singelas estrofes a compõem, uma voz de ouro que a canta, suportada apenas por um piano, percussão rudimentar e um bonito coro gospel. Sem dizer muito, acaba por dizer tanto - "não te peço a eternidade, apenas que fiques ao meu lado para que o amanhã não seja tão difícil. Fica comigo, porra", isto numa tradução muito adaptada, claro. Não é amor, não é desespero - é o compasso dos solitários. (8/10)

4) Leave Your Lover- É devastador ouvir a canção e ainda mais ver como tudo ganha vida. Na verdade, não consigo dissociar isto do vídeo que o acompanha - desde a belíssima captação das cenas, ao desfiar da história e dos afectos nela presentes. Depois temos versos como: "You'll never know the endless nights, the rhyming of the rain/ or how it feels to fall behind and watch you call his name" ou "If I can't have you I'll walk this life alone/ spare you the rising storms and let the rivers flow", propícios a uns quantos gulp gulp, que trazem de arrasto uma torrente de lágrimas. Adele chora de orgulho à janela do seu palácio. (9/10)

5) I'm Not the Only One- Versão 2.0 de "Stay with Me", sem tirar nem pôr. Apenas a entoação com que os versos são cantados - também eles acerca de um amor não correspondido - é diferente. De resto temos o mesmo piano, a percussão ligeirinha e um coro gospel que remete a voz para segundo plano e mune-se de palmas. Enquanto "Stay with Me" me traz à memória "Next to Me", este "I'm Not the Only One" recorda-me "Lean on Me" de Bill Withers. Talvez seja por isso que soe tão bem, apesar de ser tão normativa. (8/10)

6) I've Told You Now- Agora aguenta coração, que o drama parece não ter fim - e este que vos escreve começa a ficar ligeiramente aborrecido com tanta devassa emocional. Ao 6º tema o jovem Sam parece reúnir a coragem necessária para revelar à pessoa amada os seus sentimentos, sabendo-se já de antemão a resposta que o espera do outro lado. Nova investida soul eximiamente interpretada, mas, novamente, pouco substancial. (7/10)

7) Like I Can- Um cruzamento entre a soul de Emeli Sandé, a pop FM percussiva dos One Republic e o folk feeling de "Wake Me Up". Misturem-se esses 3 condimentos e chegamos a este "Like I Can", que é nada menos do que uma maneira mais aguerrida e imaginativa de dizer o que "Leave Your Lover" já havia dito. Uma vez mais sinto-me tentado a dar uma menor pontuação, mas a força motriz que é a voz de Sam Smith acaba sempre por salvar o dia. (7/10)

8) Life Support- Começo a nutrir uma certa dose de compaixão pelo rapaz, por constatar o quanto deu de si a uma pessoa que nunca demonstrou sentir o mesmo que ele sentia e os cenários ilusórios que construiu em seu redor, aqui fielmente espelhados neste 8º tema. É desolador ver o ponto a que chegou, daí que não possa ter grande estima pela canção. No fundo acho que me recorda as más opções que tomamos na vida, sendo propícia a trazer à tona esses episódios - não preciso nem quero que uma canção me reavive tudo isso. Depois a estrutura musical também é um pouco bizarra (ou não tivesse dedo do mesmo produtor de "Money on My Mind"). Enfim, uma série de factores infelizes que para aqui vão. (6/10)

9) Not in That Way- A resignação parece chegar, por fim. A sós com o seu desgosto e o gemido lancinante de uma guitarra acústica, Sam Smith sings the broken-hearted blues: "and I hate to say I love you/ when it's so hard for me/ and I hate to say I want you/ when you make it so clear/ you don't want me". Pelo meio parece ganhar consciência da espiral destrutiva em que vivia: "I'm so reliant/ I'm so dependant/ I'm such a fool". Traz-me à memória "I Found a Boy" de Adele. (7/10)

10) Lay Me Down- É seguro dizer que o melhor ficou reservado para o fim. Depois da compreensão, o afastamento e consequente vazio. A vontade de querer sentir tudo outra vez, porque qualquer coisa será melhor do que não sentir nada - é esse desnorte, caos e urgência que aqui estão expressas, esse tal poder que o amor não correspondido consegue emanar e que é tão forte quanto o biunívoco. Diria que preferia a versão acústica, mas esta que aqui se ouve, uma espécie de híbrido entre a mais intimista e a oficial, é simplesmente perfeita. Só por ela, o disco já teria valido a pena. (9/10)

Tenho uns quantos sentimentos antagónicos relativamente a este álbum. Primeiro há que realçar a coragem nele depositada: trata-se de um álbum de estreia, por sinal um dos mais aguardados do ano, e que contraria grande parte daquilo que se espera de um debute vindo de uma promessa ao oferecer-nos uma visão triste, penosa e amargurada do amor, não na sua dita versão "tradicional", mas naquela que nunca chegou a ser, que esteve perto de acontecer e que é igualmente poderosa. O que me leva à sua autenticidade. Era o único disco que Sam Smith poderia ter feito dadas as circunstâncias, e acho que se deve aplaudir o facto de se ter mantido fiel à sua visão e ao seu coração, quando teria sido muito mais fácil e aconselhável ter seguido outra direcção menos depressiva e angustiada. 

O principal problema de In the Lonely Hour prende-se com a execução musical. A voz e a interpretação são imaculadas e é nelas que reside a verdadeira força motriz do disco. O que acontece é que o esqueleto que as suporta nem sempre é robusto o suficiente para torná-las compelativas do início ao fim. As melodias repetem-se, os versos são poderosos mas utilizados com a mesma intenção até à exaustão e as tentativas de contornar o óbvio revelam-se fracassadas. É tudo demasiado previsível e pouco interessante. Pouco digno até de alguém que já mostrou ser capaz de mais em "Latch" e "La La La", bem como nos magníficos "Nirvana" e "Safe with Me", do EP de estreia. Nesse sentido, estou um bocado desiludido com o Sammy. Orgulhoso por ter dito aquilo que queria dizer, mas triste por não ter conseguido fazê-lo de forma mais contundente. Obviamente que é uma estreia sólida que não compromete o futuro brilhante que tem à sua frente e as esperanças nele depositadas, mas que impede que seja colocado, para já, no mesmo patamar de Adele. O importante agora é que consiga deixar a solidão a um canto, ser amado da forma que merece e permitir-se ser feliz. Tudo o resto, virá a seu tempo.

Classificação: 7,4/10

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