REVIEW: Alessia Cara- Know-It-All


O primeiro disco de Alessia Cara pouco acrescenta ao que já tinha ficado patente no EP de estreia - nasceu uma estrela. 

É um fenómeno cada vez mais raro este de vermos um novo artista a editar o seu primeiro álbum no ano em que surge. Para Alessia Cara foi uma questão de 7 meses desde que "Here" se destacou da demais cacofonia e mensagens genéricas com o seu manifesto anti-social de repulsa a festas, até à edição deste disco de estreia. Um passo arrojado, visto que à hora a que estas linhas são escritas o single aguarda ainda a entrada no top 10 da Billboard Hot 100 - à espreita num frustrante 11º lugar - e está em competição directa com novos lançamentos colossais de Justin Bieber, One Direction ou Adele. 

Das duas uma: ou a Def Jam é muito estúpida ou tem confiança de sobra nesta rapariga. Para quem escutou o EP Four Pink Walls, a segunda opção revela-se como certa. Lançado há cerca de três meses, continha um punhado de canções ágeis entre a soul, pop e R&B sustentados por uma escrita astuta e uma voz arrebatadora para alguém que havia recentemente completado 19 anos.

Há fortes razões para acreditar que a celeridade do processo esteja mais relacionado com a necessidade de captar este momento de transição entre o quarto e as covers do YouTube para a primeira liga do mainstream, do que pela urgência da editora de fechar o ano corrente com os proveitos acima da média. Até porque, convenhamos, se a estratégia fosse essa tinha sido muito mal traçada.



É mesmo o corpo do EP que ocupa, e bem, a primeira metade de Know-It-All. Da passagem veloz e efémera da vida e dos "eu bem te disse" dos progenitores que ressoam em "Seventeen", passando pela ideia romântica da vida a dois enquanto fugitivos num "Outlaws" em rendilhado doo-wop (oi, Meghan Trainor), até à inescapável cadência ultra-pop de um "I'm Yours" que versa acerca da rendição, ainda que reticente, a um interesse romântico - garantem um abertura sólida que retém o ouvinte para o que há-de vir.

Pelo meio há o já incontornável "Here", genial no cruzamento entre os samples de "Ike's Rap II" (Isaac Hayes) e "Glory Box" (Portishead) e o comentário social que lhe está subjacente. No topo da primeira metade está o não menos interessante "Four Pink Walls", composição neo soul entre Lauryn Hill e Erykah Badu que reflecte sobre como as paredes lá de casa estão a dar lugar a algo maior, muito desejado mas ainda desconhecido - são, facilmente, os melhores momentos do registo.



É seguro dizer que depois disto o disco não volta a atingir o mesmo patamar de qualidade com os inéditos que restam conhecer: "Wild Things" ficaria melhor com uma roupagem mais acústica; "Stone" resvala para o cancioneiro baladeiro monótono (e vem à boleia do produtor sem se saber muito bem porquê); "Overdose" soa a colagem de sobras de "Seventeen" e "I'm Yours", enquanto "Stars" aponta para o número de piano emotivo à la Birdy com a Disney como pano de fundo. Excepção feita a "Scars To Your Beautiful", algo como um "Pretty Hurts" destinado a menores de 18, talvez a faixa etária mais corrompida pelos ditos padrões de beleza e pela necessidade de lhes corresponder.

Alessia Cara emerge pela mesma via que tornou Lorde numa estrela à escala planetária - a da autenticidade e pensamento inspiracional. Assume-me como porta-voz para uma geração que não se revê nos moldes da sociedade e apresenta uma paleta de influências diversas que podem indicar diferentes direcções futuras. Know-It-All não é o melhor disco de estreia que ouviremos este ano, mas será certamente o melhor disco que Alessia poderia ter feito nesta etapa da sua vida. Que bom será vê-la crescer. 



Classificação: 7,7/10

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