REVIEW: Ellie Goulding- Delirium
Ellie Goulding prometeu um "grande álbum pop", mas Delirium é vazio de ideias e significado - grande, só mesmo na duração e decepção.
Ellie Goulding não editava um longa-duração há três anos. Alguém reparou? Dificilmente. Isto porque desde o último Halcyon a sua popularidade disparou por aí além e não há dia em que não sejamos cercados por uma canção sua. Seja de qualquer uma reedição dos seus dois álbuns - que provaram ser mais bem sucedidos depois de revistos - das muitas que compôs para bandas-sonoras ou uma das inúmeras colaborações a que tem dado voz.
Singles e canções avulso, portanto. Faltava, pois, um disco que capitalizasse todo este crescente sucesso, com canções que justificassem o seu peso e a colocassem definitivamente na liga de astros como Rihanna, Katy Perry ou Taylor Swift. Ao anunciar uma previsível transição para paragens mais mainstream, esperava-se que o fizesse com alguma dignidade, sem perder a sensibilidade e o bom senso que tem mostrado ao longo destes anos. Mas não que se desgraçasse pelo caminho.
Não basta dizer que Delirium é um mau álbum. É também extremamente decepcionante e um valente passo atrás na carreira de uma artista que com ele devia ter dado dois em frente. Feito de retalhos, mensagens ocas e uma série de decisões questionáveis a nível de conteúdo. Não que não fossemos avisados do que aí vinha - é delírio, mesmo.
O alinhamento até começa relativamente bem. "Aftertaste" chega na companhia de um interlúdio com vocalizações operáticas ao melhor estilo místico de Halcyon, alongando-se depois numa amálgama disco pop/funk de cadência tribal que celebra os derradeiros instantes de um romance fugaz, enquanto "Something In the Way You Move" vive da mesma ambiência funk/pop de "Style" mas desinsufla com o refrão insonso; a primeira aberração chega ao som de "Keep On Dancin'", algo como o banger de Major Lazer para musicar o apocalipse zombie, de tão mortiço que é.
Fossem todas as desilusões deste disco como "On My Mind", o contestado 1º single tão Taylor Swift-tentando-ter-o-swag-de-Rihanna, que contém a suposta resposta da cantora a "Don't" de Ed Sheeran (enxovalhamento com enxovalhamento se paga), mas que cumpre na perfeição o seu potencial radiofónico. Surpreendentemente, está entre as melhores faixas. Assim como "Codes" e "Don't Panic" - a primeira arranca a costela electropop/R&B do citado single de avanço, enquanto a segunda recaptura os néons synthpop de "Goodness Gracious" em embrulho 80's. Inescapáveis e engenhosos.
Ainda na lista de consumíveis encontramos um bizarro mas divertidíssimo "We Can't Move to This", certamente o mais próximo que a pop do novo milénio esteve de criar um novo "I Like To Move It", assim como a folktronica acelerada do risonho "Lost and Found", que só teria a ganhar se estivesse mais despida de tanta pirotecnia. Melhor só mesmo "Love Me Like You Do" - repescado à banda sonora daquele filme do tau-tau erótico - que entretanto se tornou na melhor canção do seu percurso. Seria difícil resistir à tentação de o incluir no alinhamento, bem como de lhe criar um gémeo: aí está "Army" a explorar o filão ao máximo, não tão arrebatador mas com uma interpretação esforçada que deve ter levado Ellie bem ao limite.
Deixamos o pior para o fim. Devemos fugir a sete pés de "Around U" - no qual uma pseudo-Charli XCX ingere hélio e vomita purpurinas sob uma batida estranhamente similar a "If You're Never Gonna Move" de Jessie Ware - do gospel disfarçado de house rapsódico de "Holding On for Life" em imitação reles de "Wake Me Up" de Avicii; do pimba-synthpop (inspirado cá no burgo, só pode) presente em "Don't Need Nobody", que procura inspiração no já tão explorado "Show Me Love"; da europop de muito mau gosto de "Devotion" (confere que não há will.i.am por perto) que parece samplar a linha de guitarra de "Let Her Go" e do igualmente repelente "Scream It Out", o típico hino de estádio para inglês ver. Caixote do lixo com eles todos.
Tão generoso e bom é o alinhamento que Ellie Goulding ainda se sentiu compelida a incluir outros 6 temas na edição deluxe, elevando o total do registo para 22 temas. "The Greatest", "Paradise" e "Heal" seriam óptimas substituições de pesos-mortos encontrados na versão standard. Mas se querem ouvi-la a atingir um mínimo histórico é favor escutar "I Do What I Love" - Bollywood nunca foi tão conspurcada. Onde raio Ellie teria a cabeça?
Entendido como produto manufacturado, Delirium cumpre os seus objectivos e é quase certo que cimentará a popularidade da sua autora entre as camadas jovens sub-15 numa inteligente renovação do seu público. Agora, enquanto produto criativo é um rotundo fracasso que, no seu melhor, daria uma boa reedição da agridoce reedição que foi Halcyon Days (2013). Assim sendo, nem vale a pena esperar por uma revisão - é avançar a passos largos para um sucessor. Em matéria pop, esta é mesmo a maior desilusão do ano.
Classificação: 5,9/10
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Singles e canções avulso, portanto. Faltava, pois, um disco que capitalizasse todo este crescente sucesso, com canções que justificassem o seu peso e a colocassem definitivamente na liga de astros como Rihanna, Katy Perry ou Taylor Swift. Ao anunciar uma previsível transição para paragens mais mainstream, esperava-se que o fizesse com alguma dignidade, sem perder a sensibilidade e o bom senso que tem mostrado ao longo destes anos. Mas não que se desgraçasse pelo caminho.
Não basta dizer que Delirium é um mau álbum. É também extremamente decepcionante e um valente passo atrás na carreira de uma artista que com ele devia ter dado dois em frente. Feito de retalhos, mensagens ocas e uma série de decisões questionáveis a nível de conteúdo. Não que não fossemos avisados do que aí vinha - é delírio, mesmo.
O alinhamento até começa relativamente bem. "Aftertaste" chega na companhia de um interlúdio com vocalizações operáticas ao melhor estilo místico de Halcyon, alongando-se depois numa amálgama disco pop/funk de cadência tribal que celebra os derradeiros instantes de um romance fugaz, enquanto "Something In the Way You Move" vive da mesma ambiência funk/pop de "Style" mas desinsufla com o refrão insonso; a primeira aberração chega ao som de "Keep On Dancin'", algo como o banger de Major Lazer para musicar o apocalipse zombie, de tão mortiço que é.
Fossem todas as desilusões deste disco como "On My Mind", o contestado 1º single tão Taylor Swift-tentando-ter-o-swag-de-Rihanna, que contém a suposta resposta da cantora a "Don't" de Ed Sheeran (enxovalhamento com enxovalhamento se paga), mas que cumpre na perfeição o seu potencial radiofónico. Surpreendentemente, está entre as melhores faixas. Assim como "Codes" e "Don't Panic" - a primeira arranca a costela electropop/R&B do citado single de avanço, enquanto a segunda recaptura os néons synthpop de "Goodness Gracious" em embrulho 80's. Inescapáveis e engenhosos.
Ainda na lista de consumíveis encontramos um bizarro mas divertidíssimo "We Can't Move to This", certamente o mais próximo que a pop do novo milénio esteve de criar um novo "I Like To Move It", assim como a folktronica acelerada do risonho "Lost and Found", que só teria a ganhar se estivesse mais despida de tanta pirotecnia. Melhor só mesmo "Love Me Like You Do" - repescado à banda sonora daquele filme do tau-tau erótico - que entretanto se tornou na melhor canção do seu percurso. Seria difícil resistir à tentação de o incluir no alinhamento, bem como de lhe criar um gémeo: aí está "Army" a explorar o filão ao máximo, não tão arrebatador mas com uma interpretação esforçada que deve ter levado Ellie bem ao limite.
Deixamos o pior para o fim. Devemos fugir a sete pés de "Around U" - no qual uma pseudo-Charli XCX ingere hélio e vomita purpurinas sob uma batida estranhamente similar a "If You're Never Gonna Move" de Jessie Ware - do gospel disfarçado de house rapsódico de "Holding On for Life" em imitação reles de "Wake Me Up" de Avicii; do pimba-synthpop (inspirado cá no burgo, só pode) presente em "Don't Need Nobody", que procura inspiração no já tão explorado "Show Me Love"; da europop de muito mau gosto de "Devotion" (confere que não há will.i.am por perto) que parece samplar a linha de guitarra de "Let Her Go" e do igualmente repelente "Scream It Out", o típico hino de estádio para inglês ver. Caixote do lixo com eles todos.
Tão generoso e bom é o alinhamento que Ellie Goulding ainda se sentiu compelida a incluir outros 6 temas na edição deluxe, elevando o total do registo para 22 temas. "The Greatest", "Paradise" e "Heal" seriam óptimas substituições de pesos-mortos encontrados na versão standard. Mas se querem ouvi-la a atingir um mínimo histórico é favor escutar "I Do What I Love" - Bollywood nunca foi tão conspurcada. Onde raio Ellie teria a cabeça?
Entendido como produto manufacturado, Delirium cumpre os seus objectivos e é quase certo que cimentará a popularidade da sua autora entre as camadas jovens sub-15 numa inteligente renovação do seu público. Agora, enquanto produto criativo é um rotundo fracasso que, no seu melhor, daria uma boa reedição da agridoce reedição que foi Halcyon Days (2013). Assim sendo, nem vale a pena esperar por uma revisão - é avançar a passos largos para um sucessor. Em matéria pop, esta é mesmo a maior desilusão do ano.
Classificação: 5,9/10
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O álbum não é assim tão mau, mas longe da qualidade do seu novo álbum de estreia. A maior surpresa foi o da Demi Lovato. E o da Leona Lewis também está muito bom.
ResponderEliminar5,9 em 10 não indica que seja um mau álbum, mas para os padrões de Ellie Goulding é francamente mau. Lights, Bright Lights, Halcyon e Halcyon Days batem-no aos pontos. Depois não ajuda nada o facto de ter 16 temas - desses, só metade é aceitável. E mesmo essa metade não estaria à altura do seu pior registo (Halcyon Days). Conseguirá tirar daqui alguns singles decentes, mas em termos de vendas e qualidade fica muito aquém do esperado.
EliminarO da Demi só ouvi coisas soltas e o da Leona espero falar em breve aqui no blog!
Sinceramente, nunca gostei muito da Ellie Goulding. Gostei, e muito até, da primeira canção que ouvi dela, "Lights", mas a maior parte que ouvi dela desde então pareceu-me uma versão pior dessa canção.
ResponderEliminarNo entanto, as canções ainda eram audíveis. Estas aqui são sinónimo de mudar automaticamente de canal/estação.
"Lights" é um marco na sua carreira. E acho muito curioso que a canção tenha encontrado nos EUA o sucesso que não teve no UK.
EliminarDevias experimentar ouvir alguns temas do primeiro disco, são todos num registo de folk e electronica (dito folktronica) que te poderá agradar mais. O segundo também é bastante aceitável, com "Anything Could Happen", "Only You", "Hanging On" e "My Blood" a merecer destaque.
Só neste terceiro é que verga definitivamente para o lado mainstream e a coisa não lhe corre nada bem. Mas, mesmo no meio do lixo, ainda se encontram momentos decentes.