Elegia aos anos 10

Escrevo estas linhas no último dia da década, depois de ter terminado a jornada mais ambiciosa a que alguma vez me propus. E, wow, nem acredito que a consegui levar até ao fim - que sensação de alívio e missão cumprida! Foram três listas primordiais espalhadas em 350 posições, escritas e produzidas ao longo dos últimos três meses. Sinto-me naturalmente feliz, mas exausto. A sério que não me apanham noutra.

Por outro lado, não acredito que a década chegou ao fim. Nem sequer consigo conceber o início de uma nova. Imaginar que Britney, Christina, Justin Timberlake, Katy Perry ou Lady Gaga sejam ainda mais irrelevantes, Beyoncé ou Rihanna já não sejam forças supremas do universo, ou que Ariana e Taylor não sejam mais indispensáveis na configuração pop. Como é que podemos partir para uma nova década sem esquecer tudo o que ficou para trás? Tão cedo não serei capaz de fazer reset.

Tinha acabado de completar dezoito anos quando esta década começou e assumi o compromisso de ser o narrador mais fiel possível daquilo que se passaria no mainstream, e acho que fiz um muito bom trabalho em documentá-lo. O blogue tinha justamente começado e crescemos em uníssono na tentativa de compreender o mundo que nos rodeava. Elaborei peças incríveis, cheguei aos 3000 posts (!), ultrapassei a barreira das 200 mil visualizações e fiz as coisas exactamente da forma que planeava, com o conhecimento progressivo e as ferramentas necessárias. Estou verdadeiramente grato por tudo aquilo que alcancei.

Mas, pelo meio, esqueci-me um bocadinho de mim. Os supostos melhores anos da minha vida passaram-me um nadinha ao lado e sinto-me terrivelmente frustrado por isso. Nunca me senti prisioneiro do blogue e do trabalho que aqui desenvolvi, mas questiono-me se a minha missão não será mais do que traduzir a cultura pop e ser o melhor escriba-melómano possível? Há um mundo lá fora que se está a perder, um tempo que é meu e que me está a ser roubado, e que quero agarrar/recuperar antes que seja demasiado tarde. 

Por isso, nos anos 20 vou mudar o foco para mim - ou MEEE-EEHH-EEEEH! como Taylor cantaria - e tentar partir em busca da minha melhor versão possível, longe daquilo em que mais investi nos últimos onze anos. Este será, pois, o meu último post em vários meses. Não é uma decisão fácil, mas preciso de passar por isto para reflectir, reformular e regenerar para melhor compreender o caminho a seguir.

Quero acreditar que não é um ponto final, apesar de não idealizar um epílogo melhor, com os posts mais importantes que alguma vez escrevi. Sinto e sei que o escriba que há em mim vai tentar libertar-se assim que Rihanna e Beyoncé editarem novos discos, mas isto ultrapassa qualquer uma. Um brinde a uma nova década, e às infinitas possibilidades que esta acarreta. Que a música possa continuar a ser o coração das nossas almas. Até ao meu regresso, sejam felizes.


I let go of the coat but the coat won't let go of me
In any case please let me know if there's more I can give you
If nothing comes of it, then just know I am grateful

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